As nuvens se uniram, tempestuosas, pesadas e escuras. O céu deixou de ser azul. Escureceu. As crianças pararam de brincar e entraram em casa. Os transeuntes procuraram abrigo, esconderijo, correram pra se proteger. As ruas ficaram vazias. O vento varreu as folhas, caíram as primeiras gotas de chuva e com elas a sensação de abandono e tristeza instalou-se naquele dia sem cor.
Era cinza. Entre o branco e o preto, entre a luz e a treva, lá estava a cor triste. A cor que lembrava a destruição, tudo o que é consumido pelo fogo. A cor que lembrava a morte, o gris que rouba o brilho de nossos cabelos quando estamos no fim desta vida. As partículas suaves depositadas em nossa fronte, trazendo uma ordem e uma lembrança: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, “Pois tu és pó e ao pó retornarás”.
Uma quarta-feira, quarenta dias. De Noé durante o dilúvio, de Moisés para receber a Lei, do povo judeu no deserto, do Egito para a terra prometida, de Elias para chegar ao monte e se encontrar com Deus, dos cidadãos de Nínive para obter o perdão de Deus. Quarenta anos duraram os reinados de Saul, Davi e Salomão, os primeiros reis de Israel. Quarenta dias para Maria e José apresentarem Jesus ao Templo, quarenta dias de Jesus retirado no deserto. Quarenta dias de Jesus ressuscitado instruindo seus discípulos, antes de subir aos céus e enviar seu Espírito.
Quarenta dias. Tempo de espera, expectativa, purificação, mortificação, deserto, abandono e confiança em Deus e suas promessas. Tempo de conversão, tempo de voltar. Tempo de penitência, jejum, esmola. Tempo de rasgar o coração. O tempo se fechou, é hora de procurar abrigo, esconderijo, sobriedade e silêncio. De confessar humildes e arrependidos a fraqueza e fragilidade de nossa condição humana. Na solidão acompanhada das profundezas de cada alma, a recordação de que a vida é efêmera e passageira e só há sentido na eternidade do Filho que deixa a companhia perfeita de seu Pai, para assumir em plenitude a fraqueza de nossa carne. Tão somente por amor e compaixão.
Eis o tempo favorável. Cinza. Nublado. Escondido. De conversão.
Shalom!
Redação Comunicação Belém