A grande novidade que trazemos nesta indicação de leituras é que o Centro de Estudos Imago Dei e a editora TOBI Press publicaram recentemente em Língua portuguesa um texto inédito do Papa João Paulo II. Com o título Deus é a Beleza: um retiro sobre o Evangelho e a arte, o livro contém meditações de um retiro pregado por ele quando era Bispo Auxiliar em Cracóvia, na Polônia. Trata-se de exercícios espirituais para artistas dirigidos pelo então Mons. Karol Wojtyla durante a Semana Santa de 1962.
Na ocasião do retiro, buscando estabelecer uma relação mais clara entre o Evangelho e a Arte, o Monsenhor Wojtyla refletiu a respeito de Deus como aquele que é Belo em sentido pleno e absoluto da palavra. O caminho reflexivo proposto evoca o fato de que, na Antiguidade, os filósofos compreenderam um vínculo estreito entre a beleza e o bem, entre o belo e o bom. Com efeito, os pensadores gregos expressaram esse vínculo unindo os dois conceitos no termo kalokagathia (beleza-bondade). Esta relação é retomada mais tarde na Carta do Papa João Paulo II aos artistas (CA): “A relação entre o bom e belo suscita sugestivas reflexões. A beleza é em certo sentido a expressão visível do bem, assim como o bem é a condição metafísica da beleza” (CA, 3).
Indo ao Evangelho, mais especificamente no diálogo entre Jesus e o Jovem rico, após este se dirigir a Jesus como “Bom Mestre”, o Senhor responde dizendo que “ninguém é bom senão só Deus” (cf. Mc 10, 18; Lc 18, 19). O então Bispo auxiliar de Cracóvia explica que o intuito de Jesus não é negar o caráter de bom que de certo modo se atribui à criação, mas sublinhar e manifestar que o Bem, no sentido pleno e absoluto da Palavra, é somente Deus. Assim, “à luz do que sabemos entre a beleza e a sua bondade, se pode dizer que Cristo, quando respondeu ao jovem com essas surpreendentes palavras, […] na realidade respondeu com a versão: ‘ninguém é belo senão só Deus”.
De maneira ampla aí podemos contemplar o vínculo entre o Evangelho e a Arte, certo que descobrimos o vínculo entre o Evangelho e a Beleza. Este vínculo se encontra em toda a criação e na natureza – posto que, frente a sua obra, “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (Gn 1, 31) –, na arte e nas obras do homem – pois “no homem artífice se reflete a imagem do Criador” (CA, 1).
Uma vez que o homem busca beleza em suas obras, não é difícil deduzir o motivo pelo qual, abundantemente, artistas em diversas épocas buscaram e encontraram inspiração no Evangelho: “a verdade é que o Deus do Evangelho é Beleza”, afirma Wojtyla. O Deus que apareceu e conviveu, falou e agiu é Beleza. No entanto, esclarece, “o Deus do Evangelho é necessário para o artista não somente como fonte de inspiração – criativa e artística. O Deus do Evangelho é muito mais necessário ao artista enquanto homem”.
É justamente aqui que se funda o seu propósito de um retiro pregado para artistas: uma vez que o artista é humano, necessita de um direcionamento espiritual que o ajude a amadurecer humanamente, levando em conta quem ele é e sua vocação pessoal para servir, sendo a Beleza o que tem para oferecer.
A Beleza oferecida no serviço do artista cristão se manifesta de maneira particular através do talento artístico e assim é objeto de contemplação, fonte de inspiração, fruto de seu espírito, obra de suas mãos e caminho de realização pessoal, isto é, caminho de santificação.
Os exercícios foram dirigidos em cinco meditações. Esta reflexão contemplativa acerca de Deus que é Beleza constitui a primeira meditação e é ponto de partida para outras quatro meditações que se voltam para a formação moral do artista à luz do Evangelho. Assim, nas meditações seguintes, encontramos sobre a relevância da reformação da consciência estética e da consciência moral e também sobre a vivência dos sacrifício, das virtudes, dos Mandamentos, das Bem-aventuranças, do amor, da vida sacramental e da vida de oração para o artista.
As meditações – sobre esses elementos indispensáveis para a vida do artista enquanto homem – são conduzidas de maneira clara, simples e envolvente pelo pastor que trazia em si, por experiência própria, a convicção de que os homens e as mulheres, que receberam de Deus o dom do talento artístico, portam também a missão e a responsabilidade de “contribuir à vida e ao renascimento do povo” (CA, 4), certo que a criação inteira “espera a revelação dos filhos de Deus também mediante a arte e na arte” (CA, 14).
Boa leitura!
FICHA TÉCNICA
Deus é a Beleza: um retiro sobre o Evangelho e a arte
Autor: Karol Wojtyla/Papa João Paulo II
Páginas: 257
Editora: Centro de Estudos Imago Dei e TOBI Press
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Emanuel Nilo da Silva Aires