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Discurso do Papa Bento XVI aos cardeais

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Neste sábado, terceiro dia de Pontificado, Sua Santidade, o Papa Bento XVI reuniu-se com todos os cardeais, que ainda em Roma aguardam a Missa de inauguração do Pontificado. Semprecom um discurso claro, direto, bem embasado e de fácil compreensão expressou-lhes a extrema cordialidade que lhes considera e pontos importantes para o Sacro Colégio dos Cardeais. A eles dirigiu as seguintes palavras:

Venerados irmãos cardeais!

1. Volto a me encontrar hoje convosco e quero compartilhar de maneira simples e fraterna o estado de ânimo que estou vivendo nestes dias. Às intensas emoções experimentadas por ocasião da morte de meu venerado predecessor, João Paulo II, e depois durante o conclave e sobretudo em seu epílogo, unem-se uma íntima necessidade de silêncio e um vivo desejo do coração de dar graças e um sentido de impotência humana ante a grande tarefa que me espera.

Antes de tudo a gratidão. Sinto, em primeiro lugar, o dever de agradecer a Deus, que me elegeu, apesar de minha fragilidade humana, como sucessor do apóstolo Pedro, e me confiou a tarefa de reger e guiar a Igreja, para que seja no mundo sacramento de unidade para todo o gênero humano (Cf. «Lumen gentium», 1). Estamos seguros, o Pastor eterno guia com a força de seu Espírito seu rebanho, oferecendo-lhe em cada momento, pastores eleitores por Ele. Nestes dias, elevou-se a oração conjunta do povo cristão pelo novo pontífice e foi realmente emocionante o primeiro encontro com os fiéis, na terça-feira passada pela tarde, na praça de São Pedro: que chegue a todos, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, jovens e anciãos, meu sincero agradecimento por esta solidariedade espiritual.

2. Sinto o dever de dirigir um vivo agradecimento a cada um de vós, venerados irmãos, começando pelo senhor cardeal Angelo Sodano que, ao fazer-se porta-voz dos sentimentos de todos, acaba de me dirigir seus afetuosos e cordiais desejos. Junto a ele, agradeço o senhor cardeal camerlengo, Eduardo Martinez Somalo, pelo serviço que ofereceu com generosidade nesta delicada fase de transição.

Desejo estender, também, meu sincero reconhecimento a todos os membros do Colégio Cardinalício pela colaboração ativa que ofereceram à gestão da Igreja durante a Sé vacante. Com particular afeto, quero saudar os cardeais que por motivos de idade ou enfermidade não puderam participar no conclave. A cada um agradeço pelo exemplo que deram de disponibilidade e de comunhão fraterna, assim como por sua intensa oração, expressões ambas de amor fiel à Igreja, esposa de Cristo.

Não posso deixar de expressar um sentido agradecimento aos que, com diferentes tarefas, cooperaram na organização e o desenvolvimento do conclave, ajudando de muitas maneiras os cardeais a transcorrer da maneira mais segura e tranqüila estas jornadas de grande responsabilidade.

3. Venerados irmãos, dirijo-vos meu mais pessoal agradecimento pela confiança que me haveis depositado ao eleger-me bispo de Roma e pastor da Igreja universal. É um ato de confiança que constitui um alento a empreender esta nova missão com mais serenidade, pois estou convencido de poder contar com a indispensável ajuda de Deus, assim como com vossa generosa colaboração. Por favor, não deixeis de apoiar-me! Se por uma parte sou consciente dos limites de minha pessoa e de minhas capacidades, por outra conheço bem a natureza da missão que se me confiou e que me preparo a desempenhar com atitude de entrega interior. Aqui não se trata de honras, mas de um serviço que há que desempenhar com simplicidade e disponibilidade, imitando nosso Mestre e Senhor, que não veio para ser servido mas para servir (Cf. Mateus 20, 28), e que na Última Ceia lavou os pés dos apóstolos pedindo-lhes que fizessem o mesmo (Cf. João 13, 13-14). Não nos fica mais –a mim e a todos nós juntos– que aceitar da Providência a vontade de Deus e fazer tudo o que podemos para corresponder a ela, ajudando-nos mutuamente no cumprimento das respectivas tarefas ao serviço da Igreja.

4. Neste momento, quero recordar meus venerados predecessores, o beato João XXIII, os servos de Deus Paulo VI e João Paulo I e especialmente João Paulo II, cujo testemunho nos dias passados nos apoiou mais que nunca e cuja presença seguimos experimentando vivamente. O doloroso acontecimento de sua morte, depois de um período de grandes provas e sofrimentos, manifestou na realidade características pascais, como ele havia desejado em seu Testamento (24.II – 1.III.1980). A luz e a força de Cristo ressuscitado irradiaram na Igreja a partir daquela espécie de «última Missa» que celebrou em sua agonia, culminada no «amém» de uma vida totalmente entregue, por meio do Coração Imaculado de Maria, para a salvação do mundo.

5. Venerados irmãos! Cada um regressará agora a sua respectiva Sede para reiniciar seu trabalho, mas espiritualmente permaneceremos unidos na fé e no amor do Senhor, no vínculo da celebração eucarística, na oração insistente, compartilhando o cotidiano ministério apostólico. Vossa espiritual proximidade, vossos iluminados conselhos e vossa cooperação concreta serão para mim um dom do qual sempre estarei agradecido e um estímulo para cumprir o mandato que me foi confiado com total fidelidade e entrega.

À Virgem, Mãe de Deus, que acompanhou com sua silenciosa presença os passos da Igreja nascente e confortou a fé dos apóstolos, encomendo todos nós assim como as expectativas, as esperanças e as preocupações de toda a comunidade dos cristãos. Convido-vos a caminhar com docilidade e obediência à voz de seu Filho divino, nosso Senhor Jesus Cristo, sob a maternal proteção de Maria, «Mater Ecclesiae». Invocando sua constante assistência, envio de coração a benção apostólica a cada um de vós e a quantos a Providência divina confia a vossas atenções pastorais.

[Tradução realizada por Zenit]


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