No meu coração sempre existiu um desejo grande de fazer trabalhos voluntários e viajar em missão. Em 2020, pude realizar esse sonho, depois de pesquisar na internet instituições que faziam esse tipo de trabalho, encontrei os vídeos das Expedições em Chaves e em Madagascar. Ao assistir, meu coração acelerava e não tinha dúvidas de que eu precisava viver aquela experiência de 15 dias. Foi assim que conheci Chaves, me lançando nessa aventura sem conhecer ninguém, muito menos a Comunidade! Mas ali Deus, pelas mãos do Divino Semeador, plantou uma sementinha em meu coração. Foi uma sementinha bem pequena, do tamanho de um grão de mostarda, caiu em terras bem áridas, quase infértil, cheias de espinhos e pedras. A sementinha só precisava de uma gota de amor para germinar.
Dois anos depois dessa experiência, no ano de (2022), eis que eu navego para águas mais profundas na mais louca e lúcida experiência da minha vida. Me inscrevi para ser voluntária em Chaves, retornando para as terras marajoaras, servindo no Espaço de Paz por um período de 6 meses. Esse foi o tempo que combinei com a missão e com a minha família, só não imaginava que Deus tinha outros planos.
“Ele usou de suas vias, bem diferente de todo mundo, para que eu sentisse a Sua misericórdia”, Taíres Azevedo
Quando embarquei, no dia 23 de março, eu não fazia ideia de como seria, mas no meu coração existia uma paz e uma confiança sobrenatural de que aquela era a vontade de Deus. Era um misto de sentimentos, o frio na barriga de deixar tudo, mas ao mesmo tempo um abandono de não querer olhar para trás e só seguir. E no meu coração ressoava uma frase, do Moysés Azevedo (fundador da Comunidade Shalom), que uma irmã da Comunidade me mandou uma vez e eu escrevi no espelho do meu quarto até embarcar em missão: “A nossa felicidade está em corresponder aos planos de amor de Deus.” No meu coração eu só desejava buscar essa felicidade e fazer a vontade de Deus.
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O começo da descoberta
Quando eu cheguei em Chaves, na casa comunitária, foi engraçado pois tive a sensação de já conhecer tudo, me sentir em casa, apesar de até então não ter conhecido o carisma e a Comunidade, apenas tive o contato durante a Expedição. E aos poucos fui entrando no ritmo da missão, vivendo o ordinário da Comunidade de Vida, conhecendo melhor o Carisma e entendendo a loucura que tinha embarcado. Muitas pessoas me perguntavam se eu já era da Comunidade antes de Chaves, pois eu era a cara do Shalom e eu respondia que não. Muitos me confundiam até com postulante, sendo que eu nem fazia ideia do que era. E foi surgindo em mim uma resistência ao Carisma, pois ao mesmo tempo que as pessoas enxergavam em mim essa identificação eu ia rejeitando, por não conhecer. Mas fui sendo introduzida e imersa!
Quando me inscrevi para ser Voluntária do Espaço de Paz o meu único intuito era servir, amar e ajudar com meus dons. Mas, Deus tinha outras intenções, Ele usou dessa minha disposição como pretexto para de fato me gerar para uma nova vida, me mostrar qual a minha vocação, o valor da minha vida. E fui entendendo isso aos poucos. Quando completaram 6 meses de voluntariado eu não hesitei em pedir para ficar mais tempo até completar um ano. Minha família não gostou muito da ideia, mas respeitaram.
E eis que chega o final do voluntariado, tempo de retornar para casa. A notícia veio junto com uma crise, pois no meu coração eu não tinha completado meu tempo de missão, não queria voltar, não era hora. Foi então que eu pedi para permanecer por mais 1 ano (eram 6 meses, lembra?) Eu gostaria de fazer experiência na comunidade. Pedi então para ingressar no Vocacional e ficar como Jovem Missão. Não fazia ideia direito de como seria, mas Deus foi me conduzindo e confirmou o meu desejo.
Chamado a ser profecia
E nesse ano de 2023, como Vocacionada e Jovem Missão (pois fui aceita viu) fui me abandonando na vontade de Deus, fui entendendo qual o meu chamado, o meu lugar no mundo e fui vendo que eu nasci missionária, Deus me fez assim, minha vocação é amar, sempre foi. Fui tendo vários sinais e orações que foram confirmando minha eleição, meu chamado. No dia a dia fui descobrindo e me realizando. Ao ofertar meus dons, eu sou plenamente feliz. Por várias vezes me peguei refletindo no café da manhã, onde estamos no silêncio da manhã, e ao contemplar aquele momento ia me emocionando. A vida comunitária para mim é onde eu amo e sou amada e me santifico nos meus irmãos.
Durante uma oração no Retiro de Aprofundamento do Vocacional Deus falava para mim: “no mundo você é só uma pessoa boa, mas Eu te quero santa.” E depois desse dia eu não tive mais dúvidas do meu chamado.
