UM CORAÇÃO APAIXONADO

Celibato pelo Reino dos Céus


 

Estado de vida é um dom que Deus concede a cada pessoa com a finalidade de melhor capacitá-la a amar e a servir. A Comunidade Católica Shalom é composta por fiéis como: celibatários pelo Reino do Céus; casados e solteiros; sacerdotes, diáconos e seminaristas. Unidos por uma consagração de vida, eles têm como modelo a diversidade e a unidade das três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Os celibatários refletem a pessoa do Espírito Santo e atuam como instrumento de fecundidade e de poder espiritual para a Comunidade e para a Igreja.

O celibato foi tomando corpo nas diversas formas de vida consagrada na Igreja. Também na vocação Shalom, o Senhor chama muitos à doação total do seu coração, corpo e tempo a Ele, à Obra e aos irmãos, através do celibato consagrado. Estes irmãos são membros legítimos da Comunidade e têm os mesmos direitos e deveres dos outros membros. Assumem o voto de castidade através da vivência da continência perfeita, abraçada voluntariamente em favor do Reino de Deus. Eles vivem uma oblação, um sacrifício de louvor agradável a Deus.

Vale destacar que o celibatário não é alguém que simplesmente renuncia ao amor conjugal, mas é antes alguém que se propõe a amar mais a Deus e aos seus irmãos, abrindo mão de um amor exclusivo por uma pessoa. Dessa forma, o celibato não é a negação da afetividade e da sexualidade, antes, ele constitui um redirecionamento dos mesmos. A oferta silenciosa da vida de um celibatário é fonte de vida no Espírito para a Comunidade e para a humanidade inteira. Os frutos muitas vezes são imperceptíveis aos olhos humanos, mas sabemos na fé que não é vã a vida de alguém que se entrega plenamente a Deus e ao serviço da sua vinha.

CAMINHO DE ESCUTA

O discernimento


 

Deus tem suscitado membros da Comunidade de Vida e da Comunidade de Aliança Shalom a descobrirem o seu chamado ao celibato. Vitor Frota, responsável por animar esse estado de vida entre os membros da vocação, partilha pontos importantes para o reto discernimento. De acordo com o missionário, que é celibatário com votos perpétuos, o processo é feito a partir da atenta escuta da voz do Senhor.

Não há um tempo específico para que o discernimento aconteça. O segredo está naquilo que Deus revela ao coração da pessoa. No caminho, alguns galhos velhos e secos precisam ser podados. E isso não pode acontecer de qualquer jeito, precisa ser pela ação do Espírito. É Ele quem purifica as mentalidades contrárias ao Evangelho, os desvios morais, as paixões desordenadas, os vícios, os pecados e as marcas do passado.

PONTOS IMPORTANTES

  • Inquietações: É a partir das inquietações acerca do Estado de Vida que o discernimento começa. Na oração, Deus vai dando pistas sobre o chamado. A pessoa deve estar atenta a esse movimento interior. Vale destacar que as inquietações não necessariamente são diretamente relacionadas ao celibato, mas ao processo de discernimento. A reta intenção de conhecer a vontade de Deus sobre essa realidade da vida humana é o primeiro e o mais importante passo.
  • Formação Pessoal: Tendo sentido as inquietações iniciais acerca do discernimento do Estado de Vida, a pessoa deve partilhar na formação pessoal. A partir daí, com a ajuda do formador, o processo de discernimento ganham mais ênfase. É importante destacar que quem discerne o Estado de Vida é a pessoa e não o formador, mas a ajuda dele é fundamental para não cair na tentação do engano próprio.
  • Formação Comunitária: Depois de viver um bom processo de escuta da vontade de Deus com a ajuda do formador pessoal, é preciso partilhar com a formador comunitário. Essa partilha marca um novo tempo no caminho de discernimento, pois com a ajuda do formador comunitário será possível elencar de forma ainda mais concreta as motivações que leva a pessoa a dar o passo em vista dessa forma de vida específica.
  • Retiros de Escuta: Quem está discernindo se o seu chamado é o celibato deve estar atento aos retiros que a Comunidade oferece, pois são momentos oportunos para a escuta qualificada de Deus. Longe de tudo e de todos, em um deserto, é possível escutar melhor a voz do Senhor que chama para uma vida mais perto dele. Nesse sentido, vale destacar também a importância dos retiros pessoais.
  • Testemunhos: O contato com irmãos e irmãs que já vivem o Estado de Vida é muito importante. Conhecer a experiência deles e compreender as graças e os desafios desse chamado favorece o processo de discernimento. Os testemunhos desses irmãos e irmãs pode iluminar o caminho de quem está discernindo se Deus o chama ou não a uma vida doada inteiramente a Ele.
  • Os sinais: Ao longo do processo, Deus dá alguns sinais que são muito importantes para o discernimento. É necessário estar atento a tudo e a todos a partir de um olhar sobrenatural. É esse olhar que acompanhará o celibatário para o resto da vida, pois tudo o remeterá para a eternidade. Ele mesmo será um sinal desse para sempre.
  • Algo a mais: Participar de pregações sobre discernimento do Estado de Vida e sobre o celibato é uma boa dica para quem está nesse cominho de descoberta da vontade de Deus. Além disso, os livros podem ajudar na compreensão desse chamado de forma muito significativa. Há, inclusive, que tenha tido grande auxílio no processo por meio do Sacramento da Confissão. Tudo isso, é claro, a partir da orientação dos formadores que favorecem a tranquilidade na vivência desse tempo.
  • O compromisso: Depois de um bom tempo de escuta da vontade de Deus, a pessoa parte para um passo muito importante: os primeiros votos no celibato. Essa etapa expressará externamente aquilo que era vivenciado no interior dela. Vale destacar que o caminho até esse dia deve ter sido marcado pela voz de Deus, pois não é somente uma escolha humana, mas divina. Deus é o mais interessado na felicidade plena de seus filhos. A renovação dos votos acontece durante cinco anos até o dia em que o chamado ao celibato se consumará para sempre com os votos definitivos.

