Há 25 anos um filme adaptado das histórias em quadrinhos fazia muito sucesso nos cinemas. Tratava-se do primeiro blockbuster estrelado por Jim Carrey e que viria a alavancar sua carreira como ator e comediante hollywoodiano.
Quem tem mais de trinta anos já deve saber de qual filme estou falando: “O Máskara”.
Não, você não entrou sem querer no blog Projeções de fé, continua no Bendita Leitura mesmo.
Ocorre que este personagem, Stanley Ipkiss, era um sujeito tímido, introspectivo e até um tanto frustrado com sua própria realidade de vida, mas ao encontrar uma certa máscara africana entranhada de magia negra e experimentá-la, vê liberada em si uma força irreverente e extremamente inconsequente, que o leva a realizar insanamente tudo aquilo que tinha vontade, mas nunca teve coragem para concretizar.
À primeira vista, talvez esta história possa soar como algo improvável e totalmente fictício, mas, pensando bem, não é exatamente essa a proposta da maior parte das festas e movimentos realizados no Carnaval?
De repente, aquele gari, o Roberto, que passa 362 dias do ano indo e vindo pelas ruas da sua cidade assobiando, varrendo e recolhendo lixo anonimamente, tem a possibilidade de se transformar em um imperador romano, um presidente da república ou até um famoso jogador de futebol, isto a depender simplesmente da fantasia que decide usar nos três dias de Carnaval, e sair pelas mesmas ruas que varreu o ano inteiro (e que estarão fatalmente imundas!) fazendo tudo o que os seus instintos mais baixos lhe ordenarem.
Não teria a sua máscara de Calígula, Trump ou Neymar a mesma finalidade daquela máscara vudu utilizada pelo pobre Stanley Ipkiss? A diferença está somente como cada máscara domina quem: a “máscara do Máskara” dominava Stanley pela magia; a máscara do Roberto domina-o pela desordem afetiva e moral.
E essa cantilena toda do início do texto é para dizer que é exatamente sobre máscaras que a dica do livro de hoje se trata, mas não diretamente sobre máscaras exteriores, mas sobre as máscaras interiores que nos fazem viver longe da verdade e da autenticidade para as quais fomos criados.
No ótimo e altamente recomendável livro Vidas sinceras, o bispo Rafael Llano Cifuentes nos ensina que a máscara é muito mais fácil de elaborar do que uma personalidade verdadeira. Aquela se faz de papelão; esta outra, de lutas e esforços, de sangue e de lágrimas.
O bispo nos conta a história da guerra interior travada pelo homem que luta o ferrenho combate entre as suas duas inclinações: à grandeza e à perfeição para as quais nasceu e, ao mesmo tempo, à preguiça e ao comodismo que são consequências do pecado original.
Partindo do exemplo da alegria efêmera dos dias de Carnaval, onde qualquer um pode aparentar ser o que quiser, Cifuentes explica que é muito mais fácil optar pela máscara de papelão e fazer da vida um Carnaval, no qual podemos vestir várias fantasias de leões indomáveis, camaleões oscilantes, avestruzes covardes, lobos vorazes, pavões orgulhosos ou raposas invejosas, dependendo de qual vício ou má inclinação deixamos tomar posse de nosso coração e dirigir as nossas ações cotidianas.
O grande problema desse tipo de comportamento é: todo Carnaval irremediavelmente tem seu fim. Em uma quarta-feira qualquer, de repente, tudo desaparece e só nos resta olhar de frente todos os nossos defeitos e erros, acostumados que estamos em viver a lei do menor esforço e a teoria do tanto faz, também conhecida como relativismo, um dos piores males destes tempos.
E quando se está cansado de viver assim? Um cansaço no fundo da alma, mas que se apresenta tipo a ressaca que bate ao final de três ou quatro dias vazios de sentido e de verdade, e cheios de bebidas, falsas expectativas, drogas e desordens afetivas dos blocos, cordões, festas, shows, bailes e praias lotados de corpos e vazios de almas?
Não resta mais nada, a não ser a libertadora busca da verdade, sair das trevas para a luz, buscando primeiro viver a sinceridade interior consigo mesmo e com Deus, curando o coração de ambiguidades e mentalidades passageiras, que não trazem paz nem felicidade, mas que apenas iludem os que trilham seus caminhos. Nessa hora, mais feliz será o Roberto, que entende de limpeza porque é gari de profissão; ele já está acostumado a varrer todo tipo de sujeira e vai ter a possibilidade de limpar, pela graça de Deus, o seu próprio interior.
O primeiro passo é querer, dispor a vida para que Deus aja e destrua todas as máscaras colecionadas durante a história pessoal, e concretamente trocar a vivência de mais um carnaval como o que o iludido Roberto viveu por trás de sua máscara, para viver como você mesmo, com toda a autenticidade e liberdade que Deus te deu.
O segundo passo pode ser, sem dúvida, aproveitar o feriado do Carnaval para buscar um retiro de espiritualidade tipo o Renascer ou o Reviver, e para a leitura deste pequeno livro de Rafael Cifuentes, que seguramente ajudará a assumir em si uma vida muito mais sincera e feliz, que não acabará em nenhuma quarta-feira, mas que perdurará para toda a eternidade.
Ficha de Leitura
Autor: Rafael Llano Cifuentes
Edição 3º
Páginas 88
Editora Quadrante
Boa leitura!
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