Parece que foi ontem o momento em que recebi da então secretária vocacional da minha missão a resposta de que eu havia ingressado no postulantado da Comunidade de Aliança. De início, fiquei confusa, “é isso mesmo que eu estou pensando, Jesus?” Logo veio então a alegria: “Sim! É isto! Estou na Vontade de Deus!”. Nessa alegria tão autêntica, porém, haviam tons de uma ingenuidade própria daquele tempo, de um amor que ainda começava a dar botões de flor.
Hoje, consagrada a Deus neste Carisma, contemplo no que consiste e o que de fato é a alegria de estar na Vontade de Deus, e para descrevê-la, me valho das palavras de Teresa D’Ávila:
“Que mandais, pois, Bom Senhor, que faça tão vil criado?
Qual ofício haveis dado a este escravo pecador?
Amor Doce, Doce Amor, vede-me aqui fraca e ruim:
Que mandais fazer de mim?
Eis aqui meu coração, deponho-o em vossa palma.
Minhas entranhas, minha alma, meu corpo, vida e afeição.
Doce Esposo e Redenção, a vós, entregar-me vim:
Que mandais fazer de mim?”
Está contido nas entrelinhas das palavras da nossa Baluarte o segredo, a chave de leitura da autêntica vida de um consagrado: estar Nas Mãos de Deus. Instrumentos insuficientes que somos, constrangidos e interpelados por um amor que nos leva a desejar dar tudo, tudo realizar e a tudo nos dispor, encontramos em Deus e no Carisma o caminho para satisfazer essa urgência própria do nosso ser consagrado.
O Senhor nos chamou a esta Magnífica vocação e, com alegria, aceitamos esse chamado. Ao aceitá-lo, aceitamos também desposar o lugar da Vontade de Deus para nós: a Comunidade Católica Shalom e, desposando-a, desposamos também suas estruturas, belezas, até mesmo seus limites e fragilidades, fazer cumprir em nós o chamado divino, não só naquilo que nos agrada, mas também naquilo que nos incomoda, no que gera questionamentos.
O que para o mundo é loucura, é para nós sabedoria, pois somente dessa maneira poderemos compreender a resposta de Deus para esta pergunta que, junto com Teresa D’Ávila, bradamos: “Que mandais fazer de mim?”
A essa pergunta, Deus nos responde não de maneira abstrata, mas na concretude do ordinário da nossa vida, nas ofertas diárias, na busca e desejo pela Eucaristia, na vivência dos nossos ministérios, apostolados, células comunitárias, vigílias, na escuta e diálogo com nossas autoridades, nos tantos sacrifícios ditos e não ditos que livremente escolhemos abraçar.
Não é por acaso que a Santa que nos ensina a orar nos ensina também a viver a obediência e amar a Vontade de Deus no concreto. É da oração que brota a força para abraçarmos todos os desafios que fazem parte da nossa vida, e ao abraçá-los, acolhemos com eles todas a bênçãos e alegrias, pois nessa vocação não é possível separar a Cruz da Ressurreição.
Eis aí a experiência que faço da verdadeira alegria de estar nas Mãos de Deus: abraçar e viver o caminho de cruz, para a cada dia poder colher a Ressurreição.
Feliz dia de Santa Teresa D’Ávila!
Shalom!
Ana Cibelly, Consagrada da Comunidade de Aliança
Missão de Natal