Institucional

Culpava a Igreja por minha frieza

comshalom

Euclides“Em Sua casa há sempre um lugar pra quando eu voltar”

Foi esse verso, de uma canção do padre Fábio de Melo, o gatilho necessário para retornar Àquele que sempre esteve comigo o tempo todo, mas que eu não notava e até mesmo rejeitava.

Quando criança, era engajado na minha paróquia no interior de Alagoas, no município de Teotônio Vilela. Cheguei a participar e coordenar grupo de oração, mas já no início da adolescência, depois de mudarmos para o município vizinho, afastei-me drasticamente da vida com Deus. Apesar de residir ao lado da Igreja, mal ia às Missas. Iniciei o Crisma, mas desisti no meio do caminho, pois minha mente, já aspirando à vida adulta, não conseguia aceitar tamanha simplicidade nas coisas pregadas, pareciam “anedotas infantis”. Minha razão já não dava espaço para os ensinamentos de Deus.

Isso perdurou por praticamente dez anos. Na vida escolar e universitária, tinha uma necessidade absurda de ser aceito, fazer parte de um grupo. Minha mentalidade ingênua precisava ser modificada, precisava seguir a corrente da maioria, precisava ir matando em mim muitas coisas que eu julgava “intocadas” para ser feliz, para ser realizado, afinal, essa é a meta de todo ser humano. A vida com Deus nesse tempo não passava de uma ilusão para mim mesmo, talvez tivesse chegado a uma mera convenção social. Intitulava-me católico, mas conforme meus julgamentos e vontades, meus conceitos e certezas. Respeitava as diversas crenças, mas não me sentia atraído por outra fé. Nesse tempo todo de ‘ausência’, não conseguia  me ver em outro lugar. Culpava a Igreja pela minha frieza e a de muitos fiéis, pela forma não atrativa de alcançar as pessoas.

Entretanto, uma hora era necessário cair em mim e verificar que o problema não estava fora, mas aqui dentro. Entre junho e julho de 2012, fui tomado por sintomas estranhos: taquicardia, insônia, falta de ar. Preocupado, investiguei o que se passava, quando foi diagnosticado o início de uma depressão. Ali me senti no fundo do poço, eu tinha descido ao lugar mais baixo. Já tinha chorado diversas vezes até a culminância disso tudo, uma frustração profissional tinha tomado proporções que eu não entendia, pois me achava autossuficiente o bastante para contornar isso. Ledo engano!

Queria resolver esse problema, mas sabia que medicação não era a solução. Não no meu caso. Eu tinha o pensamento de voltar a me engajar na Igreja quando me estabilizasse, tivesse tempo. Porém, diante da dor que me assolava, não podia esperar mais. Aceitei o convite de minha irmã mais nova para ir a um grupo de oração que ela freqüentava havia pouco tempo. Sabendo que me ajudaria, insistiu no convite e eu aceitei. No primeiro encontro, o verso que intitula esse testemunho me chamou a atenção e o guardei comigo. Foi maravilhoso, notava que era isso mesmo que eu precisava.

Nascia o desejo de continuar a ir mais fundo. Como o grupo tinha a proposta de reflexão e meditação, parti em busca de algo que era importantíssimo para mim: a ação e a interação entre os participantes. Confessei esse desejo a dois grandes amigos. Cada um me indicou um lugar. Na mesma semana, conheci os dois. O Shalom, que eu nunca tinha ouvido falar na minha vida, conheci por último e me encantou de uma forma definitiva.

Conheci a oração carismática e ao mesmo tempo em que me amedrontei, estiva radiante de alegria, pois o que estava buscando, eu sabia que tinha encontrado. A cada encontro, uma pacificação, um novo olhar sobre mim, sobre meus planos, sobre a minha vida. Deus olhava para mim e não me condenava por tamanha ausência, ao contrário, me amava cada vez mais. Mas eu precisava dar passos, via aquelas moções, proclamações e achava isso muito distante. Diziam que Deus falava aos seus corações, nas suas mentes. Minha razão mais uma vez era incapaz de acreditar. Até que passei a rezar, diariamente, e exatamente como um exercício, mas um exercício de amor. Notei, enfim, a Sua Voz.

Hoje, cada encontro meu com Ele é especial. Como pude estar distante tanto tempo? Por que tão tarde? Hoje sou imensamente grato a Deus por ter me esperado e por continuar a me esperar, por deixar reservado meu lugar em Sua casa. A vida de oração trouxe respostas a muitos porquês que eu tinha sobre a Igreja, reavivando a minha fé e modificando por completo o meu olhar imaturo sobre o maior sacrifício vivido em cada Missa. Descobri a beleza da liturgia, a vida dos santos, carismas, vocação. Encontrei uma Igreja viva, dinâmica, atuante. Ela resgatou em mim aquele moleque do passado, que está reavivando vários conceitos que estavam mortos e que tem se alegrado por não se ver mais só.

Uma Voz clara que me impulsiona, que fez com que eu e meus irmãos de grupo de oração crescêssemos na Fé. Experimento concretamente a misericórdia do Senhor em minha vida pois, por providência, fui ovelha de um grupo e hoje sou núcleo de outro, ambos levam a misericórdia em seus nomes (Rahamim e Hesed, respectivamente). Fui percebendo que é neste espaço da vinha que Deus me convida a estar, nessa maneira nova de anunciá-Lo, criativa, ousada, feliz, extremamente feliz. Estava em busca da solução de um problema e Deus me deu muito mais que isso, me mostrou a alegria de ser Dele. Obrigado, Senhor!

                 Euclides Lira

      Vocacionado da Comunidade Shalom


Comentários

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  1. Eu chorei com esse lindo testemunho. Obrigada por compartilhar isso… me vi em muitos momentos iguais a vc. Hoje descobri o quanto a oração diária é necessária e importante! Tb ficava me perguntando e ate duvidando de como Jesus falava com as pessoas. Confesso que participar da Shalom me ajudou nessa novo caminho.

  2. Reconhecer agradiosidade de Deus e o que podes fazer na vida daqueles que busca uma direção correta aos olhos de Deus nos faz entender e compreender o quanto és indispensável na vida de cada ser. Sendo conduzido por Deus e direcionado em meio a diferentes contraproducências ao longo de décadas hoje posso entender e compreender o quanto me direcionou em diferentes obstácilos. Esse contexto me faz ser retrospectivo e voltar no tempo vendo quantas pessoas além de Deus foram contudente diante do desconhecer pleno cuja realidade abstrata camuflava as possibilidades possíveis. Tendo e sendo privilegiado com a proteção de Deus e os olhos atentos de nossa senhora posso ver quantos prodígios o senhor me concedeu.