Formação

Comunhão e Maturidade Eclesial

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João Paulo Dantas

A Igreja é UNA em virtude do Espírito. Em sua essência é mistério de comunhão, “Porque todos nós recebemos o mesmo e único Espírito estamos todos misturados uns com os outros e com Deus” (Cirilo de Alexandria). O Espírito é princípio de comunhão porque o amor, por sua natureza, une. O Espírito realiza também a diversidade da Igreja, concedendo variedades de carismas… e acima de todos eles está a caridade.

Por isso, ser Igreja implica, necessariamente, estar em comunhão. Primeiramente com Deus, no amor, na busca da santidade. Mas também, e de maneira muito forte, com os irmãos, visto que, como disse São João na sua primeira carta, não podemos dizer que amamos a Deus que não vemos se não amamos aos nossos irmãos que podemos ver. Nisto o mundo reconhecerá que somos discípulos do Senhor. A comunhão é fruto do Espírito. Este é o grande testemunho que nós podemos encontrar na primeira comunidade cristã após Pentecostes, após a efusão do Espírito Santo: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações… Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava a cada dia ao seu número os que seriam salvos” (At 2,42.47).

Não podemos dizer que somos carismáticos, que somos cheios do Espírito, se não deixamos o Espírito gerar em nós a “koinonia”, palavra grega que significa comunhão profunda, unidade. Se somos cheios do Espírito, somos cheios do Amor, pois “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Esse é o primeiro dom que o Espírito Santo gera em nós quando temos uma experiência com Ele, é o sinal da sua presença.

Podemos recordar a nossa experiência primeira com o Senhor, aquele momento em que, como os primeiros discípulos, tivemos a nossa efusão ou batismo no Espírito. Nos tornamos apaixonados por Jesus! Não podíamos nos conter de alegria e o nosso primeiro desejo era anunciá-lo de qualquer forma. Foi gerado em nosso coração o grande desejo de estar entre os irmãos no nosso grupo de oração, na nossa comunidade. Quem não sentiu também o profundo amor pela Igreja? Já não éramos simplesmente “católicos de nome” mas fazíamos questão de mostrar para todos que nos orgulhávamos do nome de católicos.

Com o passar do tempo, vamos crescendo no amor por Jesus, o nosso amor passa a ser provado e comprovado pela experiência da cruz. Vamos crescendo na maturidade espiritual e, conseqüentemente, na maturidade eclesial, no amor pela nossa Mãe Igreja, na comunhão (koinonia) afetiva e efetiva com os irmãos e com os Pastores da Igreja, os sucessores dos Apóstolos. Lembremo-nos que a primeira comunidade cristã, repleta do Espírito, era assídua ao ensinamento dos Apóstolos (cf. At 2,42).

O amor maduro pela Igreja implica uma fidelidade, uma obediência à toda prova. Às vezes, o termo “obediência” ressoa para nós com um sentido pejorativo, temos uma certa repugnância a obedecer. Somos muito inclinados pelo orgulho e pela formação do mundo à auto-suficiência, à independência. Por isso muitas vezes não aceitamos, nem sequer queremos ouvir o que a Igreja como Mãe, através de seus Pastores, tem a nos dizer. Achamos que o objetivo da Igreja, dos Bispos, do Santo Padre é nos tolher a liberdade, abafar os nossos “carismas”.

Porém, não estamos mais em tempo de pensar assim. É tempo de maturidade eclesial, é tempo de deixarmos de simplesmente andar de mãos dadas com a Igreja para sermos Igreja, não andamos apenas ao lado mas somos corpo de Cristo, sabendo que a Igreja acolhe com gratidão os carismas que livremente o Espírito distribui, sejam os carismas efusos (cf. 1Cor 12), sejam os “carismas comunitários” como as vocações específicas que têm surgido na Igreja, especialmente as novas comunidades. À Igreja não compete extinguir o Espírito, mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. Christifideles Laici, 24; 1Ts 5,12.19-21).

Foi o Papa quem nos disse no último Pentecostes: “Hoje, diante de vocês, se abre uma nova etapa: a da maturidade eclesial. Isto não quer dizer que todos os problemas foram resolvidos. É antes um desafio. Um caminho a percorrer. A Igreja espera de vocês frutos maduros de comunhão e compromisso”. É isso que Deus, através de sua Igreja, do Papa, espera de nós: koinonia, comunhão, unidade, fruto do amor gerado pela nossa experiência pessoal e comunitária do Pentecostes. Obedecemos não simplesmente para “ficarmos bem”, mas porque amamos, porque fazemos parte dessa Família e estamos comprometidos com ela por laços de amor. Estamos na mesma barca, a barca de Pedro e, com o Papa, queremos em fidelidade e amor “arregaçar as nossas mangas” para que se realize a Nova Evangelização.

Esta sociedade descristianizada perdeu o seu rumo, está à deriva… Não há mais tempo para imaturidade, para desunião. Temos um mundo sedento de Deus que espera pelo nosso testemunho de unidade. Clamemos ao Espírito para que gere em nosso coração a koinonia, fruto do amor. “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).

Se vivermos em fidelidade, em amor que gera a comunhão, daremos o eloqüente testemunho de obediência e fidelidade que o mundo precisa, e o Senhor, a cada dia, ajuntará outros que, como nós, experimentarão a imensa alegria de ter Jesus como o centro de suas vidas.

Comunidade Católica Shalom


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