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Bento XVI: cristão não tem medo de enfrentar mal com amor e verda

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Publicamos as palavras que Bento XVI pronunciou neste domingo, antes de dirigir a oração mariana do Ângelus, ante milhares de fiéis e peregrinos congregados na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho deste domingo contém uma das palavras mais típicas e fortes da pregação de Jesus: «Amai os vossos inimigos» (Lc 6, 27). Está tirada do Evangelho de Lucas, mas se encontra também no de Mateus (5, 44), no contexto do discurso programático que se abre com as famosas «Bem-aventuranças». Jesus o pronunciou na Galiléia, no começo de sua vida pública: quase um «manifesto» apresentado a todos, no qual Ele pede a adesão dos seus discípulos, propondo-lhes, em termos radicais, seu modelo de vida. Mas qual é o sentido dessa palavra sua? Por que Jesus pede que se ame os próprios inimigos, ou seja, um amor que excede as capacidades humanas? O certo é que a proposta de Cristo é realista, porque leva em conta que existe muita violência no mundo, muita injustiça e, portanto, não se pode superar essa situação senão contrapondo mais amor, mais bondade. Esse «mais» vem de Deus; é sua misericórdia, que se fez carne em Jesus e que sozinha pode «desequilibrar» o mundo desde o mal até o bem, a partir desse pequeno e decisivo «mundo» que é o coração do homem.

Justamente esta página evangélica é considerada como a magna charta da não-violência cristã, que não consiste em render-se frente ao mal — segundo uma falsa interpretação do «oferecer a outra face» (cf. Lc 6, 29) –, mas em responder ao mal com o bem (Rom 12, 17-21), destruindo, dessa forma, a corrente da injustiça. Compreende-se então que a não-violência, para os cristãos, não é um mero comportamento tático, mas um jeito de ser da pessoa, a atitude de quem está, assim, certo do amor de Deus e de seu poder, que não tem medo de enfrentar o mal com as únicas armas do amor e da verdade. O amor ao inimigo constitui o núcleo da «revolução cristã», uma revolução não baseada em estratégias de poder econômico, político ou mediático. A revolução do amor, um amor que não se apóia em recursos humanos, mas que é dom de Deus que se obtém confiando unicamente e sem reservas em sua bondade misericordiosa. Eis aqui a novidade do Evangelho, que transforma o mundo sem fazer barulho. Eis aqui o heroísmo dos «pequenos», que acreditam no amor de Deus e o difundem ainda que isso lhes custe a vida.

Queridos irmãos e irmãs: a Quaresma, que começará na próxima quarta-feira com o rito das cinzas, é o tempo favorável em que todos os cristãos são convidados a converter-se cada vez mais profundamente ao amor de Cristo. Peçamos a Nossa Senhora, dócil discípula do Redentor, que nos ajude a deixar-nos conquistar sem reservas por esse amor, a aprender a amar como Ele nos amou, para ser misericordiosos como nosso Pai celestial é misericordioso (Lc 6, 36).


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