O bom confessor é antes de tudo um bom penitente», pois «ninguém pode ser sinal da misericórdia divina se primeiro não experimentou em sua própria carne tal misericórdia», reconhece o Pe. Amedeo Cencini, da Universidade Pontifícia Salesiana (Roma).
Afirma assim o conteúdo do discurso que, sobre a confissão, o confessor e o penitente, Bento XVI pronunciou recentemente ante os padres penitenciários das basílicas papais de Roma (Zenit, 19 de fevereiro de 2007).
«Instrumento ativo da misericórdia divina», o confessor — sublinhou o Papa — precisa «de uma boa sensibilidade espiritual e pastoral», «séria preparação teológica, moral e pedagógica que lhe permita compreender o que a pessoa vive», assim como «conhecer os ambientes sociais, culturais e profissionais de quem chega ao confessionário».
«Não se deve esquecer — acrescentava o Santo Padre — que o sacerdote, neste sacramento, está chamado a desempenhar o papel de pai, juiz espiritual, mestre e educador», coisa que «exige uma atualização constante».
E sublinhou ante os sacerdotes a impossibilidade de «pregar o perdão e a reconciliação aos outros» se não se está «pessoalmente penetrado por ele», concluindo com um chamado a «redescobrir e voltar a propor este sacramento».
A partir desse discurso, em uma entrevista difundida na sexta-feira pelo Serviço de Informação Religiosa «Sir» da Conferência Episcopal Italiana, o padre Cencini — também professor do Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana de Roma –, advertiu sobre um «dado inquietante».
«Honestamente — disse, tem-se a impressão de que nem sempre o sacerdote outorga a adequada relevância à dimensão penitencial da vida cristã, em termos de importância pastoral e, portanto, de preparação pessoal, de tempo a ela dedicado, de estratégia educativa», de onde se deriva o risco «de fazer os fiéis considerarem a experiência da confissão como menos importante.»
Questão de filiação
A relevância do expressado está em que «na vida cristã, a descoberta e a experiência do próprio pecado é o outro lado, complementar, da experiência de ser filhos», alerta o Pe. Cencini.
Isto é, «é a descoberta do pecado o que faz descobrir quão grande é o amor de Deus por mim, dado que me perdoa tudo — declara –, e é a experiência da paternidade de Deus misericordioso o que me faz reconhecer a gravidade de meu ato transgressor».
«Em outras palavras, só o pecador pode desfrutar e comover-se ante o abraço do pai, e só o filho pode admitir a gravidade de suas culpas», sintetiza.
Questão de formação e vivência
É aí onde «a formação inicial dos sacerdotes é um ponto delicado: o bom confessor é antes um bom penitente», assinala o Pe. Cencini, consultor há mais de uma década da Congregação vaticana para a Vida Consagrada.
«O estudo da teologia moral não pode ser simplesmente o estudo de uma complexa casuística ou a aquisição de normas para avaliar comportamentos, que se deve revisar periodicamente, mas que é um todo com a experiência pessoal do próprio pecado perdoado e redimido, para dar espaço a uma séria preparação capaz de compreender a vivência das pessoas.»
Isso marca igualmente «a necessidade, também para os futuros sacerdotes, de levar a cabo essa peregrinação penitencial que reúne todos os crentes para descobrir as próprias debilidades e fragilidades não só psicológicas, mas também espirituais», indica.
E implica, para todos, «redescobrir a sacralidade da confissão» — afirma o Pe. Cencini: entendê-la «como nova criação», «não simplesmente para suprimir os pecados cometidos, mas para voltar a pôr a própria vida nas mãos do Criador».
«É esta a dimensão sacra da confissão, que faz dela um verdadeiro renascimento espiritual capaz de transformar aquele que se arrepende em uma nova criatura», conclui.
Fonte: Zenit