Na oração da equipe de fraternidade pelo meu aniversário deste ano (14/09 – Dia da Exaltação da Santa Cruz, que por sinal o tema do Vocacional 2023 é: atraídos pela Cruz, ungidos pelo Espírito, eis-me aqui.) Deus falava: “A vida da Taíres é uma profecia para esse tempo. Se coloca entre Deus e o povo. Deus faz dela uma profecia para o Carisma e para o mundo.”
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Durante o Retiro Final do Vocacional o pregador foi lendo um trecho da Revista Escuta onde Deus nos chama para “sermos profetas no mundo de hoje”. Teve também uma moção no retiro: “tua vida para a humanidade” e ao proclamarem eu só chorava, pois eu já sabia que a minha vida não é mais minha e sim para a salvação dos meus, para a salvação da humanidade, de um povo que sofre e geme com dores. A passagem de Rm 8, 18-24 lateja no meu coração, de pensar que almas talvez só serão salvas depois do meu sim.
Tocar no Ressuscitado que passou pela Cruz
Ainda sobre o meu Retiro Final do Vocacional eu fui tendo uma experiência muito forte com Tomé, Apóstolo de Cristo. (Jo 20, 24-31). Tomé já era o discípulo escolhido, eleito por Deus, o apóstolo, mas Tomé era também fraco, pecador, tinha suas resistências. Morando com seus irmãos em comunidade ele vai tendo novas experiências com o amor de Deus. Eis que Cristo ressuscita, e por providência Tomé não estava presente na primeira aparição. Pois, Deus tinha outra via para a conversão de Tomé. E Jesus em sua misericórdia, com seu amor bondoso e irrevogável, pois sabia das resistências de Tomé, aparece para ele que se converte na mesma hora: “Meu Senhor e meu Deus!”. Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz aparece novamente apenas para salvar Tomé e chamá-lo pelo nome, para mostrar o Seu amor misericordioso por cada um, que Ele ama de forma muito pessoal e única. Jesus foi o Pai que Tomé precisava para se converter, ali ele tocou nas chagas da ressurreição, no amor e na misericórdia de Seu Pai. Tomé confirma sua eleição.
E eu fui olhando para minha trajetória, e vendo essa misericórdia do Senhor por mim, a insistência da minha eleição para segui-lo. Ele usou de suas vias, bem diferente de todo mundo, para que eu sentisse a Sua misericórdia. Como Tomé, eu precisei tocar de fato nas chagas de Cristo Ressuscitado, em Seu lado aberto para me converter. Eu tive que tocar na vida das crianças, dos pobres de Chaves, nas dores desse povo para ver a face de Cristo e entender a minha eleição, o meu chamado, a minha vocação.
Hoje eu sei que Deus me trouxe para Chaves para ofertar a minha vida não somente por 6 meses, mas sim, gastar a minha vida para sempre, em favor de uma humanidade que sofre. Até o céu!
A vontade de Deus é a nossa felicidade!
Ofertar a vida de uma forma tão radical, uma violência tão grande de coração, em pensar que agora as minhas raízes são a igreja, o carisma, os valores dos meus que carrego em meu coração. Há cada missão ganharei mais uma família com pessoas que irei conhecer e logo chamá-los de irmãos, amigos, uma nova casa, uma nova terra de missão e um povo. Meu Senhor e meu Deus! Tudo se faz novo para uma grande oferta de vida. Se doar, apenas. Desprender-se de si para uma vocação, para a vontade de Deus e por amor. Não mais viver pelas minhas vontades e pelos meus prazeres, mas gastar a minha vida para a salvação de um povo que sofre, que precisa do meu sim, uma humanidade que precisa mais da minha vida do que eu mesma. Minha vida é para eles, para aqueles que choram.
“Só um coração ferido daquele amor de esponsalidade com Deus e com a humanidade pode abandonar-se ao Espírito, deixando todas as suas seguranças. Sim, é preciso deixar todas as seguranças! Não é fácil. Mas indispensável e necessário para o tempo de Deus e para desposarmos a humanidade, consolarmos a humanidade. Deixar todas as nossas seguranças e, dependendo uni- camente da misericórdia de Deus, se deixar jogar longe pelo Divino Arqueiro!” (Revista Escuta 2022 – pág 170)
Que alegria é descobrir a vontade de Deus para nós. Descobrir para que nós viemos ao mundo, qual a nossa vocação, a nossa missão, qual o sentido da nossa vida.
É na doce vontade de Deus para nós que descobrimos a verdadeira alegria de viver aqui para o céu. A vontade Dele é a nossa alegria! Só seremos plenamente felizes quando o nosso coração estiver disposto a corresponder aos planos de amor de Deus para nós.
“O jugo de Deus é a vontade de Deus, que nós acolhemos. E esta vontade não é para nós um peso exterior, que nos oprime e nos tira a liberdade. Conhecer aquilo que Deus quer, conhecer qual é a via da vida (…). Esta é, também, a nossa alegria: a vontade de Deus não nos aliena, nos purifica – talvez em modo também doloroso – e assim nos conduz a nós mesmos.” (Bento XVI – homilia da Missa de início do Ministério Petrino)
Eis-me aqui Senhor, para viver a Sua feliz vontade para mim neste tempo! Shalom.
Taíres de Souza Azevedo (30 anos)
Jovem em Missão de Chaves-PA
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