É PRECISO ABRIR O CORAÇÃO

As motivações


 

Quando chega a hora de discernir o Estado de Vida e corresponder ao chamado de Deus, parece que tudo tende a ficar confuso, como se tivesse um véu. Uma hora acho que é matrimônio, outra hora penso no celibato ou até mesmo sacerdócio. E para não seguir tateando, finalmente, chega-se a uma conclusão de que é preciso buscar a ajuda de alguém mais experiente para deixar tudo às claras. Em relação a tudo isso, Josefa Alves, celibatária, fala a seguir sobre as verdadeiras motivações para trilhar esse caminho. “Na verdade, não depende de nós mesmos, mas é preciso abrir o coração e se abrir a escuta”.

Vitor Frota - Celibatário responsável por
animar o estado de vida na Comunidade Shalom

“O celibato é o sinal mais perto, mais real, do Amor Esponsal. É um sinal escatológico do que todos nós seremos no céu: Todos nós no céu seremos celibatários de Deus. O celibato tem essa missão de transbordar para os outros estados de vida a vivência dos conselhos evangélico e do tripé da vocação. Diferente dos outros estados de vida, o celibatário é totalmente disponível à missão. É importante que o celibatário esteja sempre motivado a dar testemunho dessas realidades vocacionais”.

FORMAÇÃO

Entenda a diferença entre Castidade e Celibato


 

Quem aqui já se perguntou se voto de castidade, celibato consagrado e sacerdotal é tudo a mesma coisa ou se cada um tem seu jeito, modo de resposta, vivência ou até finalidade? Eu já! Conheço também muita gente que já se fez esta pergunta e acredite: é uma dúvida muito mais frequente do que você imagina! Digo mais: ainda tem muita gente que confunde a castidade que todo batizado é chamado a viver com o voto de castidade presente na vida dos religiosos, leigos consagrados e sacerdotes.

Mas, vamos lá, vamos dar um passo de cada vez para entendermos um pouco mais. Antes de tudo, é importante saber que todo cristão independente de seu estado/forma de vida na Igreja é chamado a viver a castidade como virtude. Ela diz respeito a todos, porque todos têm necessidade de amar de maneira autêntica e indivisa. A grande graça de uma vida casta, de um homem e de uma mulher que vivem a castidade, é a integridade, uma vida que não é fragmentada pelas inúmeras violências que o pecado causa na alma.

Sim, a castidade é virtude e como tal deve ser exercitada, fortalecida. Ela não brota do nada. Não sejamos ingênuos, pois a ingenuidade muitas vezes é a porta por onde nos roubam a pureza. “A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana” (Catecismo da Igreja Católica, 2339).

E o voto de castidade presente no celibato? Bem, aí a coisa fica ainda mais bela! A castidade como voto está relacionada à vida religiosa, celibatária e sacerdotal, engloba, entre outros pontos, a renúncia do exercício da genitalidade. Como assim?

