1. «Sede, cristãos, mais firmes ao mover-vos!»
«Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, segundo os seus próprios desejos, como que sentido comichão nos ouvidos, rodear-se-ão de mestres. Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas» (2 Tim 4, 3-4).
Esta palavra da Escritura –sobretudo a menção ao desejo de ouvir coisas novas– está-se realizando de modo novo e impressionante em nossos dias. Enquanto nós celebramos aqui a memória da paixão e morte do Salvador, milhões de pessoas são induzidas por hábeis contadores de lendas antigas a crer que Jesus de Nazaré nunca foi, na verdade, crucificado. Nos Estados Unidos, existe um best seller do momento, uma edição do Evangelho de Tomé, apresentado como o evangelho que «nos evita a crucificação, torna desnecessária a ressurreição e não nos obriga a crer em nenhum Deus chamado Jesus». [1]
«Existe uma percepção penosa na natureza humana, escrevia anos atrás o maior estudioso bíblico da história da Paixão, Raymond Brown: quanto mais fantástico é o cenário imaginado, mais sensacional é a propaganda que recebe e mais forte o interesse que suscita. Pessoas que não se dão ao trabalho de ler uma análise séria das tradições históricas sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus, ficam fascinadas por toda nova teoria segundo a qual ele não foi crucificado e não morreu, especialmente se a seqüência da história compreende sua fuga com Maria Madalena para a Índia [ou para a França, segundo a versão mais atualizada]… Estas teorias demonstram que quando se trata da Paixão de Jesus, a despeito da máxima popular, a fantasia supera a realidade, e é, querendo ou não, também mais rentável». [2]
Fala-se muito da traição de Judas e não se percebe que se está repetindo. Cristo é agora vendido, não mais aos chefes do sinédrio por trinta moedas, mas a editores e livrarias por milhares de moedas… Ninguém voltará a frear essa onda especulativa que, mais ainda, registrará um crescimento com o lançamento iminente de um certo filme, mas me tendo ocupado por anos da História das origens cristãs, sinto o dever de chamar a atenção sobre um equívoco descomunal que está no fundo de toda esta literatura pseudo-histórica.
Os evangelhos apócrifos sobre os quais se apóia são textos conhecidos há tempos, no todo ou em parte, mas com os quais nem sequer os historiadores mais críticos e mais hostis ao cristianismo pensaram, antes de hoje, que se pudesse fazer história. Seria como se entre qualquer século se pretendesse reconstruir a história atual baseando-se em romances escritos em nossa época.
O equívoco descomunal consiste no fato que se utilizam estes escritos para fazê-los dizer exatamente o contrário daquilo que pretendiam. Estes fazem parte da literatura gnóstica dos séculos II e III. A visão gnóstica –uma mescla de dualismo platônico e de doutrinas orientais revestidas de idéias bíblicas– sustenta que o mundo material é uma ilusão, obra do Deus do Antigo Testamento, que é um deus mau, ou ao menos inferior; Cristo não morreu na cruz porque jamais havia assumido, a não ser em aparência, um corpo humano, sendo este indigno de Deus (docetismo).
Se Jesus, segundo o Evangelho de Judas, do qual se falou muito nos dias passados, ordena seu próprio apóstolo a traí-lo, é porque, morrendo, o espírito divino que está nele poderá finalmente livrar-se do invólucro da carne e voltar a subir ao céu. O matrimônio orientado aos nascimentos deve ser evitado (encratismo); a mulher se salvará só se o «princípio feminino» (thelus) personificado por ela se transformar no princípio masculino, isto é, se deixar de ser mulher. [3]
O cômico é que hoje há quem crê ver nestes escritos a exaltação do princípio feminino, da sexualidade, do pleno e desinibido gozo deste mundo material, em polêmica com a Igreja oficial, que, com seu maniqueísmo, teve sempre inculcado tudo isto! O mesmo equívoco que se nota a propósito da doutrina da reencarnação. Presente nas religiões orientais como uma punição devida a precedentes culpas e como aquilo ao que se deseja terminar com todas as forças, essa é acolhida no ocidente como uma maravilhosa possibilidade de tornar a viver e gozar indefinidamente este mundo.
