A dica de leitura de hoje é de um gênero literário diferente. Dentre as quase 150 indicações do Bendita Leitura, esta é a primeira vez que apresentamos uma peça de teatro. Trata-se do ótimo Diálogos das Carmelitas, escrito por Georges Bernanos, romancista, jornalista e conferencista francês que viveu entre os anos de 1938 a 1945 no Brasil, na cidade de Barbacena-MG.
Bernanos era um católico convicto, casado com uma parente de Santa Joana D’Arc. Desse modo, traduziu sua fé por meio de suas obras, que, apesar de um certo tom melancólico, eram carregadas de esperança e de uma mensagem clara acerca da santidade, tal como Diário de um pároco na aldeia.
Quanto ao livro Diálogos das Carmelitas, é uma adaptação para o teatro do excelente livro da baronesa alemã Gertrud von Le Fort, intitulado A última ao cadafalso, que conta a história da execução das dezesseis carmelitas de Compiègne, durante a Revolução Francesa, já indicado por esta coluna literária.
O ponto alto do livro, portanto, como o próprio título indica, são os diálogos travados principalmente pela priora, a subpriora e Branca de la Force, postulante a carmelita que se vê entre o desejo de permanecer no carmelo e o perigo iminente de perder a própria vida.
Como uma pequena “amostra” dos que podemos encontrar neste livro, deixamos aqui um dos mais marcantes diálogos entre Blanca e sua priora:
BRANCA: – Deve ser doce, Madre, estar tão adiantada na vida de desprendimento que não se pode mais voltar atrás.
PRIORA: –Minha pobre criança, o hábito acaba nos desprendendo de tudo. Mas de que adianta uma religiosa ser desprendida de tudo se não for desprendida de si mesma, ou seja, de seu próprio desprendimento?
Silêncio.
Vejo que os rigores da nossa Regra não lhe amedrontam!…
BRANCA: –Eles me atraem!
PRIORA: –Sim, sim, é uma alma generosa.
Silêncio.
Lembre-se, porém, que as obrigações aparentemente mais leves são muitas vezes, na prática, as mais penosas. Transpomos uma montanha e tropeçamos numa pedrinha.
BRANCA (vivamente): –Oh, Madre! Há uma coisa que temo bem mais do que esses pequenos sacrifícios…
Para, contida.
PRIORA: –É mesmo? E quais são esses belos motivos de medo?
BRANCA: –Reverenda Madre, não saberia… seria difícil… assim… neste momento… Mas, com sua permissão, pensarei sobre isso e responderei depois…
PRIORA: –Como quiser… Mas responderá agora se lhe perguntar qual é, no seu entender, a primeira obrigação de uma carmelita?
BRANCA: –Vencer a natureza.
PRIORA: –Muito bom. Vencer e não forçar, a distinção tem consequências. Querendo forçar a natureza, só se consegue ficar pouco natural, e Deus não pede a suas filhas que representem uma comédia todo dia, mas que lhe sirvam. Uma boa serva está sempre onde deve estar e jamais se deixa notar…
Boa leitura!
FICHA TÉCNICA:
Autor(a): Georges Bernanos
Editora: É Realizações
Edição: 1ª edição
Ano de Edição: 2013
Idioma: Português
Nº de Páginas: 160 paginas