Entendamos: a castidade como virtude, não necessariamente traz esta renúncia, pois obviamente os cônjuges, após o casamento, fazem uso de sua genitalidade doando-se reciprocamente no amor que os torna fecundos e abertos à vida. Um homem e uma mulher solteiros são chamados a guardar a continência sexual, até o dia de se entregarem ao esposo ou esposa, após o casamento, em que a castidade será expressa sobretudo na fidelidade, respeito e integridade.

Já os padres, freiras e leigos consagrados, vivem numa outra lógica. A lógica do Reino dos Céus, em que Cristo será tudo em todos e viveremos unicamente para Ele. O voto de castidade professado livremente traz o compromisso de viver unicamente para Cristo, abrindo mão de construir uma família humana sobre esta terra e ser sinal do céu no mundo.

Em resumo, podemos afirmar que: a castidade diz respeito a todos e, como virtude, deve ser exercitada, fortalecida. Já o celibato, que traz em si um voto, é uma forma particular de seguimento a Cristo, é um chamado vocacional a estar mais estreitamente unido ao Senhor em vista de uma missão. Então, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Brincadeiras à parte, é muito bonito ver que Deus nos criou para o amor, pois nos criou à sua imagem e semelhança. Deus é amor. A castidade nos guarda no amor real, aquele que lemos em Coríntios 13, portanto nos guarda em Deus. Termino dizendo algo que aprendi de um sacerdote: se você quiser ser casto, busque ser antes de tudo humilde, pois a humildade é a mãe de todas as virtudes, assim como o orgulho é o pai de todos os vícios.

Deus nos abençoe e nos guarde.

João Carlos Nascimento
Consagrado da Comunidade de Vida com Promessas definitivas
Celibatário pelo Reino dos Céus com votos perpétuos

UM SIM DENTRO DE MIM

O chamado de Moysés Azevedo


 

Mesmo em meio aos desafios do tempo que se chama hoje, não é estranho que os jovens desejem se casar, aliás é algo natural. É uma feliz escolha que tem como fonte o amor humano entre um homem e uma mulher. Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom, também sentiu esse desejo em sua juventude. Mas o Senhor desfez seus planos e o convidou a viver um amor diferente, que para alguns é até incompreensível.

O missionário conta que namorou e até chegou a ficar noivo. “A minha vontade estava clara”, partilha Moysés. Mas ele, sobretudo, queria fazer a vontade de Deus. Em um momento de oração durante uma peregrinação a um santuário mariano na França, Moysés entregou sua vocação nas mãos de Maria. “Eu disse a Nossa Senhora que estava em uma situação crítica. Abri meu coração. Rasguei meu coração. Eu quero me casar, mas mais do que a minha vontade eu quero fazer a vontade do Teu Filho, ó Mãe”.

Ele partilha que durante a oração houve um belo canto em línguas e depois a interpretação em francês. “Para mim foi igual, pois não entendia nada, não sabia falar francês”, comenta. Na hora do lanche, uma jovem portuguesa comentou sobre o momento. Moysés disse que não tinha compreendido bem, mas que tinha achado tudo muito bonito e muito forte. “Ah você não fala francês”, disparou a menina. Então, traduzindo o que ele tinha vivido sem entender, a jovem disse que era o canto do magnífica de Nossa Senhora e que no final Maria tinha dado uma palavra de sabedoria.

 

Ao voltar para o Brasil, Moysés viu a necessidade de trilhar um caminho de discernimento com a jovem que estava comprometido. Com muita fé e esperança, os dois rezaram e foram acompanhados por uma terceira pessoa. Essa ajuda foi fundamental para melhor escutar a Deus. O missionário conta que lembra muito bem o dia em que o Senhor deu a ele uma confirmação decisiva, fechando o processo de discernimento em seu coração. “Eu estava dirigindo o carro e parei no sinal e aí Nosso Senhor falou ao meu coração: Moysés, você me ama? Você ama essa pessoa?”.

Dentro de si, Moysés era questionado por Deus acerca do amor que ele tinha pela garota. “Você está disposto a renunciar o amor humano em vista de um plano maior?”, relembra. Diante dessa indagação, o fundador destaca: “Pela primeira vez, veio um ‘sim’ dentro de mim cheio de alegria”. Esse “sim” estava marcado por uma paz e uma plenitude própria de quem acolhe a vontade de Deus mesmo em meio aos desafios e dificuldades do chamado. Moysés ainda narra que o sinal abriu e ele saiu dizendo ‘sim’ até chegar à capela que ia. Cada vez que pronunciava a palavra, a alegria só aumentava.

“Encontrei o meu lugar. O lugar que eu mesmo resistia. O lugar que Deus me chamava a consumar a minha vida para glória dEle e para uma oferta total. Eu descobri uma esponsalidade para amar Jesus nos outros”, resume Moysés.

