“Eu estava habituado a mandar e me vejo reduzido a obedecer. É duro. Mas sei por que o Bom Deus me mandou essa provação: nunca havia tido humilhação em minha vida; era necessário uma.”
Assim um admirável santo da Igreja narrou a sua própria internação na casa de repouso Bom Pastor. Esse foi Louis Martin, cristão piedoso, comerciante justo, esposo dedicado, pai amoroso de nove filhos, inclusive, de cinco freiras, sendo uma santa e outra em processo de beatificação. O homem que foi chamado de Incomparável pai pela filha caçula, Santa Teresinha do Menino Jesus, adjetivo que é também o título da dica de leitura de hoje, escrita pelo Dr. Robert Cadéot e publicada pela Editora Cultor de Livros.
“Louis Martin – Incomparável pai” narra a história de santificação desse homem que, desde a juventude, acostumou-se a ter sua própria vontade contrariada, aprendendo a acolher os desígnios divinos. Por sua docilidade e amor à vontade de Deus, o autor chega a compará-lo a Jó.
Desde a juventude, Louis, que era filho de militar, sonhava em ingressar no mosteiro de São Bernardo, no entanto, uma enfermidade o impediu de estudar o latim e acabou sendo dispensado. Assim, precisou abandonar o sonho da vida religiosa e voltou-se para o trabalho no comércio, pelo qual se tornou relojoeiro. Após, pensava em manter a vida celibatária, no entanto, acabou casando-se com Zélia Guerin, uma rendeira da cidade de Alençon, também filha de pai militar, cujo sonho da vida religiosa também precisou ser abandonado.
Os dois desejavam viver o matrimônio em perfeita continência, mas foram orientados a consumar o casamento, nove meses depois, o que deu origem a uma numerosa prole, no entanto, dos nove filhos, apenas cinco meninas sobreviveram à idade adulta. Dentre os filhos mortos prematuramente, estavam dois meninos, nos quais Louis e Zélia haviam colocado a esperança de ter um filho padre. Mais uma vez, esses não eram os planos de Deus para o casal Martin.
Aos 54 anos, Louis inesperadamente se vê viúvo, após alguns anos de sofrimento com o câncer da esposa, e necessita cuidar das cinco filhas, da casa e dos negócios da família. A família, que até então vivia em Alençon, mudou-se para Lisieux. Apesar da boa condição financeira, ele mantinha a vida ascética a qual havia se acostumado, inclusive, só bebendo vinho e café nos dias de festa. De uma vitalidade impressionante, Louis se encarregava de cortar a lenha para os dias de inverno, orientava os funcionários, lidava com as finanças, transportava as grandes sacas de suprimentos para casa, cuidava das filhas e ainda se dedicava às atividades da Igreja e ao cuidado com os mais necessitados, além dos momentos de leitura e demais atividades sociais. Seu lema de vida era: “Dê. Dê sempre e faça os outros felizes”.
A generosidade e piedade do casal foi uma bela escola para suas filhas, pois três logo ingressaram no Carmelo de Lisieux, restando em casa apenas Celina e Leônia, para fazê-lo companhia. Tal oferta causou uma grande dor em Louis, principalmente com a partida de Teresinha, aos 15 anos de idade, no entanto, a ação de graças ao Bom Deus, que o havia presenteado com aquelas três filhas religiosas falava mais alto ao seu coração. As outras duas viriam a ser, respectivamente, carmelita e visitandina, anos depois.
Todavia, como descrevemos no início dessa matéria, o Senhor ainda reservava para Louis uma coroa ainda mais valiosa: a enfermidade que lhe tiraria não só a vitalidade do corpo, mas também a sua liberdade, o domínio sobre a própria vida, os negócios, a família e até a sua saúde mental. Em maio de 1988, Louis havia feito o seu ato de oferecimento e abandono nas mãos de Deus, Pouco tempo depois, em 1889, Deus realmente lhe pediu tudo: ele foi internado em um sanatório após alguns episódios de confusão mental e alucinações, lugar em que manteve a piedade por meio do silêncio, do sofrimento, das orações e das celebrações eucarísticas.
Por fim, após alguns anos e já bem debilitado fisicamente, suas filhas e seu cunhado conseguiram retomar a guarda de Louis, que dependia em tudo dos cuidados dos familiares e dos empregados contratados para ajudá-lo. Esse período de grande sofrimento, contudo, foi marcado por uma paz constante, apesar dos episódios de choro e tristeza que, por vezes, queriam assaltá-lo, Louis fazia sobressair um estado de ânimo que havia sido construído por toda uma vida de constante educação da vontade para se adequar aos desígnios divinos, assim, em meio às vicissitudes da vida, sempre encontrava alegria pelo Amor do seu Bom Deus para consigo e para com sua família. Louis faleceu aos 71 anos, no dia 29 de julho de 1894: “Sua expressão era de tal alegria e serenidade sobrenaturais, que instintivamente a gente pensava em São José no seu leito de morte”, escreveu Celina tempos depois, quando já estava no Carmelo, passando a ser chamada de irmã Genoveva.
Desse modo, por tudo isso e por outros relatos comoventes de suas filhas e familiares, essa obra nos inspira a nada menos do que o desejo pela vontade de Deus, pela santidade, pela obediência aos Seus desígnios e ao louvor pelos feitos do Senhor na vida dos que se dispõem a viver a santidade a partir do ordinário da vida. É uma leitura que vale muito a pena.
Boa leitura!
Ficha técnica
Autor(a): Robert Cadéot
Editora: Cultor de Livros
Idioma: Português
Nº de Páginas: 178 páginas