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Confira homilia na missa de inauguração do Shalom em Guabirotuba

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dscn9961Presente há 16 anos na capital paranaense, o Shalom mudou de endereço, e inaugurou seu espaço agora na Rua José Rietmeyer 366, no bairro Guabirotuba. Confira homilia completa do padre Emanuel Cardozo na missa de inauguração do centro de evangelização da Comunidade Católica Shalom em Curitiba, neste domingo, 9.

“Há um Salmo que de vez em quando aparece na oração da manhã, especialmente aos sábados, é o salmo 92, que diz “como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus altíssimo”. Podemos dizer que esta frase do Salmo resume de certa maneira o querem nos ensinar os trechos da sagrada escritura que acabamos de escutar: É bom agradecer ao Senhor, é sempre bom render-lhe louvores. E aliás, não só para com Deus essa frase é verdadeira, é sempre bom agradecer, dizer obrigado, é sempre bom ter um coração agradecido. A gratidão é uma virtude muito preciosa que precisamos cultivar. Às vezes não é fácil, e em geral só é capaz de ter um coração agradecido quem deixa de lado o egoísmo e busca com humildade ver o bem que o outro pode lhe fazer. Quem é orgulhoso demais, quem fica preocupado consigo mesmo, na maioria das vezes, não é capaz de agradecer. Geralmente dizem que não gostam que os outros lhes façam favor para não ficarem devendo nada a ninguém, preferem uma vida absolutamente indiferente aos outros, para de certa forma não se obrigarem a fazer nada por ninguém. O egoísmo faz isso, não permite um coração agradecido. Talvez esta tenha sido a experiência dos outros nove que não foram capazes de voltar ao Senhor para agradecer. Às vezes um pormenor do evangelho ocupa o centro de uma narrativa, como a de hoje: só quem tem um coração agradecido volta ao Senhor. Só quem tem um coração agradecido lembra-se do Senhor nos momentos de felicidade. Os dez estavam bem dispostos a irem atrás do Senhor quando precisavam, quando estavam cobertos de lepra, todos clamaram ao Senhor. Qualquer semelhança conosco não será mera coincidência. Se estamos precisando alcançar uma graça especial, passamos a nos dedicar mais à oração, fazemos horas de adoração, rezamos até o rosário diariamente, e quando alcançamos a graça ou quando está tudo bem, não nos lembramos de voltar. É algo que precisa estar também no nosso exame de consciência: lembrar se temos um coração agradecido.

E especialmente este texto da Primeira Leitura, a história de Naamã, o sírio, pode nos ajudar a compreender, porque a leitura fala de duas características especiais de quem tem um coração agradecido. A história de Naamã é muito semelhante à história dos leprosos no Evangelho. É a obediência a voz de Deus que faz com que ele alcance a cura. Ele não faz como os outro nove leprosos, ele está mais parecido com o que voltou.

Estas são as características de um coração agradecido, ou o que fazer pra agradecer de verdade.

