Nós, seres humanos, além dos impulsos instintivos comuns a todos os animais, possuímos também um elemento que nos diferencia de todos eles, qual seja: nós somos seres intelectuais, racionais, possuímos uma alma espiritual. Não agimos e realizamos coisas apenas por impulsos irracionais, mas somos capazes de pensar, refletir sobre o que fazemos, como essa habilidade podemos nos perguntar ”como fazer o discernimento correto?”
A motivação que nos possibilita realizar esses e outros feitos pode ser mais ou menos legitima e honesta, mais ou menos forte e certeira, dependendo do grau de pureza e maturidade da nossa consciência e do sentido que damos a esses feitos. Nesse texto, proponho a você alguns exercícios, para ajudar a realizar de modo frutuoso seus discernimentos rotineiros ou mesmo aqueles essenciais e fundamentais de vida.
A origem do discernimento
Desde pequeninos, somos atropelados diariamente por novidades. Ficamos encantados quando vemos pela primeira vez uma caixa de lápis de cor, giz de cera, canetas, etc… Esses objetos nos mergulham num universo gigante de possibilidades. Entre uma pincelada e outra, descobrimos que nossos gestos e ações possuem consequências. Após colorir um desenho, feito pelos nossos pais, irmãos ou tios, mostramos para eles de modo empolgado, na expectativa de que outros desenhos surjam.
Depois nas brincadeiras e jogos do colégio, descobrimos que não podemos fazer nada sozinhos, que precisamos de interação com os outros. Descobrimos que há pessoas que são confiáveis e outras não, descobrimos que ora ganhamos, ora perdemos. Descobrimos ainda que somos capazes de acertar e de errar, de cair e levantar. Percebemos que existem dores que conseguimos sentir sem chorar e outras que não só choramos mas gritamos e pedimos ajuda.
Aos poucos, nosso intelecto humano, vai percebendo por meio do movimento de ensaios, acertos e erros que nossos atos realmente possuem consequências e que precisamos criar estratégias para sermos mais bem-sucedidos. É nesse momento então que surge o magnifico exercício do discernimento.
Para nós cristãos, além da faculdade racional comum a todos os seres humanos, nós contamos também com a graça de Deus. Contamos com o auxílio do Espirito Santo. Esse dom de Deus, nos orienta, nos conduz diante de eventuais interrogações encontradas no caminho. Aquilo que a razão ou a simples reflexão racional não dá conta, o Espirito Santo completa. Por isso, para nós cristãos o discernimento é uma atividade também espiritual.
Razão e subjetividade
No Evangelho, entre os muitos discursos que Jesus fez ao povo e aos seus líderes, há um em que ele se expressa de modo forte, duro, leia:
“Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12, 34).
O Mestre evidencia um ponto importante, os mesmos fenômenos, os mesmos acontecimentos, as mesmas cenas, gestos ou palavras, podem ser enxergados, ouvidos e interpretados de modos diversos por pessoas diferentes.
Aqui podemos encontrar pistas interessantes para nos auxiliar no exercício do discernimento. Qual foi a minha motivação ao escolher essa roupa e não aquela? Esse acento e não aquele? Esse serviço na Igreja? Esses amigos, lazeres, namorado(a), etc.? Não podemos julgar as pessoas pela aparência, por aquilo que conseguimos captar pelos recursos da sensibilidade apenas, porém eles podem dar dicas preciosas que, unidas a outros dados, nos possibilita formar uma opinião segura do que elas trazem no coração, como princípios e motivações.
Leia agora essa versão do Evangelho de Lucas:
“Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio. Por que me chamais: Senhor, Senhor… e não fazeis o que digo? Todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela estava bem construída. Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante ao homem que construiu a sua casa sobre a terra movediça, sem alicerces. A torrente investiu contra ela, e ela logo ruiu; e grande foi a ruína daquela casa” (Lucas 6, 43-49).
Viu como o coração é fundamental no exercício do discernimento? Há pessoas que escolhem namorado(a), pela aparência física. Há outras que escolhem como seus amigos apenas aqueles que pensam iguaizinhos a si. Tem ainda os que filtram suas relações pela condição social, econômica, intelectual, etc.
As verdadeiras decisões partem do coração
Se você é cristão e deseja bem discernir, sejam as coisas mais essenciais da vida ou mesmo as rotineiras, analise com sinceridade suas motivações. Pare de vez em quando e se pergunte: “O que de fato estou buscando? O que realmente eu quero?” Peça a Deus que oriente você. Existem ideais de vida que só podem ser entendidos e abraçados de modo feliz e bem-sucedido se acompanhados de uma profunda mudança de coração.
Concluo esse texto enfatizando: “Se a boca fala do que o coração está cheio, é possível também que nossas escolhas e discernimentos sejam condicionados pelo que trazemos no coração. Coração convertido, escolhas santas e maduras”. Venha comigo, termine sua leitura fazendo essa súplica confiante a Deus:
Amado e adorado Deus, eu me coloco diante de Tua santa e bendita presença, Te aceito e Te acolho em nome de Jesus, como meu Educador e Orientador. O Senhor é meu pastor, é verdade, mas é também meu Pai, nada, nada me faltará. Conduz-me, Senhor, junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma, me oriente nos caminhos por vezes confusos e tortuosos da vida. Leva-me pelos caminhos retos por amor do seu nome Santo e Glorioso.
Ainda que a vida me apresente vales escuros, que eu nada tema, pois estais comigo. Coloque seu GPS santo em minhas mãos e que ele seja o meu amparo e refúgio nos momentos de dúvidas na direção. Prepara-me, Senhor, uma coroa de vitória de acertos à vista de tantos que não confiavam em mim, ou mesmo se recusaram a me ajudar. Derrama o Teu perfume sobre minha cabeça, e que o Teu vinho da alegria faça transbordar a taça de minha vida, na vida de outras pessoas.
Que Tua bondade, misericórdia e orientação possam me seguir por todos os dias de minha vida. Eu assim habitarei em Tua casa para sempre. Amem!
Por Rodrigo Santos
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Que leitura fantástica. Deus te abençoe, meu irmão.