 

O CELIBATO É PROFECIA

Saiba mais sobre o estado de vida


ANEL DE CELIBATO

É um sinal visível, próprio da Comunidade Católica Shalom, que identifica os membros celibatários. A aliança representa a fidelidade de um amor exclusivo a Deus em Jesus Cristo, o esposo das almas.

"Diz o Senhor: 'Neste tempo de grande ação de Meu Espírito, quero chamar jovens ao celibato. Quero a oferta de jovens que se sintam pequenos e fracos, mas que queiram se entregar por inteiro a Mim, como oferta, em favor da ação do Meu Espírito na Comunidade'”

Revista Escuta, 2018

"Atenção, jovens! No corpo da Comunidade, não pensem só em si mesmos. O Senhor pode estar chamando você a ser alguém que oferece a sua própria vida nesse sentido, como um misterioso remédio para fechar as brechas no corpo da Comunidade, por meio de um chamado e de uma vocação ao celibato pelo Reino"

Revista Escuta, 2020

"Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda"

Mateus 19, 12

 

EU SOU CELIBATÁRIA

Testemunho de Delni Bezerra


 

A apresentadora do programa Fazendo Barulho, Delni Bezerra, partilhou sobre o seu chamado ao celibato. A jovem de 23 anos conta como foi a condução de Deus até os primeiros votos nessa forma de vida específica. Ela é Shalom, Comunidade de Vida e celibatária pela graça e misericórdia do Senhor que muito a amou. A consagrada destaca que é na doação, na oferta e na missão que Deus vai revelando a sua santa vontade.

Desde o postulantado, Delni sentia o desejo de ser toda de Deus. Mas foi no discipulado que o processo de discernimento do estado de vida foi de fato aberto. “Eu sentia que era o celibato, mas era algo não oficial, pois Deus ainda não tinha dito com todas as letras”. Ao fim do ano formativo, ela foi enviada em missão para o Rio de Janeiro. Na bagagem, levou as palavras do Padre Rômulo que dizia: “Estado de vida é serviço”.

Retiro, Reciclagem e Célula

Delni participou do Retiro dos Candidatos ao Celibato e percebeu que realmente Deus a chamava a esse estado de vida. “Era isso mesmo, mas eu ainda não estava pronta para dar esse passo”, explica. De acordo com a missionária, o Senhor foi quebrando barreiras que a impediam de dar seu sim a Deus. Ela confessa que ainda chegava a se questionar: “Será que isso não é um amor esponsal mais aflorado? Vai que Deus quer que eu me case”.

No entanto, quando a jovem rezava Deus confirmava sua vocação. Em 2016, na Reciclagem, tudo a levava a pensar no celibato. Em uma oração, o Senhor a falou: “Hoje eu te chamo a ter segredos comigo”. Pronto. Delni partilha que teve uma forte experiência de rendição ao celibato nesse retiro. A partir disso, ela passou a ir assumindo o estado de vida. “Eu sou celibatária”, dizia para si. “Se você quer isso, eu me rendo”, dizia para Deus.

Na célula (um dos compromissos dos membros do Shalom), uma irmã de Comunidade perguntou se Delni estava caminhando para o celibato. A jovem confirmou e pediu oração. Essa irmã partilhou que quando rezava pela missionária Deus dizia que dava a ela a missão de viver a castidade e de ajudar muitos jovens a também vivê-la. “Essa foi outra confirmação da vontade de Deus”, ressalta. O celibato era uma cura, era um bálsamo, para a sua vida.

Mas só tenho 23 anos

“Eu fiquei com medo porque eu tenho 23 anos. Meu Deus, eu ainda sou muito jovem! E se eu me apaixonar?”. Esse questionamento habitou por um tempo o coração da jovem consagrada. No entanto, crescia dentro dela a certeza de que só experimenta a felicidade quem tem coragem de confiar. Ainda sobre a idade, ela escutou de sua formadora pessoal: “Você se acha muito jovem para viver a santidade?”. Delni compreendeu que só tem o hoje para dar seu sim a Deus.

O motorista da Uber

A reação das pessoas é engraçada quando descobrem que a jovem é celibatária. Algumas se assustam, outras sentem pena e compaixão, outras ainda admiram a escolha. Certa vez, ao pegar um Uber, escutou do motorista que namorar era bom e que não era pecado. Ele fez isso depois que ela partilhou que vivia o celibato. Com paciência, a jovem aproveitou a oportunidade para evangelizar. Apesar dele ter passado o caminho inteiro sem acreditar e acolher, Delni contou que já tinha namorado e que essa experiência, inclusive, a ajudou a entender que o seu estado de vida não era uma fuga.