São coisas que não merecem ser tratadas neste lugar e neste dia, mas não podemos permitir que o silêncio dos crentes seja tomado por vergonha e que a boa fé (ou a ignorância?) de milhões de pessoas seja brutalmente manipulada pela mídia, sem alçar um grito de protesto em nome não só da fé, mas também do bom senso e da sã razão. É o momento, creio, de ouvir novamente a advertência de Dante Alighieri:
«Sede, Cristãos, firmes ao mover-vos:
não sejais como a pluma sensível a todos os ventos,
e não creiais que qualquer água vos lave.
Tendes o novo e o velho Testamento,
e o pastor da Igreja que vos guia;
isto vos basta para vossa salvação…
Sede homens, e não ovelhas insensatas». [4]
2. A Paixão precedeu a Encarnação!
Mas, deixemos de lado estas fantasias que possuem todas uma explicação comum: estamos na era da mídia e à mídia não interessa a verdade, mas a novidade. Concentremo-nos sobre o mistério que estamos celebrando. O melhor modo de refletir, este ano, sobre o mistério da Sexta-Feira Santa é saber reler por inteiro a primeira parte da encíclica do Papa, «Deus caritas est». Não podendo fazê-lo aqui, quero ao menos comentar algumas de suas passagens que mais diretamente referem-se ao mistério deste dia. Lemos na encíclica:
«O olhar fixo no lado trespassado de Cristo, de que fala João, compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: “Deus é amor”. É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar». [5]
Sim, Deus é amor! Se todas as Bíblias do mundo –foi dito– fossem destruídas por qualquer cataclismo ou furor iconoclasta e nos permanecesse somente uma cópia; e ainda que esta copia fosse assim danificada que só uma página estivesse agora inteira, e ainda que esta página fosse estragada que só uma linha pudesse ser lida agora: se tal linha for a linha da Primeira carta de João onde está escrito «Deus é amor», toda a Bíblia estaria salva, porque tudo está contido lá.
O amor de Deus é luz, é felicidade, é plenitude de vida. É a torrente que Ezequiel viu sair do templo e que, aonde chega, cura e suscita vida; é a água que sacia toda sede prometida à samaritana. Jesus também repete a nós, como a ela: “Se conhecesses o dom de Deus”. Vivi minha infância em uma casa de campo a poucos metros de uma rede elétrica de alta tensão, mas nós vivíamos às escuras ou à luz de velas. Entre nós e a rede elétrica estava a via férrea, e, com a guerra em marcha, ninguém pensava em superar o pequeno obstáculo. Assim ocorre com o amor de Deus: está ali, ao alcance da mão, capaz de iluminar e aquecer tudo em nossa vida, mas passamos a existência na escuridão e no frio. É o único motivo verdadeiro de tristeza da vida.
Deus é amor, e a cruz de Cristo nos é a prova suprema, a demonstração histórica. Existem dois modos de manifestar o próprio amor para os demais, dizia um autor do oriente bizantino, Nicolas Cabasilas. O primeiro consiste em fazer o bem à pessoa amada, em dar-lhe presentes; o segundo, muito mais comprometedor, consiste em sofrer por ela. Deus amou-nos no primeiro modo, com amor, isto é, de generosidade, na criação, quando nos encheu de dons, dentro e fora de nós; amou-nos com amor de sofrimento na redenção, quando inventou a própria aniquilação, sofrendo por nós as mais terríveis dores, a fim de convencer-nos de seu amor [6]. Por isso, é sobre a cruz que se deve contemplar agora a verdade de que «Deus é amor».
A palavra «paixão» tem dois significados: pode indicar um amor veemente, «passional», ou um sofrimento moral. Há uma continuidade entre as duas coisas e a experiência quotidiana mostra quão facilmente de uma se passa à outra. Assim ocorreu também, antes de tudo, com Deus. Há uma paixão –escreveu Orígenes– que precede à encarnação. É «a paixão de amor» que Deus desde sempre nutre em relação ao gênero humano e que, na plenitude dos tempos, levou-o a vir sobre a terra e padecer por nós. [7]
3. Três ordens de grandeza
A encíclica «Deus caritas est» adiciona um novo modo de fazer apologia da fé cristã, talvez o único possível hoje e certamente o mais eficaz. Não contrapõe os valores sobrenaturais aos naturais, o amor divino ao amor humano, o eros ao ágape, mas nos mostra a originária harmonia, sempre a redescobrir e curar por causa do pecado e da fragilidade humana. «O eros –escreve o Papa– quer-nos elevar “em êxtase” para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» [8]. O evangelho está, sim, em concorrência com os ideais humanos, mas no sentido literal de que concorre à sua realização: cura-o, eleva-o, protege-o. Não exclui o eros da vida, mas o veneno do egoísmo do eros.
