Os latinos tinham plena clareza a respeito da nocividade doserros na vida da sociedade e clara consciência quanto à possibilidade de suacorreção, por parte das pessoas. Sabiam que a vida é um aprendizado constante,tanto no tocante àquilo que de bom acontece, quanto em relação àquilo querepresenta um dano para a coletividade e para as pessoas. Segundo eles e apedagogia de todos os tempos, há sempre uma possibilidade de alguém corrigir oserros, desde que procure extrair deles as devidas lições. Sabiam no passado ehoje todos confirmam que “Errando discitur” (Errando se aprende). Assim, caindoem seus primeiros passos, a criança aprende a se firmar melhor, a fim de evitarnovas quedas; os adolescentes e jovens, em seu ímpeto de afirmação, cometemerros que são evitados quando tomam consciência das consequências prejudiciaisde seu comportamento; adultos não estão imunes de erros e, embora tardiamente,muitos reconsideram os seus atos, em razão dos males causados.
Na vida das pessoas, constatam-se erros que causam males denatureza física, moral e social. Nessa linha, apesar do conhecimento sobre anocividade do fumo e do álcool, muitas pessoas contraem doenças que sãoprejudiciais ao seu organismo e, mesmo assim, não se corrigem, em tempo. Opecado se situa no plano dos erros morais que, na verdade, podem ser evitados,até porque, como ensina São Paulo, ninguém pode ser tentado acima de suacapacidade de resistência. (cf. 1Cor, 10,13) Na ordem social, há, igualmente,muitos erros cometidos por pessoas que têm a responsabilidade de administrar aordem pública, com a necessária lisura, transparência e honestidade.
Muitos erros e abusos cometidos na administração públicaestão sendo coibidos por uma vigilância maior dos Tribunais de Conta da União,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, pela implementação de umalegislação fiscal mais rigorosa, por um sistema de fiscalização mais eficientee por uma participação cidadã mais efetiva da população. Também nesse campo, háerros corrigíveis e isso está acontecendo, através de medidas preventivas epunitivas que a legislação impõe, a exemplo da legislação eleitoral que exige“Ficha Limpa” de candidatos a cargos públicos, punindo-os com a perda dodireito de registro de candidatura ou afastando-os da função, se já em exercíciode mandato eletivo. A sociedade constata que muitos erros estão sendocorrigidos nessa matéria, graças a essas providências.
No entanto, há pessoas incorrigíveis, no exercício de suasatividades. A sociedade acompanha, com perplexidade, o que aconteceu na ReceitaFederal e na Casa Civil da Presidência da República, envolvendo figuras ocultasda política partidária, personagens graduadas da administração pública epessoas identificadas do mundo empresarial. Dessa maneira, erros da mesmanatureza, cometidos por administradores públicos, políticos e empresários, empassado mais ou menos recente, continuam se reproduzindo na prática de pessoasque têm funções constitucionais de zelar pelo bem comum. O problema tem suacomplexidade porque envolve pessoas que, além de serem pagas pelos cofrespúblicos, tiram proveito de uma administração infiel, por participação direta,cumplicidade ou omissão. O caso ocorrido na Receita Federal, muitoprovavelmente, tem conotação político-partidária, especialmente, por vir à tonano contexto do período eleitoral, e não deixa de ser preocupante porque a vidaprivada de contribuintes está sendo devassada, com fins escusos. O que ocorreuna Casa Civil aponta na direção de “tráfico de influência”, de proveitofinanceiro de burocratas e de favorecimento a terceiros.
Lamentavelmente, mais uma vez, a sociedade brasileirareconhece que, em matéria de corrupção, há pessoas incorrigíveis, no âmbito daadministração pública e do mundo empresarial.