 

EU SOU CELIBATÁRIO

Testemunho de Wendel Nobre


 

Meu nome é Wendel Nobre, tenho 24 anos e sou missionário da Comunidade Católica Shalom como Comunidade de Aliança na missão de Fortaleza. O que venho partilhar com vocês hoje é um pouco da minha história, aliás, mais que isso, o meu apaixonamento por Jesus, no celibato pelo Reino dos Céus.

Sempre fui um jovem normal que, apesar de acreditar em ideologias vazias, buscava viver a rotina natural de jovem de 17 anos. Estudar, trabalhar e sair com amigos. Porém, ao lado desta aparente normalidade, existia um grande vazio interior que não me permitia, muitas vezes, sentir-me um jovem totalmente feliz.

Foi então que, ao aceitar um convite de uma tia para participar do Festival Halleluya, no ano de 2011, experimentei o amor de Deus e o quanto Ele me desejava inteiramente, mesmo sem entender direito, meu coração dizia que deveria conhecer mais a Comunidade Shalom, e assim fiz meu Seminário de Vida no Espírito Santo e tornei-me ovelha de um grupo de oração.

O desejo de casar

Nos anos seguintes, conheci melhor a Comunidade Shalom e o chamado a vocação particular (enquanto missionário) a viver um vida consagrada em prol da humanidade e dos jovens como Comunidade de Aliança. Trilhei o caminho vocacional e, sentindo que era ali o meu lugar, disse sim ao chamado de Deus.

Tendo discernido minha vocação e crescendo em espiritualidade fui, ainda no postulantado, assumindo como natural o desejo de casar e constituir uma família afinal, nada mais natural para os membros da Comunidade de Aliança.

Portanto, no início do meu postulantado, eis que iniciei o caminho do namoro e, dentro dos meus projetos pessoais, claro, a oportunidade de crescer e amadurecer no amor ao outro e no autoconhecimento.

Tudo parecia bem, até que, mesmo sem minha, à época, namorada saber, pensei; “Neste início do meu discipulado, na minha reciclagem, vou pedir a Jesus para noivar!”.

Bendita reciclagem, bendito discipulado que interveio em meus projetos humanos! Nos primeiros dias, logo Jesus me haveria de surpreender. Uma passagem, num momento de súplica intensa, me interpela; “Filhas de Jerusalém, pelas cervas e gazelas do campo, eu vos conjuro: não desperteis, não acordeis o amor, até que ele o queira!”.

O término do namoro

Deste momento em diante, o ardor no meu coração e os diversos pedidos de sinais a Jesus sobre a sua vontade. Nenhum dos sinais, mesmo irrelevantes, foram esquecidos e eu, naquela reciclagem, entendi que Jesus me chamava a ser totalmente dEle.

Dor, vergonha, revolta e diversos bate-boca diante de Jesus marcaram os próximos sete meses após a reciclagem até o término do namoro. No início de fevereiro, em meio a lágrimas, terminamos, minha namorada e eu, nosso relacionamento de quase três anos.

No mesmo mês de fevereiro, qual surpresa teria, (estava ainda um pouco triste)  ao ser enviado a coordenar um Renascer numa Obra de Irradiação de Fortaleza. Jesus já falava, sua vida será consumida PELO REINO.

Ao retornar, no final do mesmo fevereiro, em Retiro de Planejamento, na Diaconia Geral, onde tive a graça de participar, Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom, durante um momento de oração proclamou a seguinte profecia:

"Diz o Senhor: 'Neste tempo de grande ação de Meu Espírito, quero chamar jovens ao celibato. Quero a oferta de jovens que se sintam pequenos e fracos, mas que queiram se entregar por inteiro a Mim, como oferta, em favor da ação do Meu Espírito na Comunidade'” .

O celibato não é apenas para a Comunidade de Vida

Foi o que faltava, percebi que, ao contrário do que pensava, o celibato não é sinônimo de solidão. O Reino de Deus não nos deixa a sós. O celibato não é a última opção. O celibato é a melhor opção para quem a ele é chamado. O celibato não é refúgio, fuga ou negação. O celibato é oferta, fecundidade e inteireza de coração. O celibato não é apenas para a Comunidade de Vida. O celibato é doação aos outros, mesmo nos meios seculares. O celibato não é apenas para mulheres. O celibato é também para homens que são eleitos pelo Esposo.

