Mariana ia no ônibus sentada ao lado da janela agarrada com sua mochila, sua amiga Karen estava ao seu lado também sentada, enquanto o ônibus enchia cada vez mais. Fazia um calor insuportável naquele dia, as pessoas do lado de fora andavam protegidas por bonés ou sobrinhas, levavam algo gelado para refrescar, seja sorvetes, sucos, refrigerantes, buscando cada sombra que podiam para fugir do sol escaldante. O ar condicionado do ônibus estava quebrado e as janelas abertas deixavam entrar apenas o ar quente e úmido.
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Mari, eu ainda não entendi porque você não quis aceitar o gabarito da prova. Era muito simples, todo mundo aceitou, só você não. – Dizia Karen, que trazia seus cabelos lisos amarrados em um rabo de cavalo e se abanava vigorosamente com um de seus livros.
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Karen, realmente, é muito simples, não era certo. O Diego conseguiu esse gabarito de forma ilegal. Não é correto hackear o sistema da Universidade para “roubar” qualquer informação. – Argumentava Mariana, que tinha seus cabelos cacheados presos em uma trança e também tentava aliviar o calor com um leque improvisado.
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Mas amiga, olha só, todos nós vamos nos dar mal, podemos perder o semestre inteiro por causa desse professor, todos sabemos que ele não nos ajudou em nada e essa avaliação veio como uma bomba. Ele foi cruel de propósito para detonar a gente. – Continuava Karen.
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Eu sei, Karen, mas não vale a pena fazer algo que minha consciência sabe que não é correto, mesmo que o professor tenha sido horrível…
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Você vai preferir perder um semestre inteiro? – Insistia Karen interrompendo a amiga.
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Sim, eu prefiro perder o semestre do que fazer parte disso, é a minha consciência, Karen, que vai me atormentar todos os dias por ter feito algo que sei que não está bem. Eu prefiro perder, se eu tiver que perder, do que ir contra aquilo que acredito. É totalmente injusto isso que o Diego fez, para não dizer que é ilegal.
Karen ficou pensando olhando para o livro em sua mão, não conseguia entender a sua amiga, todos na sala tinham tomado a mesma decisão de seguir o gabarito do exame para não ser reprovado por um professor irresponsável, Mariana foi a única aluna que não aceitou e insistia naquela idéia de justiça, de legalidade, para ela era simples, o professor foi cruel e eles tinham o direito de se vingar e usar qualquer tática para se livrar daquele professor e não reprovar nenhum semestre.
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Mari, eu acho que nunca vou te entender, se você se der mal, não é culpa nossa. Agora todo mundo vai ficar de olho em você para que não diga nada.
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Amiga, eu sinto muito, mas eu não posso ficar calada, por pior que o professor seja, nós não agimos da maneira correta…
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Você me entregaria? Mariana, toda a turma vai repetir por sua culpa. Você não tem o direito de fazer isso. – Karen a interrompeu perplexa.
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Primeiro, não é minha culpa, antes, se o professor detonasse com todo mundo na turma, poderíamos recorrer, mas agora perdemos esse direito com a decisão que tomaram e segundo, eu não só tenho o direito, como tenho o dever, é a minha consciência, eu não posso ser cúmplice disso. – Mariana falou séria.
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Mari, por favor! Não faça isso! – Karen implorava.
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Karen, eu preciso! Não é justo o que fizemos e pode ter consequências muito mais sérias se ninguém falar. – Mariana justificou.
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É a sua palavra final? – Perguntou Karen.
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Sim!
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Então eu sinto muito, mas não falarei mais com você. – Dizendo isso ela levantou passando pela pequena multidão dentro do ônibus, sendo imediatamente substituída no assento por outro passageiro, e descendo na parada seguinte.
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Sinto muito, amiga! – Mariana murmurou enquanto via a Karen se afastar do lado de fora.
Amigos que te fazem pecar e fazer algo errado não são seus amigos. Mais vale uma consciência tranquila do que amigos que te levem para o pecado com coisas erradas, a ilegalidade.
Queridos irmãos, acredito que a crônica não tenha chegado ao fim, pois logo me veio, ao ler esse começo de história, a imagem da Mari convidando os colegas da sala, através da Karen, para rezarem juntos a fim de escutarem a voz de Deus. E no encontro, o amor fraterno com a caridade, pela ação da Graça de Deus, foram capazes de convencer alguns corações, que aderiram à verdade, sem rompimentos. Esse certamente é o Espírito Santo! A história ainda pode crescer, porque existem tantas pessoas diferentes no mundo, tem alunos tão inteligentes e tão feridos, outros tão inspirados, tem o professor rigoroso… mas o Espírito Santo sopra onde e como quer. Abraço fraterno.