O filme de Eran Riklis, baseado no livro “A Woman in Jerusalem” de A.B. Yehoshua, é uma comédia que cobre – emocional, geográfica e culturalmente – um largo território. A história se situa na vida cotidiana em Israel, mas também apresenta o contexto de um país do leste europeu que passou pelo comunismo (o filme não menciona qual, mas as gravações foram na Romênia).
Ri e me diverti ao assistir o filme, mas além do bom humor o que mais me encantou foi a humanidade do gerente de RH: um homem comum que fez, sem querer, seus erros ao longo da vida; porém, é sincero consigo mesmo e por isso, diante o drama que o filme narra, tenta fazer as escolhas justas sobre as soluções fáceis – o dilema de todo ser humano: de fazer o bem pelo caminho tortuoso ou de ir pela estrada curta.
Em nenhum momento do filme o gerente se apresenta como judeu praticante. Aliás, a única religião explicitamente apresentada é a Católica Ortodoxa. Entretanto, o desejo de solucionar com dignidade o caso, respeitando a memória da vítima, é justo e, por isso, ainda que não exista no personagem um relacionamento direto com Deus, este esforço retrata a vontade do homem de, em suas ações, servir a Deus.
“Nenhuma sombra de erro e de pecado pode eliminar totalmente do homem a luz de Deus Criador. Nas profundezas do seu coração, permanece sempre a nostalgia da verdade absoluta e a sede de chegar à plenitude” (Papa João Paulo II – Veritatis Splendor).
A História
Israel, como todos os outros países desenvolvidos e de forte economia, atrai imigrantes dos mais diferentes perfis. Por esta razão, Yulia Ragayev sai de seu país – ainda marcado pelo passado comunista – em busca de algo melhor para si. Ela vai ate Jerusalém e ali encontra trabalho numa fábrica de pão. Yulia não é judia nem fala hebraico, mas se incorpora a sociedade israelense e faz sua vida aí… Ela e o chefe se tornam amigos e ele se apaixona por ela; e a esposa deste, com ciúme, a faz perder o emprego. O chefe a despede, entretanto, por não querer prejudicá-la, a mantém no contracheque.
Em um dos dias que Yulia retirava o pagamento, uma bomba suicida explode no ônibus em que estava e mata todos os passageiros.
Yulia vivia sozinha em Jerusalém e não tinha ninguém para clamar por seu corpo, a única identificação que a polícia israelense encontra é o contracheque da empresa que levava consigo. Assim, o gerente de RH é envolvido no caso e a companhia de pão acusada pela sociedade de indiferença à tragédia de Yulia.
Para consertar a imagem da empresa, o gerente de RH recebe a missão de informar a família de Yulia e enterrar a vítima. Com isso, à ele é dado a opção de tomar o caminho diplomático – rápido e curto – ou de realmente fazer a coisa certa – o que lhe cabe somente como pessoa, não como gerente de RH.
São as situações que se desenlaçam desta escolha – os problemas, a bondade, os conflitos e o companheirismo – que tornam a história tão verossímil e traz, além disso, o dilema que todo ser humano passa: o de tomar o caminho curto e fácil (de fazer somente o requerido para manter as aparências) ou de percorrer a estrada longa (que às vezes custa a boa imagem) para autenticamente fazer o bem.
Thatiane Locatelli
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