  1. A generosidade. Naamã oferece algo, em gratidão, ao profeta. O profeta nem aceita, mas ele insiste, ele quer agradecer e isso mostra que a cura não atingiu só a lepra na pele, mas a cura atingiu o coração. Uma das características de um coração grato é a generosidade de partilhar aquilo que temos, que ganhamos. Na nossa experiência de fé cristã, isso se manifesta de forma muito especial quando devolvemos o nosso dízimo, quando fazemos a nossa oferta, quando fazemos a nossa comunhão de bens, quando fazemos uma ajuda de caridade. Quem não tem um coração grato não consegue abrir-se à generosidade. Em geral, diz: “Eu vou dar dinheiro? Eu não, eu suei para conquistar, sou eu quem ralo ali no meu trabalho, de 8h às 17h…” e não tem um coração grato para perceber que na crise do nosso país ter um emprego é algo para se agradecer a Deus. “Ah, mas foi fruto do meu estudo!” E de onde é que nos vem a sabedoria? Precisamos começamos a educar o nosso coração para a gratidão, cultivá-la, cultivar todas aquelas virtudes que infelizmente depois do pecado original não ficaram mais em nós, aqueles dons preternaturais que, segundo a Teologia, Adão tinha e perdeu com o pecado. Às vezes, dizemos: “Ah, se Deus me desse a virtude da generosidade e da gratidão, aí sim eu começaria a ser grato”. “Ah, se Deus me desse a virtude da castidade, aí sim eu começaria a vencer todas as batalhas”. É claro que Deus nos dá a sua graça para conseguirmos viver as virtudes, mas não é de uma hora para outra que isso se alcança. Por isso é preciso educar o coração, para sermos gratos, obedientes, castos… é preciso educação do coração, isso é viver as virtudes, é vida de santidade, é viver o evangelho.
  2. A conversão de vida. Naamã disse que a partir daquele momento não adoraria a outros deuses, mas somente seguiria ao Deus de Israel. Converte-se o seu coração, e mais uma vez vemos uma prova de que a cura não atingiu somente a lepra, mas o coração. A palavra de Deus diz que a pele dele parecia até a de um bebezinho, sem resquício nem cicatriz nenhuma, mas o que saiu dali transformado principalmente foi o seu coração, assim como aquele que voltou no Evangelho. Dez foram curados, mas um só pôde ouvir de Jesus: a tua fé te salvou. Dez receberam a cura, mas só um recebeu a salvação naquela hora, porque voltou e agradeceu. Nós temos tanto para agradecer a Deus. A conversão de vida é uma prova do nosso coração grato. Olhemos para a Sagrada Escritura. Nela vamos conhecendo melhor a história da salvação e nela vamos vendo o infinito amor de nosso Deus para conosco, manifestado ao extremo no seu Filho enviado para morrer por nós. Em tantas manifestações, no Evangelho da nossa vida de cada dia, quanto amor de Deus, o quanto Ele continua fazendo! Então diante disso, a gratidão me faz dizer: eu também quero responder a este amor. Eu não posso simplesmente olhar para a cruz de Jesus e dizer a Deus: “Valeu aí, que bom que você deu o seu Filho”. Conversão de vida, a busca da santidade, não querer mais servir aos ídolos, mas unicamente ao Deus verdadeiro, é um sinal de que eu reconheço o que o meu Deus fez por mim. Quem não reconhece não busca se converter.

E por fim, a segunda leitura nos faz lembrar de um outro aspecto da gratidão que eu diria que talvez seja o mais difícil. Se nas dificuldades, procuramos a Deus, o procuramos muito para pedir e pouco para agradecer. São Paulo pode nos ensinar muito. Basta lermos as cartas de Paulo para ver o quanto ele sofreu perseguições. Ele escreve a maioria de suas cartas da prisão, sofrendo, açoitado. No entanto, as suas palavras não são, em nenhum momento, de reclamação, nem mesmo de dizer que Deus o livrasse desse mal, pelo contrário. Ainda encontra forças para exortar os irmãos à fidelidade, para se unirem a Cristo, e chega àquela máxima de dizer que ainda completa em sua carne o que falta à paixão de Cristo. Ter gratidão nos momentos difíceis também é o nosso chamado, sermos capazes de, no momento de crise na família, no desemprego, na enfermidade, quando nada parece dar certo, dizer: “Obrigado, Senhor!”.

A generosidade e a conversão são bons sinais de um coração cheio de gratidão, mas agradecer a Deus nas dificuldades é uma certeza ainda maior de que o nosso coração está se treinando para a gratidão. É o coração de Jó, por exemplo, de ser capaz de dizer: “como foi do agrado do Senhor, assim me foi feito. Bendito seja o nome do Senhor”. É o coração da Virgem em pé junto à cruz, é o coração de São João Paulo ii, quando gastou a sua vida até os ultimos suspiros e forças para falar à Igreja, sem reclamar, sem murmurar, em tudo dando graças. É o coração do santo padre, o Papa Bento Xvi, que há pouco tempo quando comemorava seu aniversário de ordenação, lembrava-se de uma palavra: “eucharistos”, a eucaristia, em grego, que quer dizer ação de graças. O que trazemos cada vez que celebramos a Eucaristia? A santa missa é ação de graças. O que trazemos? Podemos sim, trazer pedidos, Nosso Senhor disse: “pedis e recebereis”. Mas que sejamos capazes de trazer também gratidão, ação de graças, louvor.”

 

Transcrição: Emanuele Sales

(mantido o tom coloquial)


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