Quemdiria? Confessar-se é psicologicamente atualíssimo. Na práxis católicapodemos não só fazer uso do “divã”, para descarregar as nossas culpas eangústias, como oportuniza a psicologia. Muito tempo antes de Freud, o sacramento da penitência sempre já foi uma catarse. Mas não só isso. Alémdos recursos da ciência, e do alívio das angústias, a confissão podeser uma cura da alma, que a ciência não pode conceder. Pela graça doDivino Espírito Santo a Penitência pode restituir a vida em Cristo.Sabemos muito bem que trazemos os tesouros divinos “em vasos de argila” (2Cor4,7). Esta vida nova de filhos de Deus pode ser perdida pelo pecado.Então o médico divino de nossas almas e de nossos corpos, o CristoSenhor, através da Igreja, realiza sua obra de cura e salvação, em quemquer se converter. Quem se aproxima do sacramento da confissão, obtémda misericórdia divina, o perdão – repito, o perdão e não só o alívio –da ofensa praticada contra Deus. E é reconciliado também com suacomunidade cristã. Trata-se de conversão. “Vou me levantar e encontrar meu pai” (Lc 15, 18).
Todos deveríamos ser “santos e irrepreensíveis” (Ef 5, 27). Mas a realidade é outra. Estamossujeitos a escorregões, e até a quedas lamentáveis. E isso nos rouba odom de Deus. O apóstolo S. João até diz que quem afirma que não tempecado é um mentiroso. Por isso, essa segunda conversão é necessária, eaté diria, ininterrupta. O coração contrito é uma graça do EspíritoSanto, que nos leva à purificação. Portanto, não é só uma obra humana.É uma resposta ao amor misericordioso do Pai. Santo Ambrósio diz que naIgreja “existem a água e as lagrimas: a água do Batismo e as lágrimasda penitência”. O que hoje causa uma grande perplexidade é o abandono,ou o adiamento a perder de vista, dessa riqueza que Cristo nos deixou.Amplia-se cada vez mais o apelo aos recursos humanos da psicologia – oque é um bem – e se esquece cada vez mais a declaração dos pecados aosacerdote, para obter o perdão divino. Será que não estamos, mesmocheios de angústias e de medos, morrendo à míngua ao lado da fonte depaz e da autoestima?
Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo de Uberaba (MG)