Germana Perdigão
Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom
“No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galiléia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. Ora, não havia vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou’. Sua mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo o que ele vos disser’.
Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus lhes disse: ‘Enchei as talhas de água’. Eles as encheram até a borda. Então lhes disse: ‘Tirai agora e levai ao mestre-sala’. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho – ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que haviam retirado a água – chamou o noivo e lhe disse: ‘Todo homem serve primeiro o vinho bom, e quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!’. Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele. Depois disso, desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, e ali ficaram apenas alguns dias” (Jo 2,1-12).
Queremos nesse artigo meditar um pouco sobre a importância da “presença divina” no seio das famílias, por isto iniciei-o transcrevendo a belíssima passagem das Bodas de Caná, que encontramos no Evangelho de São João. Deus, através de Jesus, quis se fazer presente naquelas Bodas que marcava o início de uma família e a sua presença e a de sua mãe marcou para sempre a vida daquele casal.
Através desse trecho da Palavra de Deus, podemos concluir que a presença de Jesus na vida das famílias proporciona uma diferença substancial; Jesus é a luz do mundo e veio ao mundo para iluminar a vida dos homens. Precisamos crer que da mesma forma que o Senhor esteve naquele lar e o abençoou com a sua providência, realizando o seu primeiro milagre, Ele também deseja hoje fazer o mesmo no seio de cada família, transformando a vida dos casais, renovando e fortalecendo o seu amor, providenciando suas necessidades materiais e espirituais. Deus está atento a cada necessidade, a cada detalhe. Quantas bênçãos Ele tem reservado para as famílias…
A vida familiar cristã encerra aspectos muito importantes como a qualidade das relações interpessoais entre os cônjuges, entre pais e filhos e entre irmãos, a promoção da dignidade da mulher, a procriação responsável, a educação dos filhos, a administração dos bens à luz de Deus e o testemunho para as outras famílias, através do seu vínculo de amor, da “imagem e símbolo da Aliança que une Deus e o seu povo”(1), além disso, a ajuda recíproca entre as famílias não só no aspecto espiritual, mas também no aspecto material, reconhecendo o seu papel na construção de uma sociedade mais justa.
Ao nos conscientizar desses aspectos podemos compará-los à situação que se encontra a família no mundo de hoje: “sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambigüidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas, que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores fundamentais; o número crescente dos divórcios e a busca de uma nova união por parte dos mesmos; a praga do aborto; o recurso cada vez mais freqüente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva”(2); a falta de diálogo entre pais e filhos; a mentalidade consumista que leva ao bem-estar excessivo; o aparecimento de um sentimento de angústia e incerteza sobre o futuro, roubando assim a prática da generosidade e a coragem de estar sempre abertos a concepção de novas vidas humanas.
Todas essas reflexões nos levam a indagar: Qual a razão dessas sombras que atingem as famílias cristãs no mundo de hoje levando-as a seguir propostas sedutoras que comprometem em medida diversa a verdade e a dignidade da pessoa humana ? Não é difícil responder a esta pergunta. A razão de todas essas sombras consiste na falta de relacionamento de amor com Jesus, no não desfrutar da presença do Cristo em suas vidas, como foi descrito no evangelho de São João, precisamente nas Bodas de Caná. As famílias que vivem com Jesus recebem o vinho novo e bom do Espírito que transforma o homem velho em criatura nova, capaz de viver a vontade de Deus e o desafio que exige sua missão no mundo de hoje, amar incondicionalmente como Deus o amou.
Gostaria novamente de alertar que ao esquecerem e ao se afastarem de Jesus, muitas famílias se colocam numa situação de “perigo mortal”, mas Deus que vê os inúmeros atentados contra as famílias cristãs, coloca ao nosso dispor muitos meios de crescermos no relacionamento íntimo com Jesus, Ele que é o alicerce e o gerador de todo o amor e unidade que dão “vida” à família cristã.
Deus tem suscitado no meio dos lares cristãos, um “cantinho” sagrado, um pequeno altar, com um crucifixo, uma vela, uma imagem ou ícone de Nossa Senhora e a Palavra de Deus. Este cantinho especial nos recordará a primazia de Deus nas nossas vidas e será um constante apelo para que os membros da família orem juntos. Será um verdadeiro refúgio e uma fonte de renovação, onde a família recolhida aos pés de Jesus Cristo superará as crises, vencerá as tentações, realizará os discernimentos, celebrará as vitórias e beberá a paz e o amor que jorram da presença do Deus vivo.
Não há tempo a perder, devemos permear toda nossa vida com a “vida de Deus”, o hábito de ler uma passagem bíblica da liturgia diária nas refeições faz daquele momento uma ação de graças e partilha de vida. A oração do terço e do Ofício de Nossa Senhora em família, nos coloca sobre a benção e o auxílio da Mãe de Deus. Pelo testemunho, estímulo e alegria dos pais, a busca permanente aos sacramentos, principalmente a Reconciliação e Eucaristia, deve ser uma constante na vida familiar; se possível a prática da missa diária, se não, a fidelidade à missa dominical. O Senhor nos dá muitos outros grandes tesouros que não podem ser negligenciados ou menosprezados como a prática do jejum e da penitência; a realização de obras de misericórdia; a participação em peregrinações a Santuários de Nossa Senhora; enfim a família cristã do mundo de hoje necessita da presença de Jesus, de Maria e dos amigos do céu, da mesma forma que desfrutaram as pessoas que estavam presentes nas Bodas de Caná.
Estas realidades não devem ser vistas como obrigações ou deveres mas sim como grandes direitos que nos foram conquistados e nos introduzem na dignidade e beleza de sermos autênticas e abençoadas famílias cristãs. Faça esta experiência e beba as maravilhas que Deus providenciará em sua família.
1- A exortação apostólica de João Paulo II: A missão da família cristã no mundo de hoje, pág. 23, Edições Paulinas, São Paulo, 1981.
2- A missão da família cristã no mundo de hoje, págs. 13 e 14.