A grande obra do Espírito Santo no coração humanidade é a santificação das almas. Mas o que é a santidade?
“No fundo, a santidade é viver em união com Jesus os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspetos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor. A contemplação destes mistérios, como propunha Santo Inácio de Loyola, leva-nos a encarná-los nas nossas opções e atitudes. Porque «tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério», «toda a vida de Cristo é revelação do Pai», «toda a vida de Cristo é mistério de redenção», «toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação», e «tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n’Ele e Ele vivê-lo em nós».
(…) Por conseguinte, «a medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a Sua». Assim, cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo.”[1]
O Espírito Santo ‘crava’ nossa vida na vida de Jesus e a vida de Jesus na nossa. Foi o que o Espírito realizou na vida dos Apóstolos. Estes viveram, segundo a tradição patrística, três anos com Jesus. Mas na noite em que o Senhor foi entregue, não tiveram a força interior de permanecer com Ele. Até queriam, mas não conseguiam. 50 dias mais tarde, no dia de Pentecostes, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos com poder e fez deles novos homens em Cristo Jesus. São Pedro, que não conseguiu testemunhar Jesus diante de três servos do Templo, anunciou o Kerygma diante de mais três mil homens, sem contar mulheres e crianças. O que aconteceu com eles? O Senhor havia anunciado o que lhes iria suceder: “[Enviarei sobre vós] a força do Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas(…) até os confins da terra.” (At 1,8). O Espírito Santo revolucionou a vida desses homens tão simples!
Isso acontece em nossos dias também. Basta pedirmos com fé: “O Espírito Santo vem lá aonde é desejado, clamado, esperado, ansiado”, dizia São Boaventura[2]. É necessário abrirmos o nosso mundo interior às surpresas de Deus pelo nosso desejo: “Se grande é o teu desejo, profunda é a tua oração” (Santo Agostinho)[3]. Ansiar por uma intervenção NOVA de Deus em nossas vidas, como nunca antes experimentamos. Suplicar por vida nova, coragem renovada, alegria transformante, desejo de viver a vida de Jesus em nossa própria história. Quando menos esperarmos, Ele vem. Como nesse belo testemunho:
“Estava terminando de ler um livro sobre o Espírito Santo em um longo vôo. De repente, foi como se tivesse saído daquelas páginas o Espírito Santo em pessoa e entrado em mim. Fui invadida por um amor, uma ternura, um carinho, um sentimento de ser amada dos pés à cabeça, como nunca antes…esse Amor atingia toda minha história, com todos os meus limites…lágrimas começaram a escorrer suavemente sobre meu rosto. Naquele momento exato, a dez mil metros de altitude, minha vida inteira mudou. Eu me tornei uma outra pessoa, e na verdade nunca fui tão eu mesma! Mas agora eu me sabia- e sentia- amada por Deus, querida pelo Criador do Universo, e soube que minha vida tinha um propósito, que não era fruto do acaso. Nasci de novo!” (Testemunho em um congresso de renovamento no Espírito Santo, nos EUA)
São Paulo fala em não contristar o Espírito Santo (Ef 4,30). O Espírito Santo é uma Pessoa Viva e segundo Paulo pode se entristecer. Mas então sabemos também como ‘alegrá-lo’! Lhe dando sem reservas nosso coração, nosso interior, abrindo-Lhe nossa intimidade! O Espírito virá então e nos encherá com todo Seu Amor, nos revelará as maravilhas de Deus, nos ensinará tudo, e a vida cristã nunca mais será a mesma. Sim,
“sem o Espírito Santo, Deus está distante,
Cristo permanece no passado,
o Evangelho uma letra morta,
a Igreja uma simples organização,
a autoridade um poder que esmaga,
a missão uma propaganda,
o culto um arcaísmo,
e a ação moral um agir de escravos.
Mas com e no Espírito Santo o cosmos
é elevado na geração do Reino,
o Cristo ressuscitado faz-se presente,
o Evangelho poder e Sabedoria de Deus,
a Igreja realiza a comunhão trinitária,
a autoridade transforma-se em serviço,
A missão anúncio alegre e irresistível,
a liturgia é memorial e antecipação,
e o agir humana torna-se vida divina.”
(Inácio de Lataquié)
Daniel Ramos
Missionário da Comunidade de Vida Shalom
Referências:
[1] FRANCISCO, Papa, Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, n.20-21/ consultado no site do Vaticano www.vatican.va em 17/05/2023
[2] Citado de memória
[3] Citado de memória