Quando vi este filme na locadora me encantei pela arte gráfica e logo me chamou a atenção, mas não tinha ideia da bela história cristã que estava em minha frente.
Sinopse:
Em pleno século IX, Brendan, um jovem de 12 anos de idade, vive no mosteiro de uma remota vila medieval que está sob o cerco de invasões bárbaras. Ele recebeu a importante e misteriosa missão de concluir e apresentar para o mundo o mais fantástico dos livros, o chamado Livro de Kells.
Este é o típico filme que deve ser visto com uma certa preparação antes, para saber exatamente em que estamos nos metendo. Não é incomum alguém olhar o jovem Brendan e ligar imediatamente a sua imagem aos monges, e ainda que ele não seja um (talvez pela sua idade), está rodeado de vários. Mas como esses monges podem ter relação com o mundo das fábulas.
Em verdade toda a parte “mística” somente ocorre com o rapaz, e por certo se trata de sua imaginação, mas em momento algum tira a riqueza que não está dita, embora a cada traço esteja muito aparente. Toda a parte gráfica (que um amigo disse lembrar a arte do desenho Kim Possible, da Disney) foi baseada em uma bela peça de arte sacra, conhecido como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval: o Livro de Kells.
Escrito em latim, o Livro de Kells contém os quatro Evangelhos do Novo Testamento, além de notas preliminares e explicativas, e numerosas ilustrações e iluminuras coloridas.
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Os quatro evangelistas no Livro de Kells
Um escrito do século XII, Giraldus Cambrensis (Geraldo de Gales), descreve na sua famosa Topographia Hibernica, um grande livro evangélico que havia admirado em Kildare, nas proximidades de Kells, e que supõe-se seria o Livro de Kells. Ele assim descreveu:
Este livro contém a harmonia dos Quatro Evangelistas buscada por São Jerônimo, com diferentes ilustrações em quase todas as página e que se distinguem por cores variadas. Aqui podeis ver o rosto de majestade, divinamente desenhado, aqui os símbolos místicos dos evangelistas, cada um com suas asas, às vezes seis, às vezes quatro, às vezes duas; aqui a águia, ali o touro, lá o homem e acolá o leão, e outras formas quase que infinitas. Se observadas superficialmente, com um olhar rápido, pensareis que não são mais do que esboços, e não um trabalho cuidadoso. A mais refinada habilidade está toda ela ao seu redor, mas poderíeis não percebê-la. Olhai com mais atenção e penetrareis sem dúvida no coração da arte. Discernireis complexidades tão delicadas e sutis, tão cheias de contornos e de ligações, com cores tão frescas e vivas, que poderíeis deduzir que tudo isto é obra de um anjo, e não de um homem.
Pelas imagens que se tem do Livro de Kells, se pode chegar à conclusão de que é o mesmo livro mencionado por Giraldus.
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Cristo no Livro de Kells
Em uma das mais belas passagens do filme o Irmão Aidan diz para o jovem Brendan:
O Livro nunca foi concebido para ser escondido atrás de paredes, trancado longe do mundo que inspirou a sua criação. Você deve ter o livro para o povo, para que eles possam ter esperança. Deixá-lo iluminar o caminho nestes dias sombrios.
Veja que não estamos falando de um livro qualquer, mas de uma obra de arte que contém os quatro Evangelhos do Novo testamento, e é a palavra de Deus que vai iluminar o caminho da pessoas.
O filme também faz referência à mitologia celta (citando por exemplo Crom Cruach, uma divindade irlandesa pré-cristã) e ao gênero poético de Aislings, em que um poeta é confrontado por um sonho ou visão de um vidente, no nome do duende da floresta encontrada por Brendan. No entanto, toda esta mitologia se rende à Boa Nova, à mensagem que é capaz de mudar o mundo, ao próprio Deus.
O título no Brasil faz referência às fábulas (o título original é Brendan and the secret of Kells) e veio bem a calhar, pois fala especificamente deste momento de fantasia em que se envolve o jovem Brendan, mas tudo se dissipa diante do grande Livro e sua mensagem.
Este filme concorreu ao Oscar de 2010 na categoria de Melhor Filme de Animação (vencido por Up – Altas Aventuras), e teve ótimas recomendações da crítica especializada, além de ter recebido uma bela menção no L’Osseervatore Romano quando se aproximava a disputa do Oscar.
É uma animação que as crianças talvez não aproveitem tanto quanto os adultos, mas vale a pena ser visto porque nos reforça a ideia de que não se deve medir esforços para o anúncio do Evangelho, e nos pede o melhor que podemos fazer. Que possamos ser novos Brendans, que mesmo vivendo o lúdico não desistiu do essencial.
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Por: André Brandalise