Shalom

Bastidores de uma lanchonete em 9 de julho de 1982

Neste dia do Hambúrguer, fazemos memória de uma das pioneiras da Comunidade Católica Shalom, que comenta como foi o início da Lanchonete Shalom82.

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O Comshalom traz hoje o relato de uma das primeiras integrantes da Comunidade Católica Shalom. Mirna Germano, que foi uma das 12 pessoas que deram início a Comunidade. Ela, que agora é Enfermeira com dois cursos avançados nos Estados Unidos, foi a primeira pessoa responsável pelo setor da Providência no Shalom.

Ela trabalhou ativamente na montagem dos dois primeiros Centros: o Centro Católico de Evangelização Shalom da Rua Cel. Jucá e o segundo, Centro no Shalom da Paz. Mirna, se empenhou especialmente na aquisições das mesas, cadeiras, panelas, filtros e outra coisas das lanchonetes. Trabalhava diretamente com a gestora financeira, Luiza Façanha, em 1982. Também foi uma das cinco consagradas, juntamente com a Goretti Queiroz, Duca, Debrinha e Katia, na primeira casa da Comunidade de Aliança Residencial. Devido a algumas situações, após 5 anos no Shalom, Mirna se afastou da Comunidade, mantendo sempre contato com alguns membros. 

Confira trechos da entrevista: 

Eu passei 30 anos distante do Shalom, e um dia disse para o Moysés e a Emmir: “tem 30 anos que me distanciei do Shalom, e como Deus me plantou em Nova York, sinto que agora Deus me chama de volta à Comunidade e eu volto como cidadã americana, com um desejo no coração de expandir a Comunidade em Nova York. Me sinto, inclusive, responsável por isso. ”

O que você lembra da primeira lanchonete? As dificuldades, as providências?

Foi interessante, porque em uma de minhas mudanças, encontrei meu diário de quando eu estava na fundação do Shalom. Fotos, fatos e coisas que aconteceram exatamente no início do primeiro Centro. E umas das coisas que lembro é das 12 pessoas que fundaram a Comunidade, no diário, tem uma observação escrita no dia 16/05/82, quando estávamos preparando para abrir a primeira casa, a primeira lanchonete.

“O Centro de Evangelização Shalom é uma obra do Espírito Santo na nossa RCC. Somos 12 jovens unidos e vivendo o mesmo objetivo: o de montar este Centro, para com muito amor, divulgar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Uma das grandes loucuras que fizemos foi comprar as mesas e cadeiras necessárias para a lanchonete. Fechando o negócio por 120 mil cruzeiros em três prestações. Não foi caro, mas para pobres e simples estudantes era coisa de louco, absurdo. Confiantes que Jesus ia cumprir a sua Palavra, o Pai do céu trará o Espírito Santo aos que o pedirem, nos abandonamos em seus braços e dissemos para os nossos corações: “com o Espírito entre nós tudo se realizará, Deus dará o sustento e é Ele quem irá fazer tudo por nós”. É emocionante poder sentir e ver esse Deus que para muitos não passa de um ser superior, que deve ser respeitado ou aquele que está acima de nós nos julgando, ou aquele que muitos dizem que nem existe, cumprir as palavras que muitos dizem que foram escritas há 2000 anos”, completou Mirna. 

Ainda em meus escritos, uma das coisas que digo aqui é que no início, nós dávamos passos muito maiores que as nossas pernas, passos de fé e depois saíamos correndo atrás do dinheiro (risos). Principalmente quando chegava o dia de pagar o aluguel, e a gente não tinha o dinheiro… bom, eu era a pessoa da cara de pau, de chegar e pedir. Então, a gente foi levando. Um dia eu tive que pagar. Quando compramos as cadeiras em três prestações, coincidiu que era perto do pagamento do aluguel, então a gente optou primeiro por pagar as cadeiras, porque depois de três já estava tudo certo e depois a gente tinha que pagar o aluguel. Então, era sempre assim… eu que batia nas portas.

