Em 1908 o jovem Henrique Grialou, com catorze anos de idade e após ter passado os últimos três anos de sua vida estudando no Seminário da Congregação do Espírito Santo, descobre o livro História de uma alma, que havia sido escrito por uma certa carmelita que morrera há onze anos e que estava em processo de beatificação. Desde então, o futuro beato carmelita, frei Maria-Eugênio do Menino Jesus e a futura Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face iniciaram uma grande amizade.
Mais tarde, Henrique, durante seu retiro de preparação para o diaconato, tem acesso a uma pequena biografia de São João da Cruz, leitura que decididamente o impulsiona a ingressar na Ordem dos Carmelitas Descalços, o que faz vinte dias depois de sua ordenação presbiteral, no dia 24 de fevereiro de 1922.
No Carmelo, tem acesso às obras de Santa Teresa D’Ávila e mergulha em tempo de profunda oração. Tornou-se um religioso de intensas penitências e mortificações, porém, tais práticas ascéticas colocam em risco a sua saúde e, então, o monge recorre à pequena via de Santa Teresinha, decidindo, assim, buscar em pequenos atos de amor a purificação necessária para trilhar o seu caminho de santidade.
Com o passar dos anos, frei Maria-Eugênio intui que as riquezas espirituais dos santos carmelitas não poderiam permanecer restritas aos religiosos da Ordem, por isso, deseja divulgar para toda a humanidade os segredos do Amor misericordioso que impulsionava os corações de Teresa D’Ávila, João da Cruz e Teresa do Menino Jesus. No entanto, uma transferência para o convento de Petit Castelet, na região rural do sul da França, parece contrária aos planos do monge, porém, foi naquela pequena cidade que recebeu a visita de três jovens professoras de Marselha, que desejavam aprender sobre a mística carmelita.
O frei, então, passa a ministrar um curso sobre oração para um grupo de universitários, que acabou tornando-se, muitos anos depois, a base para desenvolver a sua obra-prima, que é a dica de leitura de hoje: “Quero ver a Deus”, publicado em 1949, que seria complementado por outra obra, intitulada “Sou filha da Igreja”, em 1951. Posteriormente, no ano de 1957, os dois volumes foram unidos em uma só obra.
O fio condutor de seu livro é a espiritualidade teresiana descrita no Castelo Interior, porém, como grande novidade, frei Maria-Eugênio incorporou à obra as suas experiências pessoais, o estudo de personagens chaves das Sagradas Escrituras (como Elias, Nicodemos e São Paulo) e das parábolas do Evangelho, os aspectos da doutrina de São João da Cruz e os traços da subida de Teresinha pela sua pequena, que, unidos ao itinerário de oração e autoconhecimento descrito por Santa Teresa em suas Moradas, constitui-se como uma obra de imenso valor teológico e filosófico para a Igreja.
Pareceu complicado? Pois não é, haja vista que a grande vantagem de Quero ver a Deus é exatamente esta ótima análise da espiritualidade carmelita transcrita de modo acessível pelo autor. Para que o seu intuito de propagar os tesouros do Carmelo fosse alcançado, não poderia ser de outra forma.
Resumindo, trata-se de uma obra que vale muito a pena ler, reler, aprofundar seu conteúdo e ter sempre em mãos como guia permanente para progredir na vida espiritual.
Boa leitura!