Formação

Deus é Santo – Dom Geraldo M. Agnelo

comshalom

Novembro nos reserva o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados, logo ao início do mês. São marcos que se colocam ao longo da caminhada para lembrar-nos o sentido de nossa vida. Na época do consumismo tudo serve para satisfazer o imediatismo e cultivar sensações.

No primeiro domingo de novembro, ou no próprio dia primeiro do mês, celebramos a festa de Todos os Santos. Falar de todos os santos não é buscar conhecer todos os santos do calendário ou das imagens de nossas igrejas que lembram heróis proeminentes da santidade, como personagens especiais, particularmente os proclamados nas canonizações.

A santidade possui algumas chaves. Cristo Jesus nos diz: “Sede santos como meu Pai é santo!” Santidade de Deus é a Verdade, é a Justiça, é a sua Misericórdia, é o seu Amor. Todo cristão é chamado à santidade no dia de seu batismo: é programa para toda a vida.

“Quando tiveres um Deus em ti, terás um hóspede que nunca mais te deixará em paz”. A advertência é de Paul Claudel. E Deus, ao hospedar-se na vida de uma pessoa, passa a ser um hóspede incômodo e exigente, mas também adorável e irresistível. Chamado certa vez a qualificar a identidade de Deus, o filósofo Vicente Ferreira da Silva não teve dúvida: “Ele é o Sedutor, o grande Sedutor que fascina para sempre o ser humano”.

Conta-se de um santo muito simples que um dia, ao passar diante do altar, caiu em êxtase e ficou com o peito ardendo de amor, como se estivesse pegando fogo. De dentro do sacrário veio a voz de seu amigo Jesus: “Doidinho, você não se emenda e não tem jeito e fica fora de si quando me vê!” A resposta do santo foi imediata: “Doidinho é você, mais doido que eu, que fica aí preso dentro de um sacrário, dia e noite, por amor de mim.” Este era o grau de suas relações pessoais com o hóspede permanente de todas as suas horas.

O Evangelho nos diz: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. … O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (João 15, 13-15.17). Deus amou tanto a humanidade, que enviou o próprio Filho, e o Filho deu a sua vida por nós, (cf. Romanos 5,8). O mesmo Paulo nos diz: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguições, fome, nudez, perigo, espada?

A religiosidade popular, como manifestação popular da piedade, é considerada, por alguns intelectuais ou teóricos e planejadores, com desdenho e censura por não se enquadrar nas regras do bom senso pastoral ou social. Sem fazer concessões à desordem de ecletismos desvairados, é preciso reconhecer a legitimidade religiosa de devoções populares. Essas devem merecer sempre a atenção e cuidados para se alimentarem da própria fonte da palavra de Deus na história da nossa salvação.

“Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá novo horizonte à vida e, com isso uma orientação decisiva”, como recorda Bento XVI na sua primeira encíclica Deus é Amor. Isso é justamente o que, com apresentações diferentes, todos os evangelhos nos têm conservado como sendo o início do cristianismo: um encontro de fé com a pessoa de Jesus (cf. João 1,35-39).

A festa de todos os santos não pode resumir-se em pura celebração ou em simples pedido de ajuda. Falando dos santos, São Bernardo dizia: “Não sejamos preguiçosos em imitar aqueles que somos felizes de celebrar”. É portanto ocasião ideal de refletir sobre o “chamamento universal de todos os cristãos à santidade”. Na Primeira Carta de Pedro 1,15-16, lemos: “À imagem do Santo Deus que vos chamou, fazei-vos santos porque está escrito; vós sereis santos, porque eu sou santo”.

A santidade pode comportar fenômenos extraordinários, mas não se identifica com eles. Se todos são chamados à santidade, é porque, compreendida retamente, ela está ao alcance de todos, faz parte da normalidade da vida cristã. Deus é santo. A santidade é a síntese, na Bíblia, de todos os atributos de Deus.

*Dom Geraldo M. Agnelo, 74, é Cardeal Arcebispo de Salvador

Fonte: CNBB


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.