Entenda como identificar um dependente químico e de que maneira você pode ajudá-lo
Durante todo o mês de Junho, a Comunidade Católica Shalom viveu a Campanha Vida Quero Mais de combate e prevenção as drogas. Diversas ações foram realizadas também na missão de Santo André. No último dia 28 de Junho, a Campanha se encerrou com uma mesa redonda que contou com a presença de diversos profissionais da saúde e pessoas que contaram sua experiência com o assunto, com o intuito de tirar dúvidas a respeito de como identificar, lidar e ajudar um dependente químico.
Porém o assunto é extenso e somente as duas horas de debate não foram suficiente para sanar todas as dúvidas. Por isso, trazemos hoje algumas questões que ficaram em aberto, reforçando que devemos ter atenção e cautela com o tema sempre e não apenas em ocasiões específicas. Confira a seguir algumas questões que foram respondidas pela assistente social Maria Solange Brainer.
Mesa Redonda: Drogas e suas consequências
Perguntas e Respostas
1- Baseado no que foi dito sobre o uso das drogas, um individuo que está sob efeito de drogas e comete um crime, ele não tem nenhuma noção ou pouca noção do ato que está fazendo? Mesmo depois de passar o efeito da droga?
Resposta: O efeito da droga no indivíduo, nunca será como a primeira vez. O primeiro uso fica registrado em seu consciente, pode ser uma experiência extraordinária, ou ao contrário uma experiência negativa. O indivíduo pode cometer crime após o uso de drogas, para adquirir coragem ou por necessitar de dinheiro para comprar mais drogas. Mas diante do ato infracional se tratar de jovem adolescente até 18 anos, ele será encaminhado para Fundação CASA e cumprirá pena conforme as características do ato infracional (privação de liberdade, liberdade assistida ou serviço comunitário). Se o individuo for maior irá responder criminalmente, seu advogado poderá alegar que está sob efeito de drogas para amenizar a pena, ou passar por perícia médica e constatar transtorno mental, cumprindo assim pena em hospital penitenciário.
2- Antidepressivo e ansiolíticos causam dependência?R: Sim
3- Podem ser consideradas drogas?R: Sim
4- Existe um limite para o uso de medicamentos chamados “tarja-preta”?
R: Para ministrar qualquer tipo de medicamento é obrigatório passar por avaliação médica, a população brasileira se automedica, sendo este um risco para a saúde e a pessoa pode se tornar dependente de medicamentos. A Indústria farmacológica investe milhões para que a população resolva todos os seus problemas existenciais na cura milagrosa de medicamentos. Atualmente há um controle das medicações, com receitas aprendidas nas farmácias, o consumidor necessita fornecer documentos de identificação, endereço, telefone e o CRM do médico que prescreveu a medicação. Devido à falta de fiscalização rigorosa existe tráfico de medicamentos.
5- É certo o uso de drogas para tratamento de alguma doença?
As drogas são definidas como toda substância, natural ou não, que modifica as funções normais de um organismo. Também são chamados de entorpecentes ou narcóticos. A maioria das drogas são produzidas à partir de plantas (drogas naturais), como por exemplo a maconha, que é feita com Cannabis ativa, e o Ópio, proveniente da flor da Papoula. Outras são produzidas em laboratórios (drogas sintéticas), como o Ecstasy e o LSD. A maioria causa dependência química ou psicológica, e podem levar à morte em caso de overdose.
6- Medicamento é um produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. A maconha também pode ser usada para fins medicinais e atualmente está sendo ministrada em pacientes em fase final de câncer e para controle de epilepsia em pacientes que tem mais de 40 convulsões diárias, tendo um bom resultado terapêutico.
O que a igreja pensa sobre isso?
Bíblia
Palavra de Deus
“Eclesiástico, 38 1.Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. 2.(Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei: 3.a ciência do médico o eleva em honra; ele é admirado na presença dos grandes. 4.O Senhor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não os despreza.”
7- A vivência com o dependente químico.
