Imagine a seguinte situação: Desde que você era bem jovem, sempre gostou de ler. Dentre os muitos livros que você já leu existe um que é o seu favorito e que constantemente volta à cabeceira da sua cama, para aquela leitura de praxe, antes de dormir.
Agora, imagine que você viu uma reportagem na televisão, anunciando que este livro vai ser adaptado para o cinema dali a alguns meses.
Após uma longa espera, finalmente o dia da estreia chega e, óbvio, o seu ingresso está garantido: poltrona na fila H12 (bem no meio do cinema). Além da pipoca e refri, é preciso comprar um saco de guloseimas daquela loja lá que você sabe o nome, tudo do jeito que você gosta.
As luzes se apagam, vem o aviso de segurança e boas maneiras (quem é esse mal educado que coloca os pés na poltrona da frente, meu Deus?), passam os mil e quinhentos trailers, aproveita o barulho para abrir o saco de amendoim (tem que ser da marca Dori), tudo fica escuro, dois segundos, a vinheta do estúdio de cinema aparece (o melhor é o da 20th Century Fox e sua orquestra, claro!), escuro de novo, um segundo, você sente aquele pequeno descompasso no coração, a primeira cena aparece.
E aí? Alegria ou tristeza? Surpresa ou decepção? Paz interior ou raiva profunda? Gostou mais do livro ou do filme? A polêmica é grande.
Na verdade, quem é apaixonado mesmo por leitura dificilmente se convencerá de que as adaptações para o cinema são melhores do que as histórias originais em papel, primeiro, porque geralmente mudam ou acrescentam muitas coisas (por isso se chamam “adaptações”); segundo, porque há o grande risco de todo o trabalho de construção de personagens, ambientes e outros aspectos, feito pela imaginação, ser implodido por um péssimo ator ou até pela fotografia do filme, caso seja ruim.
Já para quem não curte leitura, chega até a ser difícil fazer uma comparação filme x livro de forma justa, pois enquanto o filme conta com inúmeros artifícios para prender a atenção do espectador e que mexem com os sentidos e emoções, tais como as músicas, efeitos especiais e até produções tridimensionais, ao livro resta, tão somente, o talento do autor em sua narrativa e a paixão que move quem lê a ir até o fim.
Enfim, o objetivo aqui não é colocar mais lenha na fogueira quanto ao embate entre cinéfilos x bibliófilos, mas, ao contrário, levantar a “bandeira da paz”, reconhecendo que tanto há péssimas adaptações, quanto excelentes, sendo que o critério para dizer o que é melhor, vai de cada um, conforme suas preferências de entretenimento.
Ben-Hur – uma história dos tempos de Cristo
No mais, só me resta indicar o livro de hoje, que consiste no bacaninha e épico “Ben-Hur – uma história dos tempos de Cristo”, de autoria do americano Lew Wallace, publicado pela primeira vez em 1880 e com duas adaptações de sucesso para o cinema: em 1959 e outra mais recente, em 2016.
Trata-se, sobretudo, de uma história sobre o perdão: um rico e nobre judeu, injustamente acusado de tentativa de assassinato contra o governador romano, foi sentenciado a viver como escravo, enquanto sua mãe e irmã também sofreram condenações terríveis por sua causa. Detalhe: a acusação partiu de Messala, seu melhor amigo.
Durante anos, Judá Ben-Hur ruminou a vingança em seu coração e, tendo conseguido escapar miraculosamente de seu cárcere (o porão de um navio de guerra), retorna à sua cidade como um corredor de quadrigas (espécie de biga puxada por quatro cavalos, utilizada em competições) e assim vai progredindo no seu intuito de assassinar Messala.
O que Judá não esperava, era o encontro com Jesus Cristo, o qual seria crucificado em Jerusalém, fato do qual Judá seria testemunha. O pedido de Jesus na cruz: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”, repercute de forma extraordinária em sua vida, e lhe impulsiona a dar uma nova resposta diante de tudo o que havia se passado consigo.
Particularmente, tive a oportunidade de ler o livro e assistir às duas versões adaptadas para o cinema, os quais indico a ler e assistir. Os três, neste caso, são bons, embora haja muitos elementos alterados no filme, temos que levar em conta que as produções hollywoodianas, caso não incluam nada de fantástico em suas adaptações, não farão jus ao “american way” de produzir blockbusters.
Ficha de Leitura
Livro: Ben-Hur
Ano: 2016
Páginas: 528
Idioma: Português
Editora: Jangada
Boa leitura!