O vento trazia o som de sinos de vento de algum quintal vizinho, as flores brancas da cerejeira faziam contraste com o intenso azul do céu sem nuvens, a luz forte do sol refletia nas águas da pequena fonte do centro do pátio. A exuberância daquele dia primaveril contrastava com a tristeza que sentia Oliver que, sentado com queixo apoiado sobre os braços cruzados na janela da cozinha, observava como os pássaros, do lado de fora, se banhavam na fonte, totalmente indiferentes àquele par de olhos escuros que os seguia.
O garoto se sentia profundamente infeliz e achava muito injusto que a natureza naquele dia em particular se mostrasse em todo o seu esplendor.
Ele havia escapado do movimento da sala, onde alguns parentes e amigos seguiam reunidos e conversando como se nada tivesse acontecido, como se a vida seguisse exatamente igual. As vozes chegavam até ele e despertavam uma ira secreta no seu interior, ele não falava, não porque fosse mudo, mas porque sentia uma total incapacidade de pronunciar qualquer palavra desde que seus avós entraram em sua casa a vários dias atrás e contaram a ele e a Cecília, sua irmã, que seus pais haviam falecido em um trágico acidente. Sua irmã começou a chorar de imediato e, desde então, não havia parado mais. Ele, por outro lado, não derramou nenhuma lágrima, nem falou nada, apenas movia a cabeça de maneira negativa ou afirmativa quando lhe perguntava algo, escolheu a solidão porque não entendia nada e sentia que ninguém lhe compreendia.
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Marta, sua tia, o encontrou assim, perdido nos próprios pensamentos. Aproximou-se e sentou-se ao seu lado, tirou uma mecha de cabelo que estava caída sobre sua testa e perguntou afetuosamente:
— Oliver, querido, você quer conversar?
Como ela esperava, sua resposta foi apenas aquele balançar de cabeça. Apesar daquela reação do garoto, ela permaneceu a seu lado o observava em silêncio, depois voltou sua atenção para os pássaros que ele contemplava e comentou:
— É engraçado, eu lembro de sempre ter visto esses pássaros aqui. Claro, não são os mesmos, mas desde que eu e Rute éramos crianças os pássaros vem se banhar nessa fonte.
Ao ouvir o nome de sua mãe, Oliver moveu apenas os olhos na direção de sua tia, sem querer demonstrar interesse, ela continuou:
— Ela é quem mais gostava de ficar aqui observando o ir e vir das diferentes aves e ficava imaginando mil histórias sobre o que eles estariam fazendo quando não estavam na fonte, sobre suas famílias e moradas. Ela gostava de imaginar as mil viagens que eles faziam e sempre dizia que queria ser como os passarinhos que tinham asas e podiam voar e ver tudo lá de cima.
O garoto continuava com a mesma expressão, a única coisa que demonstrava que estava prestando atenção nas palavras de Marta era o movimento de seus olhos.
— Eu lembro que a primeira vez que fizemos uma viagem de avião, sua mãe estava muito entusiasmada, ela tinha dez anos naquele tempo, o que a deixava tão feliz é que ela dizia que ia voar como os pássaros — Marta continuou seu relato. — Mas eu lembro que ela ficou tão decepcionada porque não podia abrir a janela do avião e sentir o vento no rosto — ela riu atraindo totalmente a atenção do menino — Rute queria realmente abrir a janela, foi muito difícil o papai convencê-la de que aquilo era impossível. Ela ficou muito frustrada e disse que nunca mais viajaria de avião. — Ela riu outra vez com saudosismo.
— Mas ela viajou depois, ela e o meu pai levaram a mim e a Cecília naquela viagem de férias junto com você e meu tio Carlos — Oliver falou pela primeira vez.
— Você tem razão, mas aquela não foi a primeira vez que ela viajou de avião, nem a última.
— Porque você está me contando isso, tia Marta?
— Para que você saiba que assim como você, nós também temos muitas lembranças dos seus pais, também sofremos com a partida deles, mas nos apoiamos uns nos outros para viver a dor juntos. Sua mãe disse que nunca mais viajaria de avião e eu disse para ela que no dia que ela quisesse viajar outra vez eu estaria ao lado dela, e assim foi. Agora, eu estou ao seu lado, assim como seus avós, sua irmã, seu tio e seus primos.
— Porque eles tinham que morrer?
— Isso eu não sei te dizer, querido, mas a nossa esperança está na vida eterna e sabemos que as marcas que eles deixaram aqui jamais se apagará, eles permanecem em nossos corações, em nossa memória, em você, na sua irmã.
— Eu tenho medo de esquecer deles — ele declarou.
Ela olhou para a fonte e o garoto acompanhou seu olhar, permaneceram assim por alguns minutos até que ela disse:
— Você sempre poderá vir aqui contemplar os pássaros e lembrar dos seus pais, da alegria que era estar com eles e da alegria que eles experimentam agora estando na eternidade. — Depois completou: — E você sempre terá a sua família ao seu lado para te lembrar dos seus pais e do quanto você é amado por todos nós.
Ele sorriu e depois de muitos dias se pode ver algumas lágrimas rolarem por seu rosto.
Me deixou entre lágrimas,existem dores que são muito difíceis,creio que a dor do luto deva ser maior Obrigada Camilinha, obrigada ao Senhor por sua presença em minha vida.