A partir de então, 13 de maio de 2018, iniciei o celibato formativo a fim de discernir meu estado de vida. Iniciei o caminho de preparação com retiros pessoais, de candidatos e por fim, após a reciclagem de 2018, escrevi meu pedido e em 2019, no início do ano, após recorrentes insistências de Jesus, mesmo sem saber se faria minhas primeiras promessas, enviei.

Hoje, 11 de junho de 2019, dia de São Barnabé, meu santo intercessor deste ano, apesar de toda a minha fraqueza, mesmo sem entender o porquê, aos 24 anos, jovem, homem, Comunidade de Aliança, farei meus primeiros votos no celibato pelo Reino dos Céus.

Ao professar os votos, trago comigo todos os jovens que, mesmo sem ainda terem descoberto, trazem a vocação a este belíssimo estado de vida!

Conto com vossas orações!

PELO JOVENS E PELOS POBRES!

DEPOIMENTOS

Celibato na Comunidade de Aliança


 

Allan Davidson - Celibatário

Deus foi me convencendo, me conquistando palmo a palmo, em partilha com meu irmão entediamos que o matrimônio dele gerava uma nova geração biológica na família quebrando as maldições humanas e o meu celibato as maldições espirituais, o celibato me reconciliava com o céu, realidade até então muito difícil de ser compreendida por mim.

Ana Paula Andrade - Celibatária

Meu estado de vida não é algo abstrato, eu posso sentir, posso tocar, no rosto de cada homem e mulher que o Senhor me leva a consumir minha vida, a doar sem medida, esteja onde eu estiver, na minha vocação, na minha família, nos meus estudos, trabalho, nos relacionamentos de amizade, aonde o Senhor me conduzir, pois descubro a cada dia que ser celibatária pelo Reino do Céu é morrer para si e gerar filhos para Deus e para a Igreja.

Everaldo Bezerra - Celibatário

 

 Vivo para Deus, pertenço a Ele, junto um tesouro que não passará, gozo de uma alegria que não é momentânea ao abraçar quem se desgarrou, acolher o que chegou, chorar com o triste, e sorrir com os que cantam, sejam eles irmãos, amigos ou desconhecidos, pois todos são meus filhos.

UM PENTECOSTES DE AMOR

Testemunho de Wallace Freitas


 

Meus olhos se abriram para o celibato com uma pregação de Moysés Azevedo, em 2018. Na ocasião, ele partilhou com os membros da Comunidade Católica Shalom os frutos do Retiro de Escuta do Conselho Geral. Moysés falou sobre uma profecia na qual Deus suscitava uma “geração de jovens enamorados”. E estes seriam gerados no ventre da Virgem Maria.

Na verdade, depois entendi que o chamado ao celibato não iniciou ali, mas cerca de um mês antes daquela partilha de Moysés, em Chaves (PA), na Expedição Missionária de 2018. Vivi uma forte experiência de paternidade ao dedicar-me àquelas crianças. Inclusive, boa parte delas não tinha presente a figura paterna. Levando aquela experiência para a minha oração, compreendi que ali era já uma semente do chamado à paternidade espiritual.

Posso dizer, então, que a semente do celibato foi plantada em mim em Chaves. Passaram-se cinco anos, desde aquela missão, mas ainda me lembro de cada rosto, nome e história. Depois disto, passei por um processo de discernimento para ir em missão como Aliança Missionária, e fui para Roma. Isto se deu meses depois do meu ingresso no Discipulado da Comunidade de Aliança. Partilhando com meu formador pessoal, discernimos que eu viveria o celibato formativo naquele ano.

Chegando em Roma, missão a qual fui enviado, comecei a viver o processo de adaptação da missão em si, da cultura, língua, vida comunitária, etc. E o caminho de discernimento do estado de vida acabou por ficar em segundo plano. Porém, apesar disto, deste aparente “segundo plano”, o meu coração sempre desejou ser todo dedicado a Deus e, naturalmente, fui me dedicando a tudo e a todos na missão. Sim, eu sei que todos somos chamados a isto, mas eu via tudo com um olhar especial, sabendo que tudo aquilo era feito por Ele, para mim.

Um fato engraçado no discernimento do celibato

Foi realizado um Acamps Summer Festival, em Budapeste, no ano de 2019, e, logo após o evento, foi promovido um retiro para celibatários. Eu, por um imenso desejo de rezar mais com este estado de vida, pedi para participar. O fato engraçado é que eu estava muito envergonhado por estar ali, sentia-me muito exposto, até porque o processo de discernimento do estado de vida é algo muito íntimo. E, para disfarçar um pouco, eu dizia que estava participando do retiro só para gravar as pregações (o que também era verdade).