Tem um relato aqui que é muito interessante:

“Hoje eu fui pedir à dona Rita, da Capela Santa Filomena, para recolher para o Shalom, a coleta da missa das 17:30h. Falei “dona Rita, amanhã temos que pagar uma prestação de 38 mil cruzeiros e não temos nenhum tostão”. Ela respondeu: “pode ficar com a coleta, que Deus é bom”. Consegui recolher $4.202 mil cruzeiros. No final ela veio olhar quanto apurei e disse: “Como é que você vai arranjar o resto do dinheiro? ”, eu falei com muita certeza: “Deus manda, não nos preocupamos”. Depois da missa fui à casa da tia Nilda. Conversamos, brincamos e ela disse: “Mirnoca, amanhã você vai ter que se virar para todos os lados para conseguir este dinheiro” e eu disse: “que nada! Deus vai arranjar” e foi incrível a surpresa que tive quando cheguei em casa e (essa parte eu vou passar rápido), mas aqui tá dizendo, que nesse período, porque a minha mãe era radicalmente contra o Shalom, radicalmente, mas nesse dia o meu pai disse que, quando eu precisasse de dinheiro ele daria. A mãe do Moysés, a “tia Nair”, e o Sérgio Nogueira, esposo da Emmir, também nos ajudaram a pagar algumas prestações. Em outra ocasião, tem vários escritos, foi o dinheiro dado por tantas pessoas sue acreditavam em nós. Tem várias coisas que eu gostaria de recontar sobre a fundação do Shalom, dos primeiros tijolos, quando abrimos os buracos da fundação, quando começamos a plantar os alicerces…

Na inauguração estava Dom Aloisio, como foi este momento?

Dom Aloísio Lorschieder, marcou presença,  mas eu estava muito ocupada com a lanchonete. Eu percebo que muitos chamavam a primeira casa somente da “fundação da primeira lanchonete”. Na verdade eu considero que aquela casa foi o primeiro Centro Shalom. Para mim foi onde o sonho do Moysés se concretizou. A lanchonete era somente a isca, mas aquela casa foi verdadeiramente o primeiro Centro Católico de Evangelização Shalom. Portanto, tínhamos missas todos os domingos, salas para palestras, encontros pessoais e grupos de orações. Exatamente como ele sonhou. Rapidamente começou a ficar muito apertado e foi aí que nós passamos para a segunda casa. Ele pediu um suco, mas tinha tanta gente na casa, que infelizmente, o nosso bispo esperou o pedido por três anos.

E a marca do Shalom? Foi um pintor que teve a ideia, alguém que desenhou?

O logotipo foi ideia do Moysés que solicitou a vários artistas da época, tipo um concurso para escolher o logotipo que ia ganhar. Era assim que chamava na época. Foi uma decisão comunitária do grupo inicial. Mas não foi a minha preferida. Foi uma campanha que foi lançada para toda a cidade mas a escolha final foi do Moysés.

Qual era a sua idade na época? 

Eu tinha 16-17 anos quando eu comecei a me engajar com a RCC, na época da fundação eu tinha 19 anos mas quando entrei mesmo na primeira Comunidade de Aliança Residencial eu já tinha uns 21.

Ouça:

“Se um dia alguém me pedisse para testemunhar alguma coisa eu falaria do Shalom. A obra mais linda e mais cheia das graças de Deus. Algo que me deu a oportunidade mil vezes de crescer na fé e aprender a confiar no Senhor. Aleluia, Senhor! Porque você me acolheu para fazer parte do Shalom.

Esta última semana foi maravilhosa. Incrível como Deus mostrou-se presente. Passamos por muitas dificuldades e crises, algumas que até se colocou em jogo o fim da Obra Shalom. Falou-se: “se continuar assim, se não assumirmos no nosso coração, iremos por fim no trabalho. Sabemos que Deus não quer isso, mas como continuar uma obra de Deus brincando? ”(Eu sempre fui insistente nesse sentido, porque eu era muito comprometida e algumas pessoas não eram assim totalmente.) Eu não quero julgar ninguém, mas essas dificuldades foram muito grandes. Foram dificuldades permitidas por Deus. Ele queria pôr sobre nós cobertores muito grossos. Tivemos que suportar, porém, tempestades de gelo. Por amor a nós o Senhor nos deu tempestades de gelo, que tornaram quase que instrumentos de desilusões embutidos de desespero.

