Formação

Cidadania à luz da Palavra

comshalom

cidadaniaaMais uma eleição se aproxima e mais uma vez nós cristãos somos chamados a exercer não apenas um dever civil, mas um dever evangélico, dando testemunho da verdade. O papa Paulo VI já defendia que quando um cristão se descuida de seus deveres temporais há uma falta no dever para com o próximo e até para com Deus e se põe em risco a própria salvação1. Exercer a cidadania através do voto é, então, um ato de amor à Deus e ao próximo. No entanto, exercer este ato de amor exige coerência com os valores inalienáveis do Evangelho.

As campanhas políticas são permeadas de boas intenções, promessas encantadoras, discursos humanistas e de defesa de uma nação democrática. Os candidatos, quando questionados acerca de temas mais polêmicos como o aborto ou legalização das drogas, tentam mesclar os valores da justiça, da ética e da moral com a democracia, através de frases como “eu pessoalmente sou contra, mas em nome da democracia (…)”. Esquece-se que foi em nome da democracia que países como a Holanda passaram a permitir legalmente o aborto, a eutanásia, a prostituição, o uso de drogas, chegando até mesmo a constituir um partido político pedófilo, como foi o caso do PNVD holandês. No entanto, a reta democracia existe em favor do homem, da vida humana e deve sempre respeitar os direitos referentes à sua dignidade2, mesmo quando a verdade não coincide com a opinião da maioria3, como afirmara o papa João Paulo II. 

Frente a decisões tão importantes no exercício da cidadania, não se pode simplesmente confiar nesta opinião geral ou nos ditames de uma democracia mitigada, fruto do relativismo moral. A Palavra de Deus é um instrumento eficaz e de grande utilidade para conduzir o homem de todos os tempos à justiça e à santidade4. É o próprio Salmo que nos diz “Com teus preceitos sou capaz de discernir e detestar todo caminho mau. Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho”5. Descobrimos nas Sagradas Escrituras que a verdade é uma, não passa, não se corrompe, não se compra e não se modifica ao longo do tempo6. Firmes e obedientes à esta Palavra, não seremos mais joguete das ondas, presos pela artimanha dos homens e astúcia daqueles que querem nos conduzir ao erro7. A Palavra é como uma espada que nos defende e socorre do fundo de maldade existente no coração de cada homem pecador8. Esta espada penetra até o fundo da alma e separa as sementes do egoísmo, da vaidade, do orgulho, da sede de poder, de prazer e do possuir, permitindo que sejam germinadas aí as sementes da paz, da misericórdia, da fidelidade, da justiça e da caridade.

Mais importante do que falar sobre as Sagradas Escrituras é ler e rezar com ela. Tome sua Bíblia e confira algumas verdades essenciais que devem iluminar especialmente nossa consciência cidadã e cristã neste período eleitoral:

· O homem foi criado livre e constituído em dignidade, pois foi criado à imagem e semelhança de Deus que é Amor (Gen 1,26; Jo 4,16, Salmo 8,4-9). Assim, ele deve ser respeitado e protegido em seus direitos e jamais ser instrumentalizado, ser tido como “coisa” ou meio para se chegar a determinados fins. O homem deve ser o bem mais precioso de uma sociedade, de uma instituição, empresa ou governo9.

· O homem, em sua sexualidade feminina ou masculina, foi criado para ser um dom, para ser amor e para se oferecer como um socorro de Deus ao próximo, pois desde a criação Deus viu que não era bom que este estivesse só (Gen 2,18; Gen 1,27)10. Cabe ao homem o dever de cuidar, proteger e zelar pelo seu próximo, amando-o como a si mesmo, responsabilizando-se pelo bem do outro e agindo com caridade (Eclo 29,19; Mt 22, 39; Lv 19,18; Mt 7, 12; Isa 1,17; Lc 10, 27-37, I Cor13,3). O exercício da cidadania, o cumprimento dos deveres pessoais, o respeito pelo direito do outro e a busca da justiça partem destas premissas.

· A vida é um dom sagrado que vem de Deus e encontra Nele o único Senhor que a sustenta, a consagra e dela pode dispor. A Palavra está repleta de referências sobre a sacralidade e a inviolabilidade da vida humana, bem como o respeito que se deve ter com a vida do próximo (Dt 32,39; I Sm 2,6; Ex 20,13; Ex 23,7; Ex 21,12-27; Salmo 138/139,13-16; Jer 1,5; Jó 10,8-12; II Mac 6,23; Lv 19,32; Salmo 91/92,15). Deste modo, percebemos ser incompatível com a fé cristã políticas contrárias à vida desde sua concepção até seu último instante, seja na velhice, seja na enfermidade. Encontramos no aborto, na eutanásia, no uso de células-tronco embrionárias, na falta de cuidado e amparo ao idoso ou ao enfermo, no homicídio, no genocídio, nas mutilações e no terrorismo graves ameaças a este precioso dom. A vida é um valor inviolável que deve ser o objeto primeiro de toda e qualquer democracia, não podendo estar à mercê de opiniões pessoais ou coletivas que mudam como o vento11.

