Formação

Deus amigo dos pobres

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O profeta Amós, 6,1.4-7, e a parábola de Jesus (Lucas 16, 19-31), que ouvimos hoje nos informam que Deus socorre os pobres e pune os ricos enriquecidos com o sangue dos pobres.

Os governantes legítimos são investidos da autoridade que vem de Deus exclusivamente para distribuir a justiça e promover o bem comum para assegurar a paz.

Limitar-se a afirmar que os ricos devem distribuir parte dos bens ou dar esmola seria trair, ainda uma vez, a mensagem de Jesus. Aqui se trata da justiça, de uma nova ordem social, que somente a palavra de Deus pode sugerir.

É obvio, portanto, que existem duas chaves de leitura: uma pessoal, a que explica a troca de sorte dos dois protagonistas, o momento crítico que acontece no encontro com Deus; a segunda aponta o acontecimento da opressão do homem sobre o homem, imposta com a força ou com fingida legalidade.

A coisa principal a colocar em evidência, a propósito da parábola do rico Epulão, é a sua atualidade: mostra como o mesmo acontecimento se repete hoje em nosso meio, seja a nível mundial como a nível nacional.

Mas existem momentos em que o “status quo” se corrige e abre caminho a formas novas de fraternidade e de paz. Somente então pode nascer uma ordem autêntica, através do reconhecimento efetivo do homem e dos seus direitos.

Começa assim, nos grandes momentos da história universal, uma premissa da mudança final, que será a descoberta da realidade no seu verdadeiro ser.

Amós, identificado como o profeta da justiça, usa de clareza radical para anunciar que Deus é Pai e por isso, cuida especialmente dos filhos mais necessitados e excluídos. Como Pai, Deus quer que haja um compromisso com a promoção da fraternidade e da solidariedade, sem que haja divisão entre os que acumulam e os que são explorados.

O ter sem a preocupação com o ser justo e fraterno, com a solidariedade e a promoção da dignidade e da vida, gera e justifica o desenfreado consumismo de alguns, que têm, ao preço da espoliação e da miséria de muitos que não têm. Infelizmente é este o retrato da nossa realidade na esfera mundial, como na nacional.

A partir da opção de Deus no ato da Encarnação, compreendemos facilmente que, como Pai, que quer salvar a todos, Deus escolhe o pequeno e o pobre. Ele entra na nossa história, faz-se homem, assumindo a nossa fragilidade e pequenez (Cf. Fl 2, 6-11), chegando a nós na criança de Belém, esvaziando-se de poder e grandeza, do seu ser Deus, para, na humildade da manjedoura, revelar a sua glória e convocar os homens de Boa vontade.

A nossa Arquidiocese celebra um ano missionário, fazendo do mês de outubro um ponto alto, e prepara um novo Plano de Pastoral a ser lançado no final de novembro.

O caminho pastoral da nossa Igreja Particular em Salvador vem sendo balizado pela opção assumida em 2003, quando nos decidimos a ser e fazer Discípulos de Jesus. Neste ano a V Conferência do CELAM, realizada durante o mês de maio em Aparecida (SP), retomou, por inspiração do Papa Bento XVI, o mesmo tema, acrescentando o desejo de que em Jesus Cristo nossos povos tenham vida.

Acredito que não há caminho mais acertado para a Igreja. É o mesmo feito pelo Senhor que se declara Caminho Verdade e Vida (Cf. Jo 14, 6), e definiu a sua vinda a nós para que todos tenham vida e vida em abundância (Cf. Jo 10, 10).

Confirmamos, pois, a mesma opção e o mesmo objetivo: proclamar o Evangelho da vida e da esperança; anunciar a vitória de Jesus sobre toda forma de escravidão e de morte. Só Ele é o Senhor. Só n’Ele alcançaremos a vida e a paz.

Queremos, como discípulos, aprender de Jesus, estar com Ele e, a partir d’Ele anunciar o seu reino que significa gerar novo modo de relacionamento, convocar a todos para uma maior atenção aos pobres, aos pequenos, aos sedentos e famintos de justiça e de dignidade.

Escrevendo a Timóteo, Paulo relembra a importância da fidelidade à opção feita e exorta a combater o bom combate, ou seja a levar adiante o evangelho de Jesus Cristo que nos deixou “o testemunho da verdade”. Esta mesma lembrança e exortação propomos aos homens e mulheres de boa vontade da nossa Arquidiocese – guardar com integridade a vida nova que recebemos no batismo.

A nova ordem social embasada na paz, que é fruto da justiça, virá sim como resultado da fraternidade, da solidariedade, da misericórdia, do amor a todos.

Dom Geraldo M. Agnelo é Cardeal Arcebispo de Salvador

Fonte:CNBB


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