Será que a depressão passa?
O que faz a vida parecer frequentemente tão sem sentido a uma pessoa? Esta é uma pergunta que você já pode ter feito durante algum tempo, ou que esteja se fazendo agora…
O que para os pássaros é a muda – época em que eles trocam de plumagem, tempos difíceis, talvez a depressão seja para alguns seres humanos – um período doloroso de travessia.
Por isso, gostaria de propor-lhes uma visão diferenciada, um outro modo de encarar o que para muitos de nós possa ser sinônimo de fracasso. Acredito que muitos frutos podem ser colhidos nesse tempo; lembro-me agora de algumas características próprias do inverno: os dias chuvosos e sombrios, de profunda reflexão e adaptação. Passada essa época, permanece a lembrança, não somente das chuvas e do frio, mas dos frutos da estação.
Antes de falarmos mais sobre este assunto, é imprescindível estabelecer a diferença entre a depressão de caráter endógeno e a depressão decorrente de lutas e angústias, que também podemos chamar de psico-espiritual. Esta definição é necessária, pois o meu objetivo neste texto é tratar apenas desta.
As depressões endógenas, podem ser desencadeadas por um fator psicológico, mas são condicionadas bioquimicamente e até hereditariamente alicerçadas. Nesse caso, é preciso uma farmacoterapia (remédios) adequados e acompanhamento médico com psiquiatra. Pode acontecer, inclusive, que este tipo de depressão não esteja vinculado a nenhuma crise pessoal ou estresse social. Por exemplo: uma pessoa depressiva que traz em sua história familiar a depressão em gerações anteriores, ou que apresenta um déficit de serotonina, quando está livre da crise, consegue dedicar-se normalmente à sua vida após o tratamento médico.
Já as depressões psico-espirituais, são as que têm acometido tantas pessoas, de diversas faixas etárias e níveis sócio-econômicos. Segundo Victor Frankl, psicoterapeuta existencialista, essa depressão é causada por um vazio existencial, decorrente de uma falta de sentido de vida. Este tipo de crise pode igualmente desencadear sintomas como apatia, desânimo generalizado, desinteresse por tudo ao redor. Nestes casos a terapia é a mais indicada: um bom psicólogo pode conduzir o paciente para questões fundamentais de sua vida e ajudá-lo a sair da crise.
O inverno que também produz frutos
Algumas pessoas consideram a depressão como uma página vergonhosa de suas histórias, como uma aleija a alma. Mas não precisa ser assim, a depressão em alguns casos passa. Por mais que seja difícil, aqueles que (com ajuda) conseguiram transformar este período difícil de suas vidas em um tempo de crescimento, de maturidade e de transformação, colheram muitos frutos.
A depressão, enquanto condição humana, se bem orientada, deve conduzir o ser humano à tomada de consciência da sua própria vida e do seu sentido último. Quando isso acontece, a colhe os frutos da depressão e passa por uma profunda maturidade espiritual e humana, uma vez que é reconhecida a necessidade de nos voltarmos para Alguém que nos transcende (o Criador) e para a questão fundamental de nossa existência (para quê fomos criados?).
A crise consiste em admitir que se tem sede e que precisa-se de água, e para isso é preciso romper com muitas falsas certezas, como fez a samaritana que teve um encontro pessoal com o Cristo em um momento de vazio existencial profundo. Deus tem sede que tenhamos sede dEle, já nos dizia Santo Agostinho.
Se conseguirmos, portanto, entender a depressão desta forma, compreenderemos, à luz da virtude da esperança, que todo vazio pode ser ocupado pela presença divina, que se encarregará de dar sentido às nossas vidas.
O inverno é, portanto, a estação da busca pela Verdade. Quando a encontramos, tudo pode desabrochar novamente. Que Deus abençoe a todos aqueles que passam por esta dura prova. Vocês não estão sozinhos!
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