Uns dizem que sim, que quanto mais extenso é o livro, mais profundo o assunto se torna; entretanto, outros preferem os autores mais pontuais, que possuem o dom da concisão. Enfim, podemos dizer que há casos em que o “recurso do calhamaço” se torna necessário, mas há outros em que é possível ter acesso a um conteúdo denso em poucas palavras.
Esses são os autores que vão direto ao ponto, como diz o ditado popular, que vêm logo com um quente e dois fervendo, ou seja, já vêm com o tema, a resposta e a réplica de uma vez só, sem floreios. O autor da indicação de hoje vai, mais ou menos, por essa via.
Assim, a dica dessa semana é um livro pequeno, que pode ser lido rapidamente ou parando para meditar em cada linha, que trata de questões delicadas com uma profundidade impressionante. Estou me referindo ao livro Os graus da humildade e da soberba, de são Bernardo de Claraval, publicado pela Editora Biblioteca Católica.
Suplicando a graça da humildade
São Bernardo nasceu no início do século XI e em sua juventude ingressou na Ordem dos Cistercienses, na qual desenvolveu sua espiritualidade e os dons da escrita e da oratória. É um dos doutores da Igreja e um santo que tem muito a nos falar a respeito do Amor Esponsal e da devoção à Virgem Maria. É de sua autoria os últimos versos da oração Salve Rainha: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”.
Porém, o assunto que são Bernardo nos traz hoje é outro: vigiar constantemente, suplicando a graça da humildade, para não cairmos na soberba ou, em outras palavras, no orgulho. É atribuído a são Francisco de Assis o pensamento de que o nosso orgulho é tão grande, que só morre duas horas após a nossa própria morte.
Assim, faz-se necessário que, ao longo da nossa vida, busquemos constantemente revisitar essa questão, colocando-a diante de Deus, que é o único que pode extirpar de nós este mal, gerador de tantos enganos, como a síndrome do pavão, que infla o nosso ego de forma tão superficial; ou a síndrome do super-homem, de Nietzsche, que, em suma, busca inutilmente (pois busca fora de Deus) um modelo autorreferencial humano a ser seguido. Tais condutas, que são expressões do mais puro e infantiloide orgulho humano, nos fazem recair na desobediência, no erro e até no ridículo.
Vale destacar o capítulo Sentença sobre o Serafim apóstata
No livro, São Bernardo dedica bem mais capítulos à soberba do que à humildade, referindo-se aos graus de ambas como degraus que levam concomitantemente a direções contrárias: quanto mais subimos pelos degraus da humildade (que é comparada à verdade), mais descemos nos degraus da soberba (comparada à mentira), sendo o contrário também aplicável, quando preferimos crescer na soberba, fazendo diminuir em nós a humildade.
No mais, vale destacar o capítulo Sentença sobre o Serafim apóstata, no qual São Bernardo nos presenteia com um belo discurso a Lúcifer, a respeito do primeiro grau de soberba, que é a curiosidade, pois, segundo o autor: “Primeiro se olha com curiosidade o que depois se deseja ilicitamente e se anela com presunção”.
Só por esta frase, já podemos perceber que, contra a soberba e em favor da humildade, São Bernardo realmente vem com um quente e dois fervendo, nesse pequeno livro que nos oferece grandes ensinamentos.
Ficha de Leitura
Autor: São Bernardo de Claraval
Editora: Concreta
Boa leitura!