· O trabalho dignifica o homem e lhe confere oportunidade de se desenvolver, de sustentar os seus, de gerir com liberdade e responsabilidade a vida e promover o bem comum de sua comunidade, à exemplo das primeiras comunidades cristãs (Atos 4,32-35), a fim de que não haja nenhum necessitado. Foi Deus quem deu ao homem a liberdade e o direito sobre a criação (Gen 1,28-30) para governá-la com santidade e sabedoria conforme sua consciência (Eclo 15, 14). Ele deve respeitar o bem alheio (Ex 20,17) e encontrar no o fruto do seu trabalho alegria e satisfação (Isa 3,10; Ecle 5,17; Ecle 2,24; Salmo 127,2; I Tes4,11-12). A ociosidade sempre foi criticada na Palavra de Deus (Prov 31,27;Eclo 33,29; Eze 16,49; II Tes 3,7-15). Um governo justo deve permitir ao homem escolher sua profissão, exercer suas aptidões pessoais, explorar suas capacidades intelectuais e físicas e desenvolver as próprias potencialidades. Deve ainda garantir condições dignas de trabalho, de educação e salários justos, a fim de que o homem tenha a oportunidade de exercer a caridade, a generosidade com os menos favorecidos (Ef 4,28; Jo 12,4-8; Dt 15,11).

· A família é a primeira forma de comunhão de pessoas12. Através dela o homem vive o mandamento de Deus “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gen 1,28) como um sinal da fecundidade do amor da Trindade. A família é berço do amor, das virtudes, da fidelidade e escola da fé (Ex12,25-27; Ex 13,8.14-15; Dt 6,20-25; Dt 13,7-11; I Samo 3,13, Pr 1,8-9; Pr4,1-4; Pr 6,20-21; Eclo 3,1-167; Eclo 7,27-28). Os filhãos são tesouros, bênçãos de Deus (Salmo 126/127,3; Salmo 127/128, 3-4). A destruição da família e de seus valores incorre na destruição de todo um povo, com seus valores e costumes. Os direitos da família devem ser respeitados e protegidos segundo a lei natural e moral. A lei natural, evidente no próprio corpo do homem e da mulher, reflete sua complementariedade e fecundidade. A lei moral, confere ao matrimônio o lugar propício e devido à procriação e à união no amor, ambiente este selado e testemunhado pelo compromisso de vida dos cônjuges (Gen 2,24; Mt 19,5-6; I Cor6,16-18, I Cor 7,28; Ef 5,3; Gal 5,19; Tob 4,13; Eclo 41,21). Tenha-se atenção ante as políticas que queiram tirar da família o direito sobre a educação dos filhos segundo os valores e costumes próprios, que inviabilizem as condições de se exercer uma paternidade responsável e livre das pressões econômicas, que queiram modificar as características e finalidades do matrimônio ou que desrespeitem a dignidade desta união.

 Ao final desta leitura, somos convidados a confrontar a Palavra de Deus, lida a partir dos ensinamentos da Mãe Igreja, com aquilo que os atuais candidatos e seus partidos políticos nospropõem. Devemos então nos revestir com a couraça da justiça, o escudo da fé e a espada do Espírito13, para que possamos permanecer firmes e inabaláveis diante do cumprimento dos nossos deveres.

Formação: Setembro/2010

09.09Em um mundo marcado pelos traumas e medos, onde as pessoas se sentem paralisadas e por isso muitas vezes deixam de viver normalmente, este livro surge como uma luz no fim do túnel, trazendo respostas à luz da Palavra de Deus para ajudá-las a superar os desafios hodiernos. Com uma linguagem muitos simples a Emmir Nogueira, traz relatos vivenciados ao logo da sua vida, onde testemunhou e ajudou pessoas a superarem os seus bloqueios e medos. Com certeza, você conhece alguém que vai precisar desse livro.

Adquira o seu [AQUI]


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.

  1. A propósito: Corpus Christi não é feriado nacional civil brasileiro; para valorizar e dar consistência a esta celebração católica, considere-se futura transferência dela para o domingo seguinte à data atual.