Dom Estevão Bettencourt
É de crer que, se os cristãos conhecessem melhor a história das denominações protestantes, não adeririam tão facilmente a elas ou as deixariam sem demora, porque perceberiam que são obras de homens que se opõem à intenção de Jesus Cristo; principalmente os católicos não se tornariam protestantes, pois, assim procedendo, abandonam a única Igreja fundada por Jesus Cristo para aderir a comunidades fundadas por homens, quinze ou mais séculos após Jesus.
Será a mesma coisa seguir Jesus Cristo e seguir um “profeta” do século XVI ou XVII?
Precisamos, para facilitar aos cristãos a tomada de consciência do hiato histórico que intercede entre Jesus Cristo e as denominações protestantes, publicar a tabela seguinte:
Denominação Fundador Data/Local
Católica Jesus Cristo 30 – Palestina
Luterana Martinho Lutero 1517 – Alemanha
Episcopal (Anglicana) rei Henrique VIII 1534 – Inglaterra
Reformada (Calvinista) João Calvino 1541 – Suiça
Menonita Meano Simons 1550 – Holanda
Presbiteriana John Knox 1567 – Escócia
Congregacional Robert Browee 1580 – Inglaterra
Batista John Smith 1604 – Holanda
Quacker John Fox 1649 – EUA
Metodista John Wesley 1739 – Inglaterra
Mórmon Joseph Smith 1830 – EUA
Adventista Willian Miller 1831 – EUA
Exército da Salvação Willian/ Catarina Booth 1885 – Inglaterra
Ciência Cristã Mary Backer 1675 – EUA
Pentecostais Charles Parham e discípulos 1900 – EUA
Testemunhas de Jeová Charles Taze Russell 1916 – EUA
Amigos do Homem Alexandre Freytag 1920 – Suiça
Universal do Reino de Deus Edir Macedo Bezerra 1977 – Brasil
Observações
1. A tabela, ainda que não seja exaustiva, mostra como as denominações protestantes que hoje em dia fazem adeptos no Brasil, estão distantes de Jesus Cristo na linha da história. Antes do século XVI não se falava de Confissão Luterana; antes do século XX não se falava de Assembléia de Deus, Comunidade “Nova Vida”, Igreja Socorrista”, etc. Não foi Jesus Cristo quem deu origem a tais organizações, mas foram pastores humanos, dos quais alguns disseram ter recebido revelações mais recentes do que as de Jesus Cristo; tal é o caso de Joseph Smith (Mórmons), Charles Taze Russell e Rutherford (Testemunhas de Jeová), Alexandre Freytag (Amigos do Homem)… Quanto mais recente é a denominação protestante, mais tende a trocar o Novo Testamento pelo Antigo, chamando Deus pelo nome de Jeová, negando a Divindade de Cristo e a SS. Trindade, observando o sábado em lugar do domingo, etc.
2. Na raiz de todo este esfacelamento do Cristianismo está o princípio, estipulado por Lutero, segundo o qual a Bíblia deve ser interpretada por cada leitor em “livre exam”; o que quer dizer: cada qual sente e entende a Bíblia como bem lhe pareça; em conseqüência, tira as conclusões que julga adequadas, sem orientação da Igreja. É compreensível que tal princípio, coerentemente aplicado, tenha levado e leve o Protestantismo a se autodestruir cada vez mais, dividindo-se e subdividindo-se em comunidades, das quais as posteriores pretendem sempre reformar as anteriores e são reformadas pelas subseqüentes. Os membros de tais comunidades reformadas seguem tão somente o alvitre subjetivo e imaginoso de um “profeta”, e não mais a Palavra de Jesus Cristo como tal. Este fundou uma só Igreja, que Ele confiou a Pedro, dando-lhe garantia de sua assistência infalível até a consumação dos séculos.
3. Talvez, porém, alguém objete que a Igreja fundada por Cristo não tem suas falhas e não necessita de purificação e renovação? É certo que, onde existem seres humanos (e na Igreja eles existem), existe a fragilidade; esta, sem dúvida, exige purificação. Todavia a purificação da Igreja há de se fazer sem ruptura com o passado, sem perda de contato com a linhagem apostólica e a fonte “Jesus Cristo”. Qualquer quebra nessa linha é mortal, pois faz da nova comunidade uma obra meramente humana, separada do seu manancial autêntico; a tal comunidade já não se aplica a Palavra, de Cristo, em Mt 28,18-20: “Estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. A própria Igreja de Cristo, a Igreja Católica, sabe tirar do bojo da sua vitalidade o remédio aos males morais que acometem seus filhos; a Igreja é a Mãe solícita de curar as chagas que os seus filhos lhe infligem à revelia da própria Mãe. Na verdade, o católico peca, porque se afasta dos ensinamentos e da vida da Igreja.
4. Aliás, a razão pela qual não se pode conceber Reforma da Igreja fundada por Cristo (mas apenas reformas em setores disciplinares da mesma), é o próprio conceito de Igreja. Esta não é uma República (como afirmavam reformadores do século XVI), nem é uma sociedade meramente humana, mas é o sacramento que continua o mistério da Encarnação; é Jesus Cristo prolongado em seu corpo através dos séculos – o que significa que, por debaixo da veste humana e defectível que os homens dão à Igreja, existe o próprio Cristo presente com sua autoridade, e indefectibilidade; esta presença atuante de Cristo garante a todos quantos se chegam a Ele na Igreja, a santificação e a vida eterna; é Ele quem batiza, é Ele quem consagra o pão e o vinho, é Ele quem absolve os pecados. Consciente dessa presença indefectível de Cristo na Igreja, podia São Paulo dizer que “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela… para apresentar a si mesmo a Igreja gloriosa sem manchas nem rugas ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). Com efeito, a Igreja é santa não por causa da oscilante santidade dos homens que a integram, mas por causa da presença do Santo de Deus ou de Cristo que nela se encontra. Por isso não toca a homem algum refazer a Igreja ou recomeçá-la, mas compete-lhe apenas zelar para que a face externa da Esposa de Cristo seja purificada das falhas que os homens lhe impõem.
Refletindo sobre estas verdades, os fiéis católicos hão de se recordar das palavras do Apóstolo São Paulo, que hoje parecem mais oportunas ainda do que nos tempos da Igreja nascente:
“Rogo-vos, irmãos, que estejais alertas contra os que causam divisões e escândalos contrários à doutrina que aprendestes; afastai-vos deles” (Rm 16,17).
“Alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo. Assim não seremos mais crianças, joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e da sua astúcia, que nos induz em erro” (Ef 4,13s).