Um dia falei que planejar é a melhor coisa, entregar é o essencial. Realmente afirmo isso por viver. Quando fazemos mil planos, quando elaboramos na nossa cabeça as coisas dos tempos futuros, Deus mostra que só Ele pode prever o futuro e brincar com ele. O Shalom já era para ter sido aberto há tempos. Deus, porém, quis que isso acontecesse apenas este mês, “espero”. 

O último fato ocorrido foi marcante. Na quarta-feira precisávamos de 38 mil cruzeiros, ou para pagar as mesas e cadeiras (última prestação). E como não tínhamos mais dinheiro, pedi a Luísa o dinheiro do aluguel que deveria ser entregue na quinta-feira. Falei: “Lu, vamos confiar Nele”. “Tudo bem”, falou a Lu. Quando estávamos na oração da reunião da quarta, Jesus mandou nos despojar das nossas joias. Resolvemos unanimemente entregar tudo o que tínhamos para ser postos na Caixa Econômica. Nunca imaginei que estivesse tão desprendida. 

No outro dia, Deus começou a retribuir a confiança que depositamos Nele. Fui resolver coisas do Shalom. Arranjei o bombeiro para sábado, o chaveiro para consertar o portão, levei o fogão para o conserto, e quando cheguei lá, conhecia o dono da firma e falei do nosso trabalho. Ele disse que queria nos ajudar. Recebi um dos dinheiros do aluguel. Quanta coisa resolvida! Moysés me falou das graças de Deus: “Mirna, foi incrível! Mamãe nos emprestou 46 mil cruzeiros do aluguel. Sergio nos emprestou 30 para pagarmos quando pudermos”. Fomos na Kibon, conseguimos o freezer, compramos todo o material necessário para o sorvete, além de copos de sucos e decoração no centro, aleluia! 

Ontem falei com Jossié, sábado ele irá dar umas sugestões da pintura do Shalom. Hoje fui a Coca-Cola, terça o homem iria olhar o ponto e nos dará outro freezer e a luminária. Glória a Deus!”

Como você vê a Comunidade hoje?

Tudo é um milagre, tudo o que acontece hoje é um milagre. O que a gente tem presente hoje é algo inimaginável comparado ao que a gente tinha quando éramos somente 12.  Realmente, uma coisa que me orgulho é que eu trouxe uma sementinha para a Comunidade e agora temos florestas de pessoas gerando novas sementes.

Confirmo com a Emmir que Deus me usou como providência da Obra. Ela disse: “você é a primeira pessoa da providência na obra”. O meu trabalho foi a providência.

Eu não era só no ministério da providência, tinha também a Jaqueline Matias, fazíamos muitas campanhas internas para Shalom. A primeira Kombi do Shalom, todas as primeiras coisas foram feitas através de nós, porque era um dos nossos ministérios além da lanchonete, que eu tomava conta da parte financeira.

A Emmir falou: “Mirna, você nunca saiu” e é verdade, eu nunca sai, mas eu voltei com aquelas roupas sujas. Voltei para a Comunidade em Boston, fiz novamente o meu seminário de vida no Espírito Santo, estou conectada com a Comunidade de lá. Eu

Mirna Germano e padre Cristiano Pinheiro

 disse para o Moysés que Deus está com pressa!

Aproveito para agradecer a vocês, porque sem os alicerces e sem a presença de vocês essa Comunidade não existiria. Eu quero agradecer a fidelidade, a perseverança também do Moysés, da Emmir e dos primeiros membros e até dizer que eu sou muito orgulhosa por fazer parte desta história e eu quero que Deus me reutilize da forma que Ele quiser, de uma dimensão diferente.

Na eternidade não existe tempo, então 30 anos numa eternidade não é nada.

 

Hoje em cada casa de missão, é costume encontrar uma lanchonetes com nomes tipicamente “shalomitas”. Uma inspiração de Deus, que se perpetua por quase 40 anos de história. 


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