Pedro Subtil de Paula
Quase dois milhões de jovens caminha para um único encontro. Diferentes nacionalidades, idiomas, culturas. São variadas as maneiras de se vestir, de pensar e de falar. Neste ano, uma artéria pulsou mais forte no coração de Cracóvia, fazendo jorrar uma fonte de vida para as almas. Nossa igreja é viva! Ela acolhe a todos, e todos cabem dentro dela.
A Jornada Mundial da Juventude, que nasceu do coração de São João Paulo II, reuniu milhares de jovens aos pés do nosso Papa Francisco. Essa foi a minha quarta JMJ. Estive antes na Alemanha, na Austrália, no Brasil, e agora na Polônia. Admito que estava me sentindo um tanto velho para permanecer com essa proposta, e talvez por isso a mensagem do Papa que mais me atraiu foi aquela em que ele disse: “Não quero ofender ninguém, mas me entristece encontrar jovens que parecem “aposentados” aos 25 anos. Isso me entristece”.
Essas palavras ecoaram profundamente em meu coração. A cada jornada, Deus nos reserva experiências únicas e memoráveis, renovando nossas forças. Completei 30 anos de idade dentro do Santuário da Misericórdia e percebi que não havia outro lugar onde quisesse estar. Neste ambiente, percebi o quanto minha vida tem sido transformada por meio de uma mudança em relação a minha visãode Deus.
Eu colocava muitos limites à misericórdia, porque acreditava que nem todo pecado era bem vindo diante da presença de Deus. Mas o próprio Deus veio me ensinar que, embora Ele não compactue com o pecado, Ele é capaz de nos acolher com tudo o que nós temos e somos.
Esse entendimento do amor misericordioso de Deus, que me acompanhava de modo parcial, tornou-se muito mais pleno, tendo como cume a Jornada Mundial da Juventude. Trouxe uma transformação pessoal, porque, ao compreender um pouco mais a infinidade e amplitude da divina misericórdia, que a todos inclui, torno-me capaz de transformar também o meu relacionamento comigo mesmo e com os outros.
Durante a JMJ, tive a oportunidade de fazer minha oração pessoal diante dos restos mortais de Santa Teresinha do Menino Jesus, a quem há muitos anos entreguei minha vocação. Mais tarde, fiz meu estudo bíblico com uma relíquia de Santa Maria Madalena, aquela que bebeu dessa misericórdia, quem disse “Raboni” e foi a primeira a testemunhar a Ressurreição. Pude imaginá-la a nos ensinar sobre o amor misericordioso e me senti novamente transformado.
Ainda nesta jornada de aprendizados e descobertas, cheguei à cidade de Assis, um lugar absolutamente impressionante e capaz de conduzir nossos corações a um mergulho espiritual. Enquanto estava diante do túmulo de São Francisco de Assis, envolvido na paz daquele santo que optou por Deus de forma tão radical e profunda, fiz minha oração com o estudo bíblico que, naquele dia, era justamente a Palavra que nos traz a declaração do amor misericordioso do Pai com seus filhos.
Em meio às construções medievais, estive a refletir também sobre minha vocação. A Comunidade Shalom foi convidada a participar da JMJ e a organizar coisas que, considerando o nosso tamanho, era de se esperar que não fosse lembrada. Somos tão pequenos se comparados ao tamanho da igreja católica! Mas, ao contrário: ficou evidente que Deus tem muitos planos para nós. É a força de um chamado! Ser Shalom, ser vida ofertada, ser amor esponsal em meio a multidões, é um sentimento indescritível. Que honra, para mim, poder portar e trazer o carisma para o mundo inteiro.
Embalado por essa atmosfera, tive minha experiência mais forte da viagem. Foi no jardim de roseiras sem espinhos onde pude tocar o divino. A história relata que uma noite, sentindo grandes dúvidas e tentações, São Francisco de Assis se jogou sobre as roseiras, mas, ao tocar a pele do santo, as rosas perderam os espinhos. Isso me mostrou quão insonhável é o nosso Senhor, que ama a todas as suas criaturas, sem distinção e sem limites. Porque Deus não tem espinhos.