Acredito que o tema deste artigo será muito oportuno para todos nós que, no período de férias escolares dos filhos, muitas vezes entramos num verdadeiro conflito sobre o que “inventar” para proporcionar-lhes divertimento e, ao mesmo tempo, encontrar para nós o tão sonhado descanso. Isso sem falar o quanto sofrem algumas famílias por não poderem fazer coincidir suas férias com as das crianças. Existem ainda aqueles cujos filhos adolescentes se aborrecem com os programas dos pais e estão sempre desejosos de “escapulir” para seus próprios programas. Como então encontrar o descanso e o lazer em família?
Aqui não vamos propor “roteiro de férias”, jogos ou brincadeiras para realizar com as crianças, mas procurar encontrar, na Palavra de Deus e no Magistério da Igreja, um ensinamento sobre o descanso que forneça as bases para que, dentro da realidade e das possibilidades de cada uma, possam as famílias que o lerem direcionar seu próprio lazer.
A necessidade de descanso é algo que podemos sentir no nosso corpo e na nossa mente, mas nem sempre temos uma idéia muito clara do que significa realmente descansar: uns descansam simplesmente dormindo; outros olhando uma paisagem; outros, de temperamento mais ativo, inventam formas tão complicadas de descansar que acabam se cansando mais do que antes.
O descanso, na verdade, é algo que toca profundamente nosso desejo de felicidade, de bem-estar, de reconquista do “paraíso perdido”. No “paraíso” bíblico, ou seja, antes do pecado, o trabalho humano significava cuidar da obra da criação, em submissão a Deus. Podemos encontrar este chamado dirigido a nós na ordem: “enchei a terra e dominai-a” (Gn 1,28).
Conforme a narrativa do livro do Gênesis, Deus abençoou o sétimo dia e o consagrou, pois tinha cessado nesse dia toda a obra que havia criado (cf. Gn 1,3). O Santo Padre, o Papa João Paulo II, ensina na Carta Dies Domini” (Dia do Senhor), que ali estava criado o dia do descanso, o dia separado para o louvor do Criador.
O pecado deturpou tudo! O homem era chamado a viver de maneira ordenada: administrando a terra em submissão ao Senhor e, no sétimo dia, descansando em Deus. E tudo o que ele realizaria, tanto no trabalho como no descanso, seria sempre em honra e louvor a Deus.
Ainda no livro do Gênesis podemos ler que, após o pecado do homem, Deus passeava no jardim do paraíso à brisa da tarde em busca do homem e da mulher, que se esconderam dele! (cf. Gn 3,8-11) – É claro que estas narrativas foram escritas numa linguagem simbólica, para se referir a realidades bem mais profundas. A partir do pecado comeríamos o pão com o suor do nosso rosto (cf. Gn 3,19) e nos esconderíamos de Deus, evitando passear com Ele à brisa da tarde. Estava perdido o sentido do trabalho e do descanso.
No entanto, Jesus veio resgatar o verdadeiro sentido dessas realidades. Os Evangelhos mostram em Jesus – o modelo do homem – a ordem restabelecida entre trabalho e repouso; quantas vezes o vemos separar um pouco do seu tempo de intenso trabalho na cura e evangelização, na propagação e instauração do Reino, para retirar-se e descansar com seus amigos!
O descanso não é fuga do trabalho ou irresponsabilidade, mas uma necessidade que o ser humano tem de interromper uma série de atividades produtivas para desfrutar de atividades nas quais não existe nenhuma tensão pelos resultados. Lazer, portanto, não é um período de ficar apenas na inatividade, mas de “ocupar-se” em atividades que não gerem nenhuma das cobranças interiores que cansam a mente e o corpo.
Assim, encontrar o sonhado descanso torna-se não uma questão de escolher o lugar mais bonito, as companhias mais divertidas ou os jogos preferidos. Embora tudo isso possa até ser encontrado, o verdadeiro descanso requer muito mais uma disposição interior: a de abandonar todo espírito ativista que temos vivido no dia-a-dia, que gera tanta desunião e murmuração, para nos reencontrarmos através de relações interpessoais carinhosas e de um verdadeiro espírito de caridade, que é o louvor que Deus espera de nós.
Diante de tudo o que vimos, fica clara a necessidade de a família se unir para orar e escutar de Deus o que Ele deseja proporcionar-lhes naquele domingo, naquelas férias, naquele feriado. Isto implicará desistirmos de ficar cada um puxando para o lado que acredita ser a maior opção de lazer. Ainda na Carta Dies Domini, o Santo Padre diz que Jesus veio resgatar o dia de domingo, através da nossa recriação como homens e mulheres novos que submetem toda a sua vida a Ele e encontram nele a verdadeira alegria e o autêntico descanso. Ficam aqui nossas orações para que juntos, como família, vivamos verdadeiramente o descanso que o Senhor conquistou para nós.