O Plano Divino conduz e chama todas as criaturas de modo livre ao seu fim. Esse chamado alcança seu objetivo quando a Voz de Deus é respondida livremente. Diz São Francisco de Sales: “Em Deus, o amor é uma vocação, um caminho de acesso à realização plena, que só acontece de forma gratuita. Na comunidade escuto a Voz Daquele que me chama e que me atrai através da generosidade do seu carisma, e, muitas vezes, nos deparamos com a falta de certeza e convicção deste chamado até a hora da morte… Mesmo assim, correspondo, ao chamado, ao apelo de Jesus.”
Quando Deus me chama a uma determinada vocação, esse chamado é ordinariamente interior. É Deus quem inspira nas almas o desejo de abraçar um estado sublime como a vida consagrada. “Não fostes vós que me escolhestes, senão eu que vos escolhi”. (João 15,16)
Este chamado passa por três aspectos: sou chamado à existência, a ser; sou chamado à santidade, à vida eterna; sou chamado a um estado de vida, podendo ser ao sacerdócio, ao matrimônio ou ao celibato. Esse é o passo a uma vida de perfeição – o chamado à uma vida consagrada.
Quando somos atraídos a um Carisma, através de uma Comunidade, não é apenas para viver com um aglomerado de pessoas cristãs em busca de uma perfeição pessoal. Em uma dimensão mais profunda, é uma participação através do meu testemunho da Igreja-Mistério, que reflete o próprio modo de viver de Cristo. Precisamos ter a consciência de que somos todos instrumentos dos quais Deus quis se utilizar em favor do “outro”. Por isso, Ele nos faz Comunidade, como um lírio que sustenta os demais, na medida em que também somos sustentados por todos os outros lírios. Sozinhos não conseguiríamos nos sustentar. Como diz a Beata Madre Teresa de Calcutá, “somos todos seus humildes instrumentos. Eu posso fazer aquilo que tu não podes. Tu podes fazer aquilo que eu não posso. Juntos, podemos fazer algo de belo para Deus”.
Para entrar e fazer parte de uma comunidade, faz-se necessária a graça particular de uma vocação. Concretamente, os membros de uma comunidade aparecem unidos por um “comum chamado” de Deus na linha do carisma fundacional. A Vocação é a inspiração através da qual Deus chama a pessoa a determinado estado ou forma de vida. Em toda vocação autêntica, a iniciativa é sempre de Deus em chamar – é o encontro de duas liberdades: a liberdade absoluta de Deus, que chama; e a liberdade humana, que responde a este chamado.
Em meio a este chamado também encontraremos situações de dificuldades, tribulações e provações, para purificar nosso Amor a Deus – “sei em quem coloquei a minha fé!” Desta forma, produziremos frutos de peso eterno, não os meus frutos, mas os de Deus através de mim. É preciso estar atento à voz de Deus que nos chama. A voz do mundo vem para nos confundir, são os barulhos exteriores que nos tiram a paz e não nos deixam ouvir a voz de Deus. Para aquele que deseja ouvir a voz de Deus, o inimigo permanece sempre ao redor, se utilizando de todas as situações para tentar desviá-lo deste caminho que leva, sem dúvida, ao céu.
Quando Jesus interroga ao jovem rico: “Tu queres ser perfeito?” O caminho da perfeição nos é apresentado por Cristo, sem imposição; diante do jovem que desejava possuir a vida eterna. Corresponder ao seu chamado nos leva a deixar tudo e ser conduzido pela sua voz. É uma iniciativa pessoal, entre mim e Deus, e o meu compromisso me une a Ele, me fazendo deixar tudo por amor do seu Reino, pois meu ser anseia encontrar o caminho da verdadeira felicidade.
Em uma comunidade verdadeiramente fraterna, cada um se sente corresponsável pela fidelidade do outro; cada um dá sua contribuição, seja pela partilha de vida, pela compreensão, ajuda mútua; cada um permanece atento aos momentos de cansaço, de sofrimento, de isolamento, de desmotivação do irmão; cada um oferece seu apoio a quem está aflito pelas dificuldades e pelas provações.
