A programação foi de 100 a 0 em minutos. Estava com viagem marcada para reciclagem e, de repente, os planos mudaram completamente. A dúvida era: por quê? E todo investimento financeiro, organização, malas prontas, caronas, hospedagens, contatos… e não viajar mais! Era um retiro espiritual! Não seria vontade de Deus não ir? Seria irresponsabilidade ir?
Lembrei-me do que alguém já disse: a vontade de Deus se revela nas circunstâncias. Rezei, consagrei a Nossa Senhora, refiz os contatos, reagendei, desfiz os planos todos, o dever me chamou.
Entendi que uma vocação carismática é encarnada nos estados de vida. Se não há vivência fiel em um sacerdote que não corresponde seu chamado administrando os sacramentos; se não há fidelidade em um celibatário que foge da oração e da caridade em vista do seu próprio gosto; não há fidelidade, nem espiritualidade concreta, nem sementes de eternidade em, sendo casado, renunciar a presença no seio familiar diante do sofrimento, da enfermidade, da necessidade de proteção.
Afinal, sou Shalom quando sou pai e esposo. Sou Shalom quando na correria do dia a dia luto pra ser fiel a oração ou quando minha oração consiste em ninar um dos meninos doentes depois de um dia de trabalho. Sou Shalom quando não consigo acordar cedo pra rezar porque passei a noite em “vigília” ao pé da cama de alguém. Sou Shalom quando estou correndo no corredor do Centro de Evangelização atrás das crianças enquanto gostaria de anotar as formações.
Minha crise às vezes era me perguntar do que adiantaria ir à missa se não prestava atenção, ir para a célula se mal rezava, ou mesmo quando não conseguia ser fiel as minhas práticas espirituais por conta de dias difíceis. A resposta veio com meu filho de quatro anos preparando um altar para a fazer oração pessoal; com meu Gabriel de dois anos perguntando que horas íamos à missa. Ou ainda no Esposo Eucarístico que me ama na missa quando em meio a tudo, ouço o Evangelho e a homilia atento, misteriosamente.
Não há contradição em não poder viver algo da vocação agora porque a minha missão pessoal me chama. Há contradição sim, em não viver minha vocação pessoal fugindo do que seria meu dever por trás das cortinas da “fidelidade” absoluta, onde não há amor, mas esterilidade.
Ontem quando estava na emergência e minha filha mais nova vomitou três vezes (uma delas engasgou na maca durante o exame) e eu precisei falar forte e firme com a profissional de saúde que queria continuar tirando o sangue para o exame enquanto ela regurgitava, eu entendi claramente: Era aqui onde eu deveria estar!
Quando via os olhos aflitos de minha esposa me perguntando se estava tudo bem, e mesmo incerto e preocupado, sorria e dizia: “Tá tudo bem! Vai dá certo!” Ali era a vontade de Deus pra mim!
A reciclagem… foi remarcada! A graça de hoje é derramada enquanto estou em casa!
Heraldo Lima, esposo de Anne e pai de Gabriel, Davi e Gianna
Postulante da Comunidade de Aliança.
Seu testemunho vem ao encontro dos meus anseios.
Gratidão!
Belíssimo testemunho. Deus abençoe sua família e vocação
Seu testemunho de esposo e pai é exemplo pra mim como homem, esposo e pai. Família que amamos.