Existem três ordens de grandeza, disse Pascal em um célebre pensamento [9]. A primeira é a ordem material ou do corpo: nela sobressai quem tem muitos bens, quem é dotado de força atlética ou beleza física. É um valor para não desprezar, mas o mais baixo. Acima dessa há a ordem do gênio e da inteligência, na qual se distinguem os pesadores, os inventores, os cientistas, os artistas, os poetas. Esta é uma ordem de qualidade diversa. Ao gênio não acrescenta e não tolhe nada o ser rico ou pobre, belo ou feio. A deformidade física da própria pessoa não tolhe em nada a beleza do pensamento de Sócrates e da poesia de Leopardi.
Este valor do gênio é um valor certamente mais alto que o precedente, mas não ainda o supremo. Acima dele há uma outra ordem de grandeza, e é a ordem do amor, da bondade. (Pascal chama de ordem da santidade e da graça). Uma gota de santidade, dizia Gounod, vale mais de um oceano de gênio. Ao santo não acrescenta e não tolhe nada o ser belo ou feio, douto ou iletrado. Sua grandeza é de uma ordem diversa.
O cristianismo pertence ao terceiro nível. No romance Quo vadis, um pagão pergunta ao apóstolo Pedro recém-chegado a Roma: «Atenas deu-nos a sabedoria, Roma a força; a vossa religião, o que nos oferece? E Pedro responde: o amor! [10] O amor é a coisa mais frágil que existe no mundo; é representado, e o é, como uma criança. Pode-se matar por muito pouco –vimos com horror na Itália nas passadas semanas–, como se pode fazer com uma criança. Sabemos bem no que se tornam o poder e a ciência, a força e o gênio, sem o amor e a bondade…
4. Amor que perdoa
«O eros de Deus pelo homem –prossegue a encíclica– é ao mesmo tempo totalmente agape. E não só porque é dado de maneira totalmente gratuita, sem mérito algum precedente, mas também porque é amor que perdoa» (n. 10).
Também esta qualidade refulge no máximo grau no mistério da cruz. «Ninguém tem amor maior que aquele que dá a vida pelos próprios amigos», disse Jesus no cenáculo (Jo 15, 13). Queria exclamar: Sim, existe, ó Cristo, um amor maior que dar a vida pelos próprios amigos. O vosso! Vós não destes a vida por vossos amigos, mas por vossos inimigos! Paulo disse que a duras penas se encontra quem seja disposto a morrer por um justo, mas se encontra. «Por um homem de bem talvez alguém se atreva a morrer; mas a prova de que Deus ama-nos é que Cristo, sendo nós ainda pecadores, morreu por nós»; «Cristo morreu pelos ímpios no tempo estabelecido» (Rm 5,6-8).
No entanto, não se tarda a descobrir que o contraste é só aparente. A palavra «amigos» em sentido ativo indica aquele que te ama, mas em sentido passivo indica aquele que é amado por ti. Jesus chama Judas de «amigo» (Mt 26, 50), não porque Judas o amasse, mas porque ele o amava! Não há amor maior que dar a própria vida pelos inimigos, considerando-os amigos: eis o sentido da frase de Jesus. Os homens podem ser, ou fazer papel de inimigos de Deus, Deus não poderá jamais ser inimigo do homem. É a terrível vantagem dos filhos sobre os pais (e sobre as mães).