Isso virou um grande motivo de brincadeira entre nós. Durante um momento de adoração, um irmão rezou por mim e disse que a minha vida é como a daquele homem da parábola, que encontrou um grande tesouro em um terreno e vendia tudo para comprá-lo. Ali, eu tive uma profunda confirmação do chamado de Deus. De fato, dou tudo, dou os meus dons mais preciosos, os meus maiores bens, para adquirir o “terreno celeste”, ou seja, dou tudo pelo Reino dos Céus.

Até “quis” me apaixonar...

Mesmo com esta condução de Deus, demorei muito para abrir verdadeiramente o meu coração ao celibato. Até “quis” me apaixonar, mas em tudo permanecia o ardente desejo de amar Deus de modo exclusivo. Oscilei muito no caminho, em meio às inseguranças e até mesmo preconceitos que tinha com este estado de vida. Pouco a pouco, Deus venceu tudo isto. O que permanecia, então, era a questão: Como posso pretender seguranças ou respostas humanas para aquilo que somente o Céu pode explicar?

Alcançado pela vitória de Deus sobre as minhas inseguranças e preconceitos, iniciei o caminho de discernimento. Neste caminho, o Senhor manifestou uma grande providência: iniciei o caminho de discernimento no mesmo dia em que o Papa Francisco instituiu o “Ano de São José”! Então, entendi: São José será o modelo do meu celibato. No mesmo momento, consagrei o meu celibato também a São José. Que grande providência é viver este caminho sendo conduzido por Jesus, Maria e José. Depois do caminho de discernimento, enviei a carta à Comunidade, pedindo para fazer os primeiros votos no celibato.

Um parêntesis

Um breve parêntesis. Em Roma, é muito tradicional a “Peregrinação das 7 Igrejas”. Muitos jovens se reúnem para peregrinar pela cidade de Roma, percorrendo o caminho que São Felipe Neri fazia, enquanto era pároco na cidade. Esta peregrinação dura toda a noite e nela participamos de visitas às igrejas, momentos de oração, rosário e pregações sobre os dons do Espírito Santo.

Fechando os parêntesis. Era dia 13 de maio e a peregrinação estava para iniciar, até que recebo uma ligação da minha formadora comunitária: a Comunidade confirmava o meu estado de vida e acolhia o meu pedido para fazer a profissão do voto no celibato! Quando desliguei a ligação, fiquei um pouco extasiado e, inspirado pelo Espírito, fiz a seguinte leitura: o meu celibato foi gerado em um “Pentecostes de Amor” (Escuta, 2018) e se concretiza quando entro na procissão, para ser “Testemunha da Ressurreição” (Escuta, 2021)! É isso!

O meu celibato é uma perene procissão: o Esposo Eucarístico à frente, Maria Toda-Pequena logo atrás e eu, no meio da multidão, trazendo comigo todo o povo que Deus me chama a amar através do estado de vida que Ele designou para mim. A consumação do meu celibato se dá no caminho, tendo o olhar sempre fixo no Esposo.

“É o Senhor que é Deus"

Professei o voto no celibato dia 8 de junho. A Liturgia da Palavra daquele dia narrava a oferta do profeta Elias e Deus que manda fogo do céu, devorando toda a oferta. No final da leitura, o profeta exclama: “É o Senhor que é Deus, é o Senhor que é Deus!” (cf. 1Rs 18,39). Assim, devorado por este imenso fogo de amor, que tudo consome, seja as pequenas como as grandes ofertas, exclamo com o profeta: É o Senhor que é Deus! E esta exclamação fazia-me lembrar de São Francisco de Assis, quando dizia que “é o Céu que sustenta a Terra”.

Somente depois, soube que o Conselho Geral da Comunidade estava reunido naquele mesmo dia que celebramos a profissão do voto, e que, na oração do Conselho, Deus aprofundava o aspecto da oferta de amor por meio daquela mesma leitura. Mais uma vez, pude sentir-me dentro da dinâmica profética que Deus introduz toda a Comunidade. Pude, então, ter a certeza de que sou fruto de uma profecia, de uma promessa de Deus para a Comunidade e para a humanidade mais necessitada.