Amar a própria Vocação, através do Carisma, é sentir o chamado como razão válida de vida e compreender a consagração como realidade verdadeira, bela e boa, que proporciona verdade, beleza e bondade também à própria existência: Tudo isso torna a pessoa forte e autônoma, segura da própria identidade, não necessita de apoios e compensações várias, mesmo de natureza afetiva.
Amar a Vocação é amar a Cristo, é amar a Igreja, é amar o próprio carisma e sentir a comunidade como a verdadeira família. A vida do consagrado não se trata apenas de seguir a Cristo de todo o coração, amando-o “mais do que o pai ou a mãe, mais do que o filho ou filha”, como é pedido a todo discípulo, mas trata-se de viver uma escolha e exprimir isso mesmo com uma adesão “conformativa” a Cristo da existência inteira (Sl 15). Na verdade, o consagrado não só faz de Cristo o sentido da própria vida, mas, preocupa-se por reproduzir em si mesmo na medida do possível, “aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no mundo”.
“Em Deus, o amor é uma vocação, um caminho de acesso à realização plena, que só acontece de forma gratuita. Esta prática supõe fazer ao outro aquilo que gostaria que fosse feito a gente mesmo, mas dentro da realização da gratuidade.” (João Paulo II)
A experiência deste amor gratuito de Deus é tão íntima e forte que a pessoa sente que deve responder com dedicação incondicional da sua vida, consagrando tudo, presente e futuro em suas mãos. Precisamos dar o sentido verdadeiro da vida, respondendo ao CHAMADO de Deus pelo Carisma. Pois, as coisas que vemos são relativas, só o que é eterno é absoluto e essencial. Como já falamos, toda Vocação vem de Deus, mas depende de uma resposta humana. Esta resposta começa a nascer do questionamento do nosso próprio ser: De onde vim? Quem sou? Para onde vou?
O Carisma Shalom dentro da vivência comunitária é uma expressão do amor e da unidade da Trindade. Como espelho da Trindade, é chamada a resplandecer em seu seio toda alegria e a vitalidade do amor divino. Também dentro do Carisma Shalom somos chamados a dar uma resposta ao mandamento do Senhor: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). Unidos através do amor sobrenatural de Jesus, chamados a transbordar em todos os relacionamentos e atitudes, em tudo que fizer ou pensar, a caridade de Cristo, que supera todo entendimento e medida.
Como Vocação Shalom nosso Lugar é o da Pecadora, aos pés Daquele que tanto nos amou e escolheu movido unicamente por Sua Misericórdia. Nosso coração acha-se criado à semelhança de Deus Pai. O coração sábio é o que busca Deus, o que encontra Deus, o que ama Deus, o que abre totalmente suas portas a Deus e se deixa preencher por Ele e por Sua Misericórdia. O coração cheio de gratidão não sabe o que fazer, senão amá-Lo perdidamente, é o que descobre como segredo último de sua vida, o que descobre o sentido definitivo de sua existência, o que tem em Deus o único sentido pleno da vida e da morte, da dor e da alegria, do céu e da terra.
Assim nos criou Deus, chamados através do Carisma Shalom e com o exemplo de nosso baluarte Francisco de Assis, a ter um coração inflamado por este amor que tudo realiza e tudo suporta, um coração tão grande que possa ser sua morada. “Se alguém me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viveremos e faremos nele a sua morada” (Jo 14,23). Dessa maneira, na profundidade de cada homem, Deus habita e o preenche com seu Espírito, de tal forma que, juntos, na comunhão de um mesmo Espírito, possa tornar presente o Reino de Deus.