Devemos refletir em que modo, concretamente, o amor de Cristo sobre a cruz pode ajudar o homem de hoje a encontrar, como diz a encíclica, «o caminho de seu viver e de seu amor». Isso é um amor de misericórdia, que desculpa e perdoa, que não quer destruir o inimigo, mas, no caso, a inimizade (cf. Ef 2, 16). Jeremias, o mais próximo entre os homens do Cristo da Paixão, pede a Deus dizendo: «Eu verei a tua vingança contra eles» (Jr 11, 20); Jesus morre dizendo: «Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
É justamente desta misericórdia e capacidade de perdão que temos necessidade hoje, para não deslizar sempre mais no abismo de uma violência globalizada. O Apóstolo escrevia aos Colossenses: «Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos (ao pé da letra: de vísceras!) de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem motivo de queixa contra o outro; como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós» (Col 3, 12-13).
Ter misericórdia significa apiedar-se (misereor) no coração (cordis) em relação ao próprio inimigo, entender de que matéria somos todos feitos e, portanto, perdoar. O que pode acontecer se, por um milagre da história, no Oriente Próximo, os dois povos há décadas em luta, de uma só vez, começassem a pensar uns no sofrimento dos outros, a apiedar-se uns dos outros. Não seria mais necessário nenhum muro de divisão entre eles. A mesma coisa deve-se dizer de tantos outros conflitos em ação no mundo, compreendidos aqueles entre as diversas confissões religiosas e igrejas cristãs.
Quanta verdade no verso do nosso Pascoli: «Homens, paz! Na extensa terra grande é o mistério» [11]. Um comum destino de morte incumbe sobre todos. A humanidade é envolvida por tanta obscuridade e inclinada («prona») sob tanto sofrimento que deveríamos ter também um pouco de compaixão e de solidariedade uns pelos outros!
5. O dever de amar
Há um outro ensinamento que nos vem do amor de Deus manifestado na cruz de Cristo. O amor de Deus pelo homem é fiel eternamente: «Eu te amei com amor eterno», diz Deus ao homem nos profetas (Jr 31, 3), e ainda: «Em minha lealdade não falharei» (Sl 89,34). Deus uniu-se para amar para sempre, privou-se da liberdade de voltar atrás. É este o sentido profundo da aliança que em Cristo tornou-se «nova e eterna».
Na encíclica papal, lemos: «Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para suas íntimas purificações, que ele procure agora o caráter definitivo, e isso em um duplo sentido: no sentido da exclusividade – “apenas esta única pessoa” – e no sentido de ser “para sempre”. A amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque sua promessa visa o definitivo: o amor visa a eternidade». [12]
Em nossa sociedade, questiona-se cada vez com maior freqüência que relação pode haver entre o amor de dois jovens e a lei do matrimônio; que necessidade de «vincular-se» tem o amor, que é todo impulso e espontaneidade. Assim são sempre mais numerosos aqueles que rejeitam a instituição do matrimônio e escolhem o assim chamado amor livre ou a simples convivência de fato. Só se se descobre a profunda e vital relação que há entre lei e amor, entre decisão e instituição, pode-se responder concretamente àquela pergunta e dar aos jovens um motivo convincente para «unir-se» e amar para sempre e não ter medo de fazer do amor um «dever».
«Portanto, quando há o dever de amar, –escreveu o filósofo que, depois de Platão, escreveu as coisas mais belas sobre o amor, Kierkegaard–, agora somente o amor é garantido para sempre contra toda alteração; eternamente livre em santa independência; assegurado em eterna santidade contra todo desespero» [13]. O sentido destas palavras é que a pessoa que ama, quanto mais ama intensamente, mais percebe com angústia o perigo que corre seu amor. Perigo que não vem dos outros, mas dela mesma. Essa sabe bem, de fato, ser volúvel e que amanhã, querendo ou não, pode já estancar-se e não amar mais ou mudar o objeto de seu amor. É já que, agora que está nela a luz do amor, vê com clareza qual perda irreparável isto comporta, eis que se previne «unindo-se» para amar com o vinculo do dever e ancorando, deste modo, à eternidade seu ato de amor posto no tempo.
Ulisses queria chegar a rever sua pátria e sua esposa, mas devia passar através do local das sereias que os navegantes encontravam com seu canto e os levavam a bater contra os recifes. É um mito, mas ajuda a entender o porquê, ainda que humano e existencial, do matrimônio «indissolúvel» e, sobre um plano diverso, dos votos religiosos.
