No seu diário, Santa Faustina nos disse algo surpreendente sobre a misericórdia divina: “Ainda que a alma esteja em decomposição como um cadáver e ainda que humanamente já não haja possibilidade de restauração, e tudo já esteja perdido, Deus não vê as coisas dessa maneira. O milagre da misericórdia de Deus fará ressurgir aquela alma para uma vida plena” (Diário, 1448).
Em outro diário, que é a dica de leitura de hoje, vemos um exemplo concreto disso, uma alma cujo pecado tinha um domínio já tão forte, que, aos olhos humanos, seria um caso perdido. Estou falando do livro “Jacques Fesch – A vida e conversão de um condenado à morte”, publicado pela Editora Santo Thomas More.
Jacques era um jovem francês de família abastada, que havia abandonado a fé aos dezessete anos e cuja vida era inteiramente desregrada. Ele vivia em meio às farras com os amigos e já havia engravidado duas jovens. Casou-se com uma delas, mas logo separaram-se. Jacques vivia, então, às custas da fortuna do pai, até o dia em que resolveu cometer um crime: assaltar uma casa de câmbio, a fim de comprar um veleiro que o levaria a grandes aventuras ao redor do mundo.
No entanto, seus planos foram frustrados quando, em sua fuga, atirou contra um policial. O tiro atingiu mortalmente aquele homem, que era viúvo e pai de uma pequena menina. O crime, desse modo, repercutiu imensamente na sociedade francesa e Jacques acabou sendo condenado à morte.
Até aí, talvez essa seria simplesmente mais uma história de um jovem que se perdeu pelo caminho, no entanto, a sorte de Jacques começou a mudar quando seu advogado, um católico convicto, começou a catequizá-lo e, a partir dessa pequena centelha de fé, certa noite, Jacques teve uma espécie de revelação divina:
“Estava deitado de olhos abertos, realmente sofrendo pela primeira vez na vida. Repentinamente, um grito irrompeu do meu peito, uma súplica por ajuda: ‘Meu Deus!’ E, como um vento impetuoso que passa sem que saiba de onde vem, o Espírito do Senhor me agarrou pela garganta. Tive a impressão de um infinito poder e de uma infinita bondade que, naquele momento, me fez crer com convicção que nunca estive abandonado”.
De um ateu frio e indiferente, a vida de Jacques se transformou em um contínuo louvor a Deus, o qual podemos experimentar através desta dica de leitura, que traz uma pequena carta de seu segundo filho, Gerard Fesch, uma introdução escrita pelo padre André Manaranche e o próprio diário de Jacques, endereçado à sua primogênita, Verônica.
Desse modo, Jacques se tornou uma prova viva de que realmente a misericórdia divina pode alcançar até as almas em estado mais avançado de degeneração. Em seu diário, vemos principalmente a sua luta para manter a fé, a alegria e a confiança em Deus, mesmo em meio às circunstâncias mais adversas possíveis: a solidão da prisão, o desejo de estar com sua família e a espera pela sentença de morte em seu julgamento.
Ele foi executado em 1º de outubro de 1957, dia de Santa Teresinha, de quem Jacques aprendeu a ser devoto e cuja intercessão também havia salvado a alma de outro criminoso francês décadas antes, Henri Pranzini.
Diante de uma conversão tão forte, há indícios de que um processo de beatificação de Jacques Fesch seria possível, não para negar seus erros, mas como um atestado de que para Deus, nenhuma alma está previamente condenada, mas todos têm a chance de redenção, basta que se abram à graça divina.
A seguir, deixamos um trecho do diário de Jacques, sobre o amor divino e a necessidade que cada alma tem de entregar-se a esse imenso mar de misericórdia:
“Se ao menos pudéssemos compreender um pouquinho que fosse, quanto Jesus nos ama! Mas isso não se revela a nós tão claramente. Os que vivem no mundo se sentem perturbados com a concreta manifestação da inteligência criadora de Deus, mas não podem conceber, do mesmo modo, o Amor infinito do Senhor pelas suas criaturas. (…) Oh! Como é estéril todo o argumento! Aquele que vibra de alegria não precisa tentar compreender: basta-lhe sentir junto de si a doçura do Senhor.”
Boa leitura!