Sempre gostei muito de ciências quando pequeno e, logo depois, a biologia se tornou pra mim a matéria mais interessante de todas. Me despertava muita curiosidade a vida, os animais, o corpo humano. Sempre me perguntava coisas como, por exemplo, por que precisávamos comer? Por que precisávamos respirar? As respostas óbvias como “porque precisamos de energia e oxigênio”, não me satisfaziam… Queria entender o que havia além disso!
Chegado o momento da decisão do vestibular, escolhi o curso de Ciências Biológicas, mesmo não sendo, de modo geral, um curso valorizado no Brasil. Eu trazia da infância um entusiasmo ingênuo, mas cheio de esperança, de descobrir vacinas ou tratamentos para doenças graves de que ouvia falar, em especial a Aids e o Câncer. Era assim que eu me enxergava no futuro: como um cientista, pesquisador da área da saúde (embora também me visualizasse como biólogo marinho). Ou seja, no meu caso, eu enxergava a Biologia como um instrumento para melhorar a vida das pessoas, queria ajudar, ser útil para a humanidade.
Um cientista é, antes de tudo, um observador e um curioso. Ele anseia entender, tende a fazer testes, elaborar hipóteses e explicações lógicas, descobrir mecanismos, desvendar mistérios… Ele não se conforma facilmente com informações prontas. Essa necessidade de entender, inerente ao ser humano, dotado de racionalidade, é um imenso dom que Deus nos deu, mas exatamente nesse ponto é que muitos se desvirtuam e se perdem na sua essência, rejeitando tudo aquilo que não conseguem entender, explicar ou provar, através de métodos meramente experimentais.
Quando passei no vestibular, tive medo de ter minha fé abalada, minha relação com Deus, afinal, lamentavelmente, a profissão de biólogo é uma das que possui maior índice de ateísmo.
Felizmente, aconteceu exatamente o contrário comigo. Já tinha começado um caminho de amizade e intimidade com Deus quando ingressei na universidade. Lá me encantei ainda mais com a biologia e com a beleza e complexidade da vida. Era impressionante ver a perfeição de tudo!
Cada enzima, cada reação bioquímica, cada evento molecular altamente regulado e coordenado, os ciclos da matéria, os feedbacks positivos e negativos tão importantes na regulação do corpo humano, as interações e as relações ecológicas, o perfeito encaixe de animais polinizadores nas flores, os mecanismos de dispersão das plantas, a plasticidade adaptativa dos seres vivos, a própria evolução que sim, é um dom de Deus e que continua acontecendo até hoje…
De fato, cheguei à conclusão pessoal de que a evolução foi a ferramenta que Deus utilizou e ainda utiliza na Sua criação (conclusão considerada absurda para uma grande parte dos biólogos; para mim, nada mais plausível). Tudo que encontrava e descobria, só me fazia amar mais a vida, valorizá-la… Encontrava Deus em cada aprendizado, em cada observação microscópica, em cada leitura sobre o DNA, em tudo, a cada dia! Como não ver Deus em tudo aquilo? Me fazia essa pergunta a todo instante!
Nunca esquecerei de uma aula prática de embriologia na qual pudemos observar ao microscópio, em tempo real, a fecundação de um óvulo de ouriço-do-mar e algumas divisões embrionárias depois da fecundação (figura 1).
Foi uma coisas mais lindas que vi: a vida se desenvolver por si mesma! Não havia nada “dizendo” o que ela “tinha que fazer”, nem nada que a impedisse… A vida naquela célula única, naquele zigoto, apenas seguia seu curso. Imediatamente eu pensei: “Como alguém pode julgar que um novo ser, em qualquer fase embrionária, não seja vida? Depois do que vi, isso não faz sentido nenhum pra mim! Também nós adultos, com um corpo formado e maduro, já fomos apenas uma célula única. Depois daquele dia, eu não poderia nunca, mesmo que não fosse cristão, ser a favor do aborto! Sou biólogo! Respeito, amo, estudo e protejo a vida!
A ciência ainda não descobriu tudo e com certeza nunca descobrirá porque a vida é um mistério, Deus é um mistério muito maior e mais complexo do que o nosso cérebro humano, imperfeito e limitado. Fiz graduação, mestrado e doutorado e ainda continuo estudando e pesquisando. Quanto mais eu aprendo, quanto mais estudo, maior a certeza de que nada sei, de que sou apenas uma pequena peça nesse quebra-cabeças infinito que Deus criou, colocou Sua marca e escondeu as peças na natureza, nas criaturas, nas pessoas, nas relações, na evolução, no mundo natural e no sobrenatural.
Rezemos por todos os biólogos nesse dia e peçamos a Deus que derrame Suas bênçãos, Sua sabedoria e, em especial, o dom da fé sobre todos os que tiram seu sustento e dedicam sua vida (alguns até em situações de alto risco) nesta profissão tão bela para pesquisar, ensinar, conservar e proteger a biodiversidade, os ecossistemas e a VIDA!
Obs: as informações nesse texto dizem respeito à opinião e experiência pessoais do autor, que não se baseou em textos ou metodologias científicas, mas em experiências de cunho pessoal e espiritual.
Augusto César