Uma visão integral do homem e de sua dignidade exige uma reflexão livre de ideologias ou visões reducionistas que empreguem na ação política a resolução de todos os problemas humanos. Tal visão não pode ser desenvolvida esquecendo-se da dimensão reconciliadora do homem com Deus, geradora da paz! A paz não é fruto do esforço e do engenho humanos, propriamente, mas fruto de uma experiencia de reconciliação com Deus, por meio de Jesus, o Shalom do Pai:
Jesus, assim, é o próprio Shalom do Pai, Ele vem nos dar a perfeita felicidade, a salvação. Ele é o Shalom que tanto os corações como o mundo necessitam. É Ele quem nos conduz à única e verdadeira paz. Não a paz que o mundo oferece, ou que os homens ingenuamente querem estabelecer, baseada somente em si próprios, como uma simples conquista da humanidade, pelo estabelecimento da “justiça humana”, ou apenas pela ausência de guerra. Não a paz que o mundo dá, pois ela não é verdadeira, é uma ilusão que engana o coração do homem, mas a paz que Jesus traz (Jo 14,27), a paz da conversão, do voltar-se para Jesus, de reconhece-lo como Salvador e Senhor da humanidade, único caminho da verdadeira paz, da verdadeira justiça (o Evangelho), do verdadeiro amor. (Escrito Shalom, 03)
O desenvolvimento integral do homem, a partir do anúncio do Evangelho, da promoção humana e da formação dos filhos de Deus para serem testemunhas no mundo engloba dois polos: o polo ativo e o povo passivo. Ambos se enriquecem e se retroalimentam de uma maneira extraordinária, causando forte impacto na vida pessoal e social. O homem visto como agente da ação evangelizadora, “discípulo e ministro da paz”, que indo ao encontro do homem ferido e necessitado, realiza-se na ação missionária ao tocar as chagas de Jesus naquele irmão que sofre, sendo verdadeiro consolo de Deus e agente de obras de misericórdia, dando de si, do seu tempo e de suas forças e capacidades; e do outro lado, o homem alcançado pela misericórdia divina que se torna concreta na ação do missionário.
Assim, o progresso entendido como excelência (arethé, do gr.) da atividade humana nos diversos campos da atuação na sociedade (ciência, trabalho, universidade, etc.) deve ser buscado com todo o empenho. Entretanto, a busca pela excelência é consequência da qualidade empregada na vida interior, ou seja, assim como uma ressonância do Evangelho: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33), o progresso exterior é uma consequência, sendo obtido de forma oblíqua.
A reconquista, portanto, dos espaços da sociedade para Jesus Cristo, se consolida a partir da comunhão entre homens livres, maduros e responsáveis, alcançados pela experiência pessoal de reconciliação com Deus. Esse processo deve ocorrer por meio da assunção de um estilo de vida missionário comprometido com o bem comum, a dignidade da pessoa humana e o desenvolvimento integral de cada homem. Além disso, é necessário reconhecer que é uma mudança que deve ocorrer por meio da assunção de um estilo de vida missionário comprometido com o bem comum, a dignidade da pessoa humana e o desenvolvimento integral de cada homem.
Por Delcy Carvalho
Administrador, Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom
Bibliografia
AZEVEDO FILHOS, Moysés L. Escritos da Comunidade Católica Shalom, Aquiraz: Ed. Shalom, 2011.
PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, São Paulo: Paulinas 2012.
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