Celibato pelo Reino dos Céus: eu queria sempre estar disponível ao outro

Meu nome é Anderson Pereira dos Santos, tenho 25 anos, sou formado em Engenharia Civil, mas atuo como professor em uma escola na cidade onde resido, Santana do Acaraú (360km de distância de Fortaleza). Sou tentado a iniciar esse testemunho como tantos já fizeram, apresentando a minha verdadeira identidade.

Assim eu farei, não por “modinha”, mas porque o essencial precisa ser dito, visto e lembrado: “Sou Anderson, filho de Deus, Shalom, Celibatário”. Deus me pensou assim e conhecer a vontade de Deus na minha vida é o que me enche de paz e me torna plenamente feliz.

O Celibato é uma decisão, uma escolha, um estilo de vida de quem quer percorrer um caminho mais estreito com Deus, amando-O acima de tudo, e nEle amando a todos que Ele ama.

Se você me perguntar se desde criança eu quis ser celibatário, com certeza vou lhe dizer que não, até porque eu nem sabia o que era isso. Ser padre também não passava pela minha cabeça, apresar de ser um grande desejo da minha avó paterna. Nessa época eu não era engajado na Igreja, mas uma coisa que me recordo bem é que tudo que eu fazia era com muita determinação. Sempre fui amante do estudo e por isso zelei pelo meu processo de catequese. Enfim, posso dizer que fui bem formado na doutrina católica, apesar de só ter tido minha primeira experiência com o amor de Deus aos 16 anos num grupo de oração da Renovação Carismática.

A partir de então, encontrei Jesus e tudo mudou na minha vida. Na verdade, Ele me atraiu. Quando recebi o batismo no Espírito Santo, eu disse para mim mesmo que nunca mais ia querer outra coisa a não ser trilhar um caminho de amizade com Deus. Conheci a Comunidade Shalom no ano seguinte e através do Caminho da Paz amadureci a minha fé. Somente quando ingressei na Comunidade de Aliança, em 2016, foi que comecei a ouvir falar sobre o Celibato e o que esse estado de vida representa para a Igreja. Eu já conhecia pessoas celibatárias, mas não tinha noção do que isso significava na vida delas.

Aposto que você deve ter se perguntado, se antes de tudo isso eu cheguei a me apaixonar por alguém, acertei? Na verdade, sim, mas foi naquela fase da adolescência. Acredito que todo mundo sempre passa por uma paixão algum dia. Eu passei, mas foi muito rápido. Nunca cheguei a “ficar” com alguém, ou a um compromisso sério de namoro. Eu não acho que todo mundo que sente o desejo de se consagrar no Celibato precise necessariamente passar pela fase do namoro. Quando temos convicção do chamado do chamado de Deus na nossa vida e fazemos um discernimento realmente levado à sério, entendemos que o Celibato não é uma opção para aqueles que se frustraram em algum relacionamento. O Celibato é uma decisão, uma escolha, um estilo de vida de quem quer percorrer um caminho mais estreito com Deus, amando-O acima de tudo, e nEle amando a todos que Ele ama.

Ao analisar os sinais de Deus na minha vida, consigo reconhecer que desde sempre Ele me chamou ao Celibato, e que algum dia eu iria descobrir isso. Deus, ao longo da minha juventude, me preservou de muitas coisas que hoje, infelizmente, encontramos no meio dos jovens. Além disso, vivi dentro e fora da Comunidade muitas experiências de ser amparo para os irmãos que sofriam, emprestando a eles a minha escuta e buscando ser sinal de Deus em suas vidas.

E posso dizer pra você como isso me deixava realizado! Foi aí que eu percebi que  sempre queria estar disponível ao outro, não importa quem fosse. Eu não conseguia me imaginar tendo um amor exclusivo a uma pessoa apenas, mas eu queria estar sempre acessível a todos aqueles que precisassem de um pai, de um amigo, de um irmão. Durante o meu discernimento, esse desejo só aumentava em mim!

Como dói ver tantos jovens, homens e mulheres, longes de Deus, perdidos, esperando a manifestação daqueles que, um dia, irão possibilitar esse encontro com o Amor. Grita dentro de mim o mesmo grito de Jesus: “Tenho sede!”. Sim, tenho sede de almas e o Celibato me dá a graça de, um por um, salvar aqueles que clamam por socorro. Ainda não sou celibatário efetivamente, mas afetivamente sim e posso dizer que assim eu vivo a muito tempo.

“Anderson, você é a antecipação do Céu aqui na terra. É o que eu vejo em você!” 

Entre todos os sinais que Deus manifestou na minha vida, partilho dois que particularmente foi uma grande confirmação: certo dia, quando eu estava na Igreja, rezando e aguardando a Santa Missa começar, uma amiga se aproximou de mim, pediu me a bênção e me disse: “Anderson, você é a antecipação do Céu aqui na terra. É o que eu vejo em você!”. O segundo sinal veio da minha Formadora Comunitária, que quando rezava por mim, Deus falava sobre a minha eleição através do profeta Jeremias: “Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei” (Jr 1,5). Além disso, Deus lembrava que Jeremias tinha sido escolhido para não se casar, nem ter filho (cf Jr 16,2). Tudo isso dilatou mais ainda meu coração para escolher e acolher este magnífico chamado e assim buscar, mesmo nas minhas fragilidades, inconstâncias e infidelidades, a fortaleza, a constância e o amor fiel de Deus por mim.

Sei que é um caminho árduo, mas muito fecundo e feliz. Meu único medo é de não fazer a vontade de Deus. Por isso, procuro sempre estar aos pés de Jesus na oração, pois só a graça de Deus pode realmente me sustentar. Amanhã, dia 03 de setembro, irei efetivar este chamado. Como me disse um grande amigo, será meu primeiro passo à Cruz e todos os anos serei elevado novamente à Cruz até estar totalmente suspenso com Cristo, por Cristo e em Cristo. Sim, estou ansioso para este encontro que se dará na Santa Eucaristia. Deus providenciou cada detalhe para chegar até aqui. E eis que o Noivo se aproxima! É chegada a hora de celebrar as bodas com o Cordeiro! Aqui peço humildemente sua oração, para que o ardor esponsal do Amor me inflame até o Paraíso. 

Anderson Pereira – Consagrado da Comunidade de Aliança em Sobral (CE)