O pátio da cafeteria estava parcialmente vazio, com algumas mesas ocupadas por estudantes concentrados em seus livros ou computadores, e outras com alguns leitores solitários. Não se ouvia nada além de uma música suave e das teclas dos computadores. O céu estava parcialmente nublado, mostrando apenas alguns pedaços de azul por trás de nuvens fragmentadas. O vento era suave e fresco, balançando as folhas das árvores que davam sombra nos dias de calor. O aroma agradável de café dominava todo o ambiente, mesclado com o suave odor das tortas doces do expositor.
Laura estava sentada diante do seu computador com os cotovelos apoiados na mesa e os dedos cruzados. Tinha os olhos fechados e se concentrava, tentando pensar em como seguir o artigo que estava escrevendo. As ideias lhe fugiam da cabeça, e não conseguia fazer uma linha coerente de tudo aquilo que lhe vinha. Já estava na terceira xícara de café, não havia conseguido comer nada na tentativa de colocar para fora aquilo que trazia dentro de si. Sentia-se ansiosa e incapaz de seguir.
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Aquele artigo era um trabalho da universidade que precisava apresentar. Conseguiu escrever dois parágrafos, mas depois se bloqueou. Lembrou que, quando começou o artigo, estava em casa, trancada em seu quarto, quando ouviu seus pais brigando e, mesmo colocando seus fones com a música alta, não pôde deixar de ouvir. A luta que começou a travar para se concentrar e esquecer a discussão de seus pais era em vão.
Ela já havia presenciado muitas outras brigas como aquela, mas sempre procurava um jeito de sair de casa para não ouvir, para não ver sua mãe chorar. Mas naquele dia não saiu, simplesmente ficou ali, tentando se esconder na música alta e no trabalho que precisava terminar. Porém, depois daquele dia, nunca mais conseguiu escrever nada. Sempre que tentava, vinham as vozes de seus pais em sua cabeça e as palavras que ela tentava encontrar não vinham.
Levantou-se da mesa em que estava, andou um pouco pelo pátio olhando para o céu, pediu uma nova xícara de café no balcão e voltou para sua mesa. Ao invés de lutar contra as lembranças que vinham à sua memória, resolveu deixá-las fluir. Abriu um documento em branco no seu drive e se pôs a escrever sobre como se sentia, sobre sua vida, sobre sua relação familiar, sobre o que percebia de seus pais, sobre como se via naquela relação.
Quanto mais escrevia, mais conseguia dar nomes àquilo que trazia dentro de si. Escreveu sobre seus pais, sobre sua casa, sobre a universidade, deixando que tudo tomasse forma no texto que ia ganhando corpo diante dela. Permitiu-se gastar tempo naquele exercício.
Ao terminar, percebeu que tinha escrito mais de dez páginas. Sentiu-se muito mais livre, muito menos pesada. Elevou os olhos ao céu e fez um agradecimento silencioso. Sabia que não podia ignorar todos os desafios familiares que vivia naquele momento, mas sabia também que não podia se paralisar neles. Pensou em como ajudar seus pais, não tinha respostas, mas também não se condenou por aquilo. Sabia que precisava esperar o momento oportuno.
Depois de todo aquele exercício interior, sentiu como fluía de maneira nova tudo o que precisava escrever em seu artigo. Com uma nova ordem em seu interior, pôde retomar seu trabalho sem ansiedade e sem a pressão que sentia antes.
Precisamos,como Laura deixar fluir,tudo que está dentro de nós,para nós libertarmos de todas as amarras que trazemos