Um tempo atrás, se me pedissem a definição de como ser gente no mundo de hoje, eu atribuiria logo a uma questão de cidadania, e me classificaria como cidadã, solteira, graduada, trabalhadora, com ideais de autorrealização. E ainda remeteria este conceito para além. Mas hoje, eu percebo que ser gente, é bem mais que isso.
Primeiramente, ser gente é ser filho ou filha de Deus. Este é o principal conceito, e o ponto de partida para direcionar todos os outros. Deus nos criou com amor, por amor e pelo amor. Nos deu Seu Santo Espírito, nos proporcionando dignidade ímpar. Honra que nenhuma outra criatura recebeu. E num mundo relativista, esta verdade está cada vez mais camuflada. Muitos valores, como respeito, solidariedade, honestidade têm se tornados antiquados ou até mesmo banidos. E isso não é apenas um resultado de uma má administração na educação do país. Nem por falhas no sistema socioeconômico estatal, mas é mais complexo. O problema vem de dentro pra fora, e não de fora pra dentro. Na verdade ele é um reflexo do interior do homem. E esse interior, que movido pelos padrões do mundo secular, desordenou-se, gerando dor e sofrimento com sérios danos para a alma humana.
O homem é livre. Foi-lhe dado por Deus o livre arbítrio. Mas Deus não o abandonou à própria sorte, mesmo diante de suas decisões erradas, como no caso do Jardim do Éden. Pelo contrário. Para atravessar o abismo que o homem criou entre si e Deus, pelo pecado, existe uma ponte. A redenção dada pelo próprio Deus través de Jesus Cristo. Ela não se encerrou na cruz, mas perdura e perdurará até o fim dos tempos. “Não vos deixarei órfãos” Jo, 13, 18. Deus enviou o Espírito da Verdade. E fundou sua igreja, seus preceitos e mandamentos. E se fez alimento espiritual para o homem, com a instituição da Eucaristia, com a Virgem Maria como mestra e mentora, o testemunho dos santos, o sacrifício da santa missa, os sacramentos, a catequese, os carismas, a Sagrada Escritura. Enfim, são muitas as ferramentas que ajudam o homem a ser gente hoje. Existe um equilíbrio. A vontade humana associada à inteligência podem trilhar este caminho de forma correta.
Atualmente, ser gente é um desafio. É viver em constante embate. É acertar no meio dos erros. É ter coragem de ser feliz, embasado no Evangelho de Jesus Cristo. Ser gente é ser humano, mas com uma humanidade sadia, senhora das coisas criadas e não escrava delas, de situações, determinações e padrões impostos por uma sociedade voltada para o poder e a discriminação, determinista de um modo de vida egocentrista, e antropocentrista, sem Deus no centro. Ser gente é ser amável, e saber amar. Ser gente é ser aquilo que Deus quer para nós.
Daniela Sunali
Consagrada da Comunidade de Aliança em Juazeiro do Norte (CE)