Desde que compreendi que o trabalho não era apenas um ganha-pão, dediquei tempo para discernir meus passos profissionais. Minha primeira transição de carreira ocorreu em 2020, quando surgiu em meu coração o desejo de empreender, apesar de já ocupar um cargo público como concursada há quase 10 anos. Era um grande dilema abandonar um emprego estável e me aventurar em algo incerto.
Rezei por um ano com o auxílio da formação pessoal e comunitária, utilizando meus recursos na Comunidade de Aliança Shalom. Após um extenso período de reflexão e oração, solicitei minha exoneração e iniciei o empreendimento. Desde então, fechei um negócio, abri outro e continuo em constante discernimento para compreender a vontade de Deus para minha vida profissional, reconhecendo que a cada momento Ele tem uma missão para mim. Isso permite que eu contribua de maneira mais efetiva através do meu trabalho para a santificação do mundo.
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Com base nessa experiência, compartilho os principais pontos a serem considerados no discernimento de uma profissão. Vou além das considerações comuns, como verificar as condições financeiras e avaliar o impacto na vida familiar e vocacional. Quero propor uma reflexão sobre APTIDÃO e NECESSIDADE.
Nos Estatutos da Comunidade Católica Shalom, no artigo 132, que trata da vida profissional da Comunidade de Aliança e serve como orientação para leigos de outros institutos ou comunidades, está escrito:
“Os membros da Comunidade de Aliança exercerão suas profissões de acordo com suas aptidões e necessidades”.
Aqui estão os pontos principais para um bom discernimento profissional.
Ao buscarmos o significado da palavra aptidão, percebemos que se refere a uma disposição inata ou adquirida para determinada coisa, e/ou requisitos necessários ao exercício de certa atividade. No contexto profissional, podemos dividir aptidões em habilidades comportamentais e técnicas, conhecidas como soft skills e hard skills. Ao decidir por uma nova carreira, é crucial analisar se possuímos as habilidades comportamentais ou técnicas necessárias para exercê-la. Caso falte alguma aptidão, é preciso avaliar a possibilidade de adquirir novas habilidades, considerando os custos envolvidos. Se não houver recursos suficientes para investir em uma nova carreira, o tempo de espera pode ser prolongado, ou então, é possível explorar outras opções profissionais que melhor aproveitem as aptidões já existentes, em vez de buscar novas.
Em um período em que trabalhava na área de Inteligência de Mercado, desejava migrar para Ciência de Dados, mas carecia das habilidades técnicas necessárias, possuindo apenas as comportamentais. O processo de aprendizado seria dispendioso tanto em tempo quanto financeiramente. Após avaliar as opções, optei por migrar para a área de consultoria de empresas, pois atuaria de certa forma com inteligência de mercado e não precisaria investir em uma nova graduação. Bastava iniciar alguns projetos e adquirir mais experiência.
Portanto, a aptidão deve ser analisada de maneira prática, com a virtude da prudência, por meio de uma lista de prós e contras. Às vezes, tendemos a romantizar e buscar muitos sinais miraculosos de Deus, esquecendo que Ele nos concedeu inteligência, razão e vontade para tomarmos decisões de forma livre e consciente.
No que diz respeito à palavra necessidade, ela se refere ao que não pode ser evitado; algo inevitável. É uma carência, algo imprescindível. Como podemos avaliar nossas necessidades ao escolher uma profissão?
A forma mais simples é analisar em qual momento da vida estamos. A mudança de carreira é uma necessidade de sobrevivência ou de realização pessoal? Sobrevivência diz respeito às necessidades básicas para a subsistência sua e de sua família, quando falta o essencial para uma vida digna, como questões de saúde física e mental, entre outros. Já a realização está relacionada aos anseios mais profundos do ser humano, como ajudar pessoas, deixar sua marca no mundo, reconhecimento, um estilo de vida mais leve e saudável, satisfação no que se faz, etc. Identificar se você está em um momento de sobrevivência ou realização faz toda a diferença ao tomar uma decisão profissional.
Obviamente, todos nós carregamos anseios de realização, mas há um tempo para cada coisa. Se você já possui o básico, tem a tranquilidade necessária para escolher com calma um novo caminho. Por outro lado, se o básico está faltando, existe uma urgência que demanda um retorno rápido, também financeiramente. Durante essa fase de sobrevivência, é provável que não escolheremos a profissão dos sonhos de imediato. Em vez disso, ela será uma carreira de transição para alcançar a realização a médio e longo prazo. Quem está fazendo a transição de carreira visando a realização pode trabalhar com metas a médio e longo prazo, como foi o meu caso. Eu pude esperar 1 ano para fazer a mudança, pois estava em busca dos desejos profundos e eternos do meu coração, inspirados por Deus. No entanto, já possuía estabilidade financeira e emocional, não havendo uma necessidade imediata. No entanto, já mentorei pessoas que precisavam de mudanças rápidas porque faltavam coisas realmente básicas.
Para concluir nossa reflexão, há várias carreiras e profissões disponíveis. A sabedoria não está em encontrar a profissão dos sonhos, mas sim em saber como e quando abraçar essa novidade em nossas vidas. Meu conselho, portanto, é que se coloque diante de Deus, analise suas aptidões e necessidades. Essa será a linha condutora para o discernimento de sua profissão.
Estou intercedendo por esse novo capítulo de Deus em sua vida. Shalom!
Fantástico! Veio no momento certo, estes termos:
“Sobrevivência ou realização?”