Institucional

Beleza e Castidade

comshalom
castidade_A Primavera_Sandro Botticelli
“A Primavera”, de Sandro Botticelli

Vestir-se bem não é apenas uma regra de um chato código de conduta necessário para que sejamos aceitas entre cristãos. É bem mais do que isso. A castidade é essencial para nós.

É preciso que se repita isso porque não acreditamos verdadeiramente nessa afirmação. Eu não acreditei por muito tempo. Achamos bonito uma garota achar que pra ser bela precisa mostrar o corpo. Julgamos que aquilo não é para nós, mas se permitissem, seríamos as primeiras a ceder ao modelito “curtinho”. Mas e aí? É inofensivo?

Eu já me vesti assim, eu já quis o que essa roupa representa. Os olhares não são só uma promessa, eles realmente vêm e nos desnudam (não que se precise de muito trabalho). De início, pode não parecer terrível. É divertido, sensual, engraçado, animador! É o canto de uma sereia. Tampe os seus ouvidos e você enxergará a dor dos olhos de quem a olha e o silêncio do vazio que está em você.

Não dá para esquecer aquela passagem que compara Deus a um pai que achou uma criança perdida no lixo e a transformou em uma linda mulher. A passagem é dolorosa, a evitamos como evitamos um mendigo incômodo que nos pede que salvemo-lo no meio de nosso agitado dia. Ouvir Deus lamentando o destino de sua filha amada que se entregou aos homens de um quartel é terrível, tira-nos do nosso confortável campo de licitudes infinitas.

Deus diz para a filha que a fez, que lhe deu perfumes, que lhe enfeitou com jóias e véus. Diz a ela que quando a achou, sofria a menina de desnutrição e que hoje o rubor de suas maçãs do rosto encantam todos que para ela olham. Os dons foram dados, a beleza concedida. E para quê? Não devemos honrá-la? Ele nos fez belas para que fôssemos felizes.

O que estamos fazendo?

Nós fomos salvas. Salvas do mais terrível fim, da mais terrível solidão. Deus nos achou, fez-nos fortes, amou-nos, deu-nos dignidade. Assim como nós, muitos esperam para ser salvos, para isso Deus nos concedeu dons tão belos. É como se Ele nos dissesse: “Filha amada, tudo eu te dei, a tua beleza, teu sorriso, teu corpo, tua saúde… Quero-te, desejo-te, tudo farei para que tu estejas comigo, traga-me meus outros filhos, usa a tua beleza para que o mundo me veja ao olhar para ti.” E o que fazemos? Queremos para nós os olhares.

Levar uma pessoa para o pecado não é uma coisa pequena. Somos a geração do “deixa disso”, para nós não existem conseqüências e as palavras duras são proibidas. Mas essa verdade não pode ser escondida. Esconderam de mim por um tempo, não acho que tenha me feito muito bem. Virar a cabeça de um homem que luta terríveis batalhas para ser fiel a Deus não é algo muito digno. Depois que passei a conviver com jovens católicos conheci suas lutas. Por vezes, eles parecem se digladiar. O desejo de ser fiel e de amar a Deus é contraposto por um desejo manipulado, potencializado e vendido como solução para toda dor e solidão. Neles existe um turbilhão de coisas para serem ordenadas. Essa passagem do animal para o homem não me parece ser um duelo fácil de ser vencido. Depois de perceber jovens lutando, não querer ajudá-los soa como sadismo.

É obvio que as pernas, o colo, os seios, as coxas, não são inofensivos. Sabemos o poder que temos, sabemos o quão belas somos, sabemos que somos tudo o que eles desejam, nós não somos doces meninas ingênuas e bobas. Nenhuma de nós é, não há exceção.

Deus foi bom, é dele o mérito da beleza. Quando finalmente eu e o amor da minha vida formos um, então toda a beleza poderá ser derramada na tarefa de unir um casal que se ama. Meu corpo não estará levando quem eu amo para a morte, mas para o céu. Quero que seja assim.

Escolhemos o mais difícil, o caminho mais demorado, mas eu juro, nunca vi falhar. Sejamos dignas, o mundo precisa da nossa beleza. Talvez não sejamos tão estonteantes como as outras meninas ou tão bem vestidas como elas. Talvez pareçamos desengonçadas, meio gordas ou magras demais por vestir tantas roupas, mas valerá à pena: nossa vida será pautada pelo amor, pela caridade e pela fidelidade a Deus. Não será “meu corpo para mim”, mas “meu corpo para o outro”, não será “minha felicidade para mim”, mas “minha felicidade para o outro” ou, melhor, para a felicidade do outro. Sejamos fortes, esse é o caminho. Não há erro, acredito que o mundo precisa de nós, não vamos desistir.

 

Marília Bitencourt C. Calou


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.