Em Francisco percebemos Deus em seu coração; Deus no coração de Francisco; Deus no coração de cada homem. Esse é o mistério da realidade que Jesus nos revela e nos chama a descobrir, a viver e ampliar: o Reino de Deus no coração de cada homem, o Reino de Deus na fraternidade universal e todos os homens. Assim, esta sabedoria leva-nos a ser contemplativos na vida, na ação, na convivência, em tudo… É aí que se vive e se experimenta, tornando realidade nossa dimensão contemplativa. Jamais poderemos ser contemplativos na oração se não o formos na ação; uma pessoa tampouco será contemplativa na vida se não o for na oração. O homem, em sua integridade e em todas as partes, é quem se deixou transformar por Deus e se deixou modelar por Ele, pela sabedoria de seu Espírito. Foi Deus quem transformou nosso coração de pedra num de carne, na medida do próprio amor de Jesus: humano e divino.
Presenciamos que o homem vive encerrado em seu pequeno mundo, entre angústias e ilusões. Ele vive inseguro e com medo quando permanece sozinho e magoado pelas feridas da vida. O homem vive sem sentido, sem rumo fixo, sem caminho, alimentado por seus sonhos, quando na verdade está fechado e cego a um horizonte infinito. O homem vive só, numa solidão morta, sem vida, sem amor, desprovido de seiva em seu coração. Francisco com sua vida nos ensina que a verdadeira sabedoria é procurar o nosso coração perdido, recuperar a fonte de nossa vida e viver a partir de nosso coração, com sentido e com amor.
Hoje, somos chamados a escutar a voz de Deus através do Carisma Shalom, dom de Deus para o mundo. Somos chamados a abrir passagem na vida dos irmãos, na Igreja e no mundo. O anúncio deste chamado de paz, através de cada um de nós, é parte fundamental da evangelização que se realiza na proclamação e no testemunho, como foi também ma vida de São Francisco, que se consumiu de amor pelo seu Amado e se derramou na Igreja e para a Igreja de Cristo. A vida comunitária como vivência fraternal do Evangelho, é chamada por meio da Vocação Shalom à uma experiência de estar aos pés do nosso Amado como a pecadora, se derramar e a se doar incondicionalmente Àquele que nos amou primeiro, e assim, em todas as épocas tornar visível a prioridade de Deus, a comunhão fraterna e a doação ao serviço dos irmãos. Numa palavra, viver as exigências evangélicas da fraternidade cristã, e a trabalhar por ela enfrentando os desafios da mesma, na atualidade. Deste modo, encontrando a verdadeira Paz, poderemos ser fermento dessa comunhão entre os homens que tem sua origem, modelo e meta no “Cristo crucificado, que, para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” e disto somos testemunhas.
O Shalom do Pai nos revela que a nossa Vocação é uma experiência de Deus, e a fonte primeira da experiência com o Ressuscitado que passou pela Cruz é a intimidade com Ele. Que o exemplo do nosso santo baluarte, Francisco de Assis, seja uma fonte de graças, e tome o verdadeiro lugar em nossas vidas, nos fazendo crescer em intimidade com o Criador, nos fazendo “ser” verdadeiros ministros e discípulos da Paz. A intimidade é a fonte indispensável, e é preciso sempre deixá-la jorrando, pois traz vida para nossa Vocação estarmos conscientes que a intimidade com Deus é a fonte de nossa vida comunitária. Pela oração, vivemos nossa convicção de que o primeiro lugar deve ser dado à graça. É a graça de Deus que opera em nós as transformações necessárias ao seguimento de Jesus Cristo como Shalom do Pai. É a graça que nos santifica, conduz, esclarece, fortifica e nos firma na Vocação e no caminho da verdadeira Paz e do verdadeiro Bem.
Por Valdo Lacerda, consagrado da comunidade de aliança, texto escrito em razão dos 14 anos da Missão Recife, no próximo dia 7 de abril de 2016.
Olá
Quantos anos pode enviar no o email Vocacional?
Esse carisma,me fascina gostaria de conhecer melhor,estou precisando de preencher meu coração com esse amor.
Cara Maria, veja no nosso portal o endereço do Centro de Evangelização mais próximo: https://comshalom.org/onde/
O primeiro passo é conhecer mais a comunidade e participar; aqui você também pode encontrar a programação com missas, grupos de oração, cursos, oração e aconselhamento e outras atividades.
Shalom!