Júlia andava impaciente de um lado para o outro na sala de espera do hospital, os médicos tinham acabado de deixá-la depois de dizer que ela precisava tomar uma decisão com relação a cirurgia de sua mãe. Nada na sua vida tinha lhe preparado para isso. Do lado de fora, se podia ver através das janelas, um lindo céu azul sem nenhuma sombra de nuvens, um sol resplandescente, copas de árvores verdes ao redor, pássaros voando, tudo falava de vida, tudo respirava vigorosamente. Ela, por outro lado, sentia os dedos gelados do medo envolverem todo o seu ser, a sensação de sufocamento claustrofóbico não passava. Sua ansiedade crescia a cada médico que saía da ala de cirurgia.
Sua mãe era jovem, muito ativa, trabalhava e cuidava de sua casa, nunca havia apresentado problemas sérios de saúde, de repente se sentiu mal e descobriram aquela falha em seu coração, a cirurgia era muito grave, mas não fazê-la também significava vê-la morrer aos poucos, ela arriscou esperando contra toda desesperança.
Em um momento, ela começou a olhar ao seu redor, a colocar a atenção em todas as pessoas que ali estavam seja aguardando notícias, na fila de espera, trabalhando no atendimento do hospital e isso lhe levou a refletir sobre o que cada um deles estaria vivendo, o que os trazia ali, que dores sentiam, como eram suas vidas. Observar o vai e vem no hospital, imaginar histórias por trás de tantos rostos, as dificuldades, as lutas, ver os sofrimentos em cada olhar, em uma mãe com o filho pequeno e magro nos braços, o cansaço na expressão de uma idosa que acompanhava seu marido, uma jovem sentada que apoiava a cabeça nas mãos, um outro homem que segurava o braço visivelmente inchado, uma senhora que conversava com outra tentando acalmá-la enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.
Contemplar tudo aquilo fez com que ela começasse a entender que não era a única pessoa sofrendo ali, foi compreendendo que talvez a dor que ela sentia nem se comparava com muitos daqueles que estavam perto dela naquele mesmo ambiente e quanto mais consciente ela se tornava daquilo, mais a agonia e ansiedade que ela trazia iam diminuindo, ia se tornando pequena e ela começou a se questionar sobre o que poderia fazer para ajudar, não para passar o tempo, mas para de fato aliviar um pouco que fosse a dor de alguém.
Então, iluminada por uma ideia se aproximou primeiro da idosa que acompanhava o marido e pôs-se a conversar com ela, escutou sua história, o que os trazia ali e conseguiu até um sorriso da mulher, dela passou para outro e na medida que cada um ia sendo atendido e saindo da sala de espera, outros chegavam e ela continuou com sua “tarefa” de escutar. Percebeu que realmente, uma das grandes necessidades do homem é ser escutado, é que alguém gaste tempo com ele. E assim, ela foi dando sentido à sua espera, ao seu sofrimento. De repente, se viu sorrindo para ela mesma enquanto lavava o rosto no banheiro do hospital, não acreditava que aquilo fosse possível, mas ali estava, um autêntico sorriso cheio de sentido, mesmo com a dor.
De volta à sala de espera, finalmente o médico que operava sua mãe saiu e lhe trouxe a notícia tão esperada. Sua mãe estava bem, a cirurgia tinha sido um sucesso. Ela respirou fundo, sorriu mais uma vez e sentou novamente ao lado de outro novo paciente que chegava pronta para ouvir até que pudesse entrar para ver a sua mãe.
Obrigado pela matéria.
Maravilhosa,nos leva a refletir.Esperar e escutar,ensina-me Senhor! Parabéns Camila Lins, obrigada por seu sim seu coração disposto a escutar a voz de Deus.
Muito bom! 👏👏👏 Além do sentido da crônica ao revelar o saber esperar, o servir, o direcionar e ofertar seu sofrimento, até o fim tem aquele suspense que o leitor espera o resultado da cirurgia da mãe da personagem.