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Carta à Teresa de Lisieux

Obrigada, Teresa, por colocar meus pés na realidade e me ensinar a amar este instante que agora te escrevo. Obrigada por essa amizade que nunca me falta.

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Teresa,
Às vezes, fico pensando o motivo das pessoas não te compreenderem. Nos discursos alheios, ao falarem sobre ti, as palavras mais usadas são sempre: rosinhas, frases melosas, infantilidade, etc. Há quem não suporte ler os teus escritos, por tamanho incômodo. São inúmeras suposições e visões reducionistas sobre quem de fato és. E sobre isso, eu só lamento, por saber um pouco melhor do que está por trás de tudo isso.

Eu também, Teresa, já julguei demais e enrijeci meus conceitos acerca das pessoas, mas espiritualmente e intelectualmente pude andar por outros caminhos. Para passar a compreender melhor, precisei me debruçar sobre a fenomenologia existencial, corrente filosófica, cara à tua irmã amada, Edith Stein, e ao querido São João Paulo II. A fenomenologia nos convida a suspender todos os preconceitos e visões já clarificadas a respeito das situações e entes, para que seja possível nos aproximarmos da essência delas.

Como eu gostaria, Teresa, que as pessoas se desvinculassem de visões já postas sobre ti, e assim, descobrissem o tesouro contido na força das tuas entrelinhas. Elas encontrariam uma jovem do século XIX com uma história de superação bela, através de uma infância dolorosa, com duras perdas e dores emocionais intensas, tão similares ao sofrimento dos jovens de hoje, com direito a episódios de ansiedade, depressão e inclusive somatização.

Se eles se permitissem te conhecer, Teresa, saberiam da tua resiliência, do quanto aprendestes a crescer por meio da dor. Compreenderiam o significado das linguagem das rosas e da infância espiritual, as quais nem de longe representam uma bobalhona imatura, mas uma mulher que aprendeu a ordenar para o amor a sua vida, e para isso, ilustra-a pela ótica da beleza e da humildade.

Eles saberiam da tua admiração por Joana d’Arc, da tua inveja dos mártires e do desejo de morrer por Jesus. Ouviriam, dos teus lábios, ser a santidade “conquistada à ponta da espada”, e que para isso, é preciso combater.

É, amiga, nem de longe eu ousaria te reduzir ao título de santa das florezinhas. Porque és a maior mestra em ensinar a violência de coração constante, a ser vivida em cada pequeno detalhe, e isso só é possível quando há grandeza dentro de si. Em você, vemos que a luta é possível, porque é encarnada, é realizada no agora, no simples café que eu derrubo sobre a mesa e me recordo para não murmurar, mas sim agir com amor diante de cada deslize.

É curioso pensar sobre a minha geração. Gostamos de saciar o nosso coração em viagens, bens, pessoas, sucesso. Queremos viajar para os países polares para ver a beleza da aurora boreal e assistir uma explosão de cores, mas quase nunca nos permitimos acordar mais cedo para ver o sol nascer ou acompanhamos a flor da nossa varanda desabrochar. E tu, mais uma vez, nos ensina sobre a necessidade de caminhar na contra mão a tudo isso, porque as maiores viagens se fazem no nosso interior.

Obrigada, Teresa, por colocar meus pés na realidade e me ensinar a amar este instante que agora te escrevo. Obrigada por essa amizade que nunca me falta.

No desejo de que um dia os jovens descubram uma grande amiga em você, com amor,
Tua irmã. Feliz dia.

Andrielly Medeiros 

Consagrada da Comunidade de Aliança Shalom na missão de Natal


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