Os impactos que a dependência de drogas gera na vida dos familiares podem originar a quebra da rotina, além de sentimentos de vulnerabilidade, desamparo e frustração, quanto a conviver com a doença e tratamento. Há agravamento de conflitos já existentes, ameaçando a relação familiar. Para se falar em abuso das drogas, os desafios nesse campo envolvem o preconceito e as exigências para o enfrentamento. Na prática, o conviver com esses familiares muitas vezes acarreta insatisfação relacionada com a dificuldade em se obter um resultado satisfatório em curto prazo. Pouco se fala sobre como os familiares vivenciam essa situação, a qual se deve buscar compreender as estratégias de enfrentamento que utilizam para lidar com ela. Sentimentos e atitudes relacionados a ser familiar de um dependente são identificadas como dó, impotência, desgosto, raiva, ódio, vergonha, culpa, incapacidade, medo da agressividade e humilhação.
Como lidar?
Entendemos que o tratamento da dependência de drogas exige uma abordagem integrada das diversas dimensões implicadas num enfoque multidisciplinar, mas também no conhecer da vivência desses familiares e de suas estratégias de enfrentamento. Trabalhando dentro de uma proposta sistêmica e partindo daquilo que as pessoas têm como possibilidades e competências, bem como do envolvimento da família no cuidado. A família é de fundamental importância na vida social do dependente, muitos destes familiares se tornam co-dependente, desenvolvem comportamentos disfuncionais em relação ao consumo abusivo de drogas do familiar. Necessitam de capacitação, psicoeducação e serem incluídos em grupo de apoio, como por exemplo, “Amor Exigente” entre outros. Para desenvolverem mecanismo e estratégias de enfrentamento de como lidar e conviver com o adicto no âmbito familiar.
8- Qual a diferença da dependência psíquica e química?
A dependência química é um estado resultante do uso habitual de drogas (ou qualquer substância química, incluindo álcool e até medicamentos), no qual existem sintomas físicos negativos de abstinência quando há interrupção abrupta e que é causada ou precipitada por um complexo de fatores genéticos, bio-farmacológicos e sociais. A dependência química é uma doença crônica e reincidente, que envolve mudanças no cérebro que levam ao consumo compulsivo de drogas – sempre com conseqüências devastadoras.
A decisão inicial de usar uma droga é voluntária, mas seu uso crônico pode precipitar mudanças cerebrais que comprometem os sistemas de recompensa, motivação e mesmo o livre-arbítrio. Por que “QUÍMICA”?Por que se refere ao fato de que o que provoca a dependência é uma substância química. O álcool, embora a maioria das pessoas o separe das chamadas “drogas ilegais”, é uma droga tão ou mais poderosa em causar dependência química em pessoas predispostas quanto qualquer outra droga – ilegal ou não.
A dependência é diferente de vício. O vício é caracterizado como um mau hábito e a dependência é caracterizada por uma necessidade compulsiva em relação ao objeto da compulsão, do desejo.
Dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma substância química de forma contínua (sempre) ou periódica (freqüentemente) para obter prazer. Para entender a dependência, o objeto de compulsão não é tão importante. Uma pessoa pode ser dependente do trabalho, do jogo ou das compras, das drogas, da comida, do álcool, de sexo – qualquer coisa feita de forma freqüente e compulsiva, da qual a pessoa não consegue se livrar e é absolutamente impotente perante ela. No caso da dependência química, a pessoa é totalmente dominada pela substância, podendo passar pela SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA se privada do uso da droga ou álcool.
Dependência psíquica
É a dependência fundamental. A dependência psíquica se instala quando a pessoa é dominada por um impulso forte, quase incontrolável, de se administrar a droga à qual se habituou, experimentando um mal-estar intenso (“fissura”), na ausência da mesma. Condição na qual uma droga produz um sentimento de satisfação e um impulso psicológico, exigindo uso periódico ou contínuo da droga para produzir prazer ou evitar desconforto.
Apego ao estado onde as dificuldades do usuário são momentaneamente apagadas pelos efeitos da droga que acaba por preencher a necessidade de “soluções” imediatas. Os psicotrópicos causam uma mudança no psiquismo, da qual as pessoas podem passar a depender. Em geral, estes efeitos são prazerosos.
As duas afetam a parte cognitiva?
As duas dependências psicológicas e químicas afetam sim o cognitivo, sendo necessário tratamento médico.
9- O uso de álcool ou drogas pode desenvolver transtornos mentais ou doenças psíquicas?
