Interpretar a Amata, no espetáculo Metamorfismo ( musical do Shalom São Paulo, baseado na obra Castelo Interior, de Santa Teresa D’Avila) foi um grande desafio pessoal. Uma personagem que me colocou de frente, muitas vezes, com meus próprios conflitos internos e tocou naquilo tudo que estava escondido no mais íntimo do meu coração e que eu jamais deixaria ninguém ver (até ter que mostrar para dezenas de pessoas em cima de um palco, rs).
É indescritível a sensação de nudez que essa experiência me proporcionou, uma nudez espiritual, psicológica, social, enfim, em todos os âmbitos que se possa imaginar. Assim eu estive, enquanto Amata, atrás de uma personagem que por tantas vezes deixava escapar as minhas próprias fraquezas, medos, preocupações e dores. Foi como tirar a casca grossa de uma ferida que eu teimava em deixar ali do jeito que estava.
Durante a produção do musical, desde o meu primeiro contato com o roteiro e os primeiros ensaios, fiquei muito assustada com o quanto aquela personagem me confrontava, cheguei a me questionar se eu realmente teria estômago para “interpretar” algo que, em parte, eu estava vivenciando de verdade (e uma parte bem significante, diga-se de passagem).
A forma como essa personagem precisou amadurecer repentinamente, deixar a menina imatura para trás e arcar com grandes responsabilidades, o laço dela com a figura paterna, a sensação de escuro e abandono, o medo das dores de podas e mudanças, a resistência ao novo… MEU DEUS! Como isso cutucou as minhas feridas!
Mas, ao mesmo tempo em que esse turbilhão se passava dentro da Brenda enquanto pessoa, a coragem, pureza e docilidade da Amata e seu amadurecimento ao longo da história parece que deu sentido ao que eu estava vivendo. É como se essa personagem tivesse me ensinado a andar, a enfrentar meus desafios e aceitar as podas a que o amor nos submete.
Viver a Amata fez com que eu me reconhecesse como essa alma amada, que minha história é única, que todos os dias eu enfrento os desafios do meu castelo interior e que assim será a minha vida: um processo de descobertas, lutas, alegrias e dores para que eu chegue até o meu Amado e perceba que o tempo todo era o amor dEle a me sondar e conduzir.
Brenda Diniz