O dever de amar protege o amor do «desespero» e o torna «santo e independente», no sentido que protege do desespero de não poder amar para sempre. Dai-me um verdadeiro apaixonado –dizia o mesmo pensador– e ele vos dirá se, em amor, há oposição entre prazer e dever; se o pensamento de «dever» amar por toda a vida traz ao amante medo e angústia, ou não muito mais alegria e felicidade total.
Aparecendo um dia da Semana Santa à Beata Ângela da Foligno, Cristo lhe disse uma palavra que ficou célebre: «Não te amei por brincadeira!» [15]. Cristo não nos amou verdadeiramente por brincadeira. Há uma dimensão lúdica e jocosa no amor, mas ele mesmo não é um jogo; é a coisa mais séria e mais cheia de conseqüências que existe no mundo; a vida humana depende dele. Ésquilo compara o amor a um leãozinho que se cria em casa, «antes dócil e terno mais que uma criança», com o qual se pode até brincar, mas que, crescendo, é capaz de fazer estrago e encher a casa de sangue. [16]
Estas consideração não bastarão para mudar a cultura existente que exalta a liberdade de mudar e a espontaneidade do momento, a prática do «usar e jogar fora» aplicada também ao amor. (Encarregar-se-á, lamentavelmente, a vida de fazê-lo, quando ao fim se encontrar com as cinzas nas mãos e a tristeza de não ter construído nada de duradouro com o próprio amor). Mas que, pelo menos sirvam, estas considerações, para confirmar a bondade e a beleza da própria escolha àqueles que decidiram viver o amor entre o homem e a mulher segundo o projeto de Deus, e sirvam para animar muitos jovens a fazer a mesma escolha.
Não nos resta outra coisa senão entoar com Paulo o hino ao amor vitorioso de Deus. Ele nos convida a fazer com ele uma maravilhosa experiência de cura interior. Pensa em todas as coisas negativas e nos momentos críticos de sua vida: a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada. Contempla isso tudo à luz da certeza do amor de Deus e grita: «Mas em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!».
Levanta então o olhar; desde sua vida pessoal passa a considerar o mundo que o circunda e o destino humano universal, e de novo a mesma jubilosa certeza: «Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida…, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rm 8, 37-39).
Recolhamos seu convite nesta Sexta-Feira da Paixão, e repitamos entre nós suas palavras enquanto dentro em pouco adoremos a cruz de Cristo.
[1] H. Bloom, no ensaio interpretativo que acompanha a edição de M. Meyer, The Gospel of Thomas, HarperSan Francisco, s.d., p. 125.
[2] R. Brown, The Death of the Messiah, II, New York 1998, pp. 1092-1096.
[3] Ver o número 114 no mesmo Evangelho de Tomé (ed. Mayer, p. 63); nos Evangelho dos Egípcios Jesus diz: «Vim para destruir as obras da mulher» (Cf. Clemente Al., Stromati, III, 63). Isto explica por que o Evangelho de Tomé se converte no evangelho dos maniqueístas, enquanto que foi combatido severamente pelos autores eclesiásticos (por exemplo, por Hipólito de Roma) que defendiam a bondade do matrimônio e da criação em geral.
[4] Paradiso, V, 73-80.
[5] Benedicto XVI, Enc. «Deus caritas est», n.12.
[6] Cf. N. Cabasilas, Vita in Cristo, VI, 2 (PG 150, 645)
[7] Cf. Orígenes, Homilias sobre Ezequiel, 6,6 (GCS, 1925, p. 384 s).
[8] Enc. «Deus caritas est», n.5.
[9] Cf. B. Pascal, Pensieri, 793, ed. Brunschvicg.
[10] Henryk Sienkiewicz, Quo vadis, cap. 33.
[11] Giovanni Pascoli, «I due fanciulli».
[12] Enc. «Deus caritas est», n.6.
[13] S. Kierkegaard, Gli atti dell’amore, I, 2, 40, ed. a cura di C. Fabro, Milano 1983, p. 177 ss.
[14] Cf. Odisea, canto XII.
[15] Il libro della Beata Angela da Foligno, Instructio 23 (ed. Quaracchi, Grottaferrata 1985, p. 612).
[16] Eschilo, Agamennone, vv. 717 ss.
(Tradução do original realizada por Zenit)
Fonte: cantalamessa.org