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define o alcoolista como um bebedor excessivo, cuja dependência em relação ao álcool é acompanhada de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do comportamento social e econômico. É importante registrar que, na maior parte das vezes, o início de uso de substâncias psicoativas se dá no lar, com substâncias lícitas e contando com a anuência implícita ou explícita dos pais. As comemorações familiares costumam oportunizar especialmente o uso de tabaco e de álcool, frequentemente presentes até mesmo em festas de primeiro ano de vida das crianças da família.
Na progressão, desde a experimentação até os problemas, a substância vai assumindo um papel progressivamente mais importante na vida do usuário. Suas atividades e seu círculo social vão ficando cada vez mais associados ao uso, surgindo, então, problemas de natureza familiar, sociais, legais, financeiros e físicos, entre outros causados pela droga. Considera-se abuso de drogas quando o uso ultrapassa qualquer padrão social ou médico aceitos para o uso desta substância e isso está causando prejuízos a vida do usuário em um ou mais dos aspectos citados acima. Já a dependência ou uso compulsivo implica uma necessidade (“fissura”) pela droga, seja de natureza psicológica ou física.
Neste último caso, o organismo da pessoa adaptou-seà droga (tolerância) e apresenta sintomas quando de sua retirada. Existe um número muito grande de substâncias psicoativas de uso corrente que podem ser classificadas de diferentes maneiras.
Abaixo encontramos apenas informações sobre as drogas de maior significado pela frequência e disseminação de uso.
Um indivíduo pode tornar-se alcoolista devido a um conjunto de fatores, incluindo predisposição genética, estrutura psíquica, influências familiares e culturais. A dependência alcoólica traz grandes problemas e consequências ao indivíduo, tanto físicas quanto psíquicas, que podem, na maioria das vezes, causar prejuízos no trabalho, desorganização familiar, comportamentos agressivos (p.ex., homicídios), acidentes de trânsito, exclusão social, entre outros. As doenças físicas consequentes do alcoolismo são de origem gastrintestinal, como úlceras, varizes esofágicas, gastrite e cirrose; neuromuscular, como cãibras, formigamentos e perda de força muscular; ou cardiovascular, como a hipertensão; além de impotência ou infertilidade. Os transtornos mentais, associadas ao alcoolismo são o delirium tremens; a demência de Korsakoff13; as perturbações psicóticas do humor,da ansiedade ou do sono; e a disfunção sexual.
Como saber que a pessoa tornou-se dependente delas?
A identificação precoce do alcoolismo é difícil, pois os prejuízos intelectuais, psicológicos e físicos não se mostram tão evidentes nos estágios iniciais. Para esse diagnóstico, é válido observar as seguintes indicações:
- a frequência de doenças menores (pequenos acidentes, inflamação da mucosa gástrica, distúrbios vegetativos e dores);
- instabilidade na marcha como expressão de um princípio de neuropatia;
Dependência do álcool: aspectos clínicos e diagnósticos
- sintomas de síndrome de abstinência de álcool (enjoos e náuseas matinais, tremor, medo e apatia);
- consumo de álcool pela manhã;
- beber escondido;
- mudanças de domicílio e de emprego sem motivo aparente.
10- Quanto a Cracolândia: a internação compulsória é válida?
Sim, pela legislação vigente: Lei 10216/01 | Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001
Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II – internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; III – internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Por estas pessoas não terem contato com a família, não seria esta a única forma de auxiliá-las? É uma alternativa de auxilio. É verdade que, por causa do crack, estas pessoas não têm mais a capacidade de tomar decisões? Não tem como afirmar esta capacidade, somente uma avaliação psiquiátrica, pode afirmar as condições psicológicas do usuário. Ou existe reversão para isso? Pode ser que sim, cada caso é um caso.
Ficou com alguma dúvida ou quer esclarecer alguma questão? Procure os irmãos da Promoção Humana, todas as quartas-feiras das 20h às 22h no Centro de Evangelização Shalom Santo André ou de segunda à sexta das 14h às 22h com os demais irmãos da Comunidade.
Serviço
Missão de Santo André
Rua Dom João VI, 102 Bairro Casa Branca – Santo André
Telefone: (11) 2324-6440