Uma conversão que aconteceu especialmente devido à música de Johann Sebastian Bach: esta é a experiência do pianista Ramin Bahrami, que no ano passado tocou também para o Papa Bento XVI no concerto dedicado ao Pontífice, “Música e luz”, como único artista clássico presente no evento.
“Ainda que, por ‘razões de estado’, eu era muçulmano, sempre me senti próximo do cristianismo e dos seus valores; minha família, com um pai de origem alemã, era aberta a todas as tradições, tanto que, desde pequeno, em Teerã, comemorávamos a festa do Natal.”
Depois, há algum tempo, em um momento de profunda depressão, no qual ele pensava em abandonar os palcos, veio a transformação: “Entrei em uma igreja de Veneza, e lá senti que o Senhor me buscava”, conta o artista. “Sempre senti Cristo presente na minha vida, uma presença que percebi mais fortemente nesse dia. Desde então, segui esta voz e compreendi que não poderia deixar de responder a este chamado.”
Em sua aproximação do cristianismo, foi de grande importância a música de Johann Sebastian Bach: “Como explicar uma perfeição tão alta, a não ser com uma experiência maior ainda, como se cada nota fosse ditada por Deus?”, pergunta-se Bahrami.
“Para mim, Bach é a voz de Deus, a voz de algo sobrenatural. Ele é o compositor mais perfeito, mais profundo; nele, sempre encontrei uma fonte de energia indestrutível, que se renova cada vez que o ouço. Cada nota de Bach é inspirada por Deus e, por isso, é profundamente humana: em suas páginas, encontrei todas as vozes, todas as culturas do mundo, e sua música transcende toda época, soando ainda como moderníssima.”
Para Bahrami, Bach é muito atual: nas “Invenções” que o pianista executa em seu novo álbum, décima etapa de um percurso dedicado inteiramente ao compositor, Bach nos alerta sobre alguns males da sociedade atual.
“Nestas páginas, você sente que cada voz é necessária para a outra, e que cada voz respeita a outra. É uma mensagem para o mundo de hoje, no qual a política e a homologação mandam com seus antivalores. Bach não condena as diferenças, mas as harmoniza e as faz conviver.”
A busca de Bahrami de uma união entre música e fé não para por aqui: “Tenho pensado também em um projeto sobre Mozart, outro autor tocado pelo dedo de Deus”.