O celibato, o filho espiritual e a feliz marca da Cruz 

No ano passado, durante a comemoração dos 40 anos de fundação da Comunidade Católica Shalom, fui surpreendido mais uma vez. Lembram que falei das crianças de Chaves? Então, reencontrei uma delas, um garoto, já não tão criança assim. Eu o perguntei: “Você lembra de mim? Eu te conheci quando estive em Chaves”. Ele respondeu: “Claro que eu lembro. Você me deu um crucifixo de presente”. Eu não lembrava deste fato, mas pensei na feliz marca que a Cruz pode gerar. E, em um dos dias da convenção, este mesmo garoto testemunhou que sentia um grande desejo de ser sacerdote. Aquilo comoveu a todos, uma vocação tão jovem e tão bela. Porém, a mim comoveu mais do que eu esperava, porque eu reconheci naquele garoto o rosto de um filho espiritual.

Assim, acolhendo de Deus todas as graças necessárias para viver o estado de vida que Ele desenhou para mim, e sendo atraído todos os dias pelo Esposo Eucarístico, sou lançado no Seu coração, sou lançado ao Outro e aos outros, sou consumido na oferta pelo Amor. Sim, o celibato é uma oferta de amor pelo Reino.

REFLEXÃO

O celibato e a "terra do contrário"


 

“Quem puder compreender, compreenda” – assim termina o versículo 12 do capítulo 19 no Evangelho de Mateus, muito frequentemente utilizado para fundamentar o chamado de Deus ao celibato. Mas quem são esses homens e mulheres de idades e temperamentos diferentes, jovens e adultos que se descobrem chamados a viver algo que Jesus mesmo sinalizava não ser compreensível a todos?

Eu mesmo sou celibatário há alguns anos e sempre gosto de me fazer a seguinte pergunta: Por que nem todos podem compreender? Às vezes, parece que alcançar esta compreensão é para alguns ainda mais difícil que para outros, inclusive, entre aqueles que trazem em si este chamado, esta escolha de viverem com o coração na terra do contrário.

E a pergunta me vem diante dos olhos enquanto escrevo neste exato momento: Por que nem todos podem compreender? Talvez, não consigamos esta resposta sobre esta terra e nem tenho a pretensão de traçar sequer um esboço até o fim deste texto, mas feliz com o fato de ter feito esta escolha para sempre, me aventuro, nesta reflexão, junto com você, que me acompanha neste momento.

Errará o alvo da reflexão aquele que tentar compreender este chamado apoiado na lógica desta terra, pois o celibato é sinal de algo que está para além do que vemos e experimentamos em nossos dias aqui. Sim, o celibato está na lógica do céu e não pode ser vivido, ou sequer refletido se não na lógica da “terra do contrário”, na lógica do Reino de Deus, onde quem perde ganha, quem se sacrifica vive feliz e quem renuncia recebe muito mais.

Na lógica desta terra, será incompreensível não construir uma família sem ganhar nenhuma recompensa, não terá lógica a continência e a castidade em um mundo que diz que você precisa de satisfação imediata, não terá sentido perder noites de sono para ajudar desconhecidos. Os bons cuidariam dos seus enfermos em seus leitos, mas quem cuidaria dos que não tem ninguém por si, dos que perderam ou nunca tiveram pai ou mãe?

Na lógica da terra do contrário, na lógica do Reino dos Céus, abre-se mão de uma família humana para se dedicar à família divina com seus incontáveis filhos, abre-se mão das satisfações imediatas para preparar a alma para o gozo da presença de Deus que habita a alma e o corpo. Nesta lógica contrária, abre-se mão da licitude de cuidar dos seus para cuidar dos de Deus e ser pai e mãe de quem desconhece tal cuidado.

Na terra do contrário, o não é um grande sim e jamais será uma negação ou fuga. Será uma escolha livre movida unicamente por um Amor maior que ao nascer e viver sobre esta terra também foi incompreendido. “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1, 11).

Aceitamos, enfim, que nunca seremos capazes de esquadrinhar os porquês, mas poderemos mirar o coração no lugar de onde tal chamado provém e ver ainda que de forma misteriosa que a resposta está apenas lá: no céu, na eternidade, onde o contrário é o direito e o logicamente humano desconhece os caminhos.

Mas, por fim, quem são eles? Quem são estes homens e mulheres, jovens e adultos? Quem são eles? Somos homens e mulheres feitos da mesma natureza que qualquer outro sobre esta terra, com anseios e medos, alegrias e dores, expectativas… Não somos heróis do tempo ou portadores de uma força angélica. Somos os fracos abrigados na força de um chamado.

Apoiados na Graça desejamos apenas corresponder ao pedido de Deus para sermos seus lembretes. Sinais de uma realidade que espera a todos sem exceção. Somos concidadãos do Céu, espalhados pelo mundo dizendo que o Reino está próximo.

João Carlos Nascimento
Consagrado da Comunidade de Vida com Promessas definitivas
Celibatário pelo Reino dos